Adversário do Flamengo na final do Campeonato Carioca, o Fluminense é atualmente o grande rival rubro-negro no Rio de Janeiro. Entre altos e baixos, os comandados de Abel Braga chegam ao duelo decisivo com uma ideia de jogo clara.
Nesse sentido, vamos realizar uma análise mais aprofundada acerca do trabalho tricolor em 2022. Utilizando como base seus principais jogos na temporada – os quatro confrontos eliminatórios pela primeira fase da Libertadores e os clássicos contra Flamengo, Botafogo e Vasco pelo Estadual.
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Estrutura em Organização Ofensiva do Fluminense
Desde o início da temporada, Abel Braga deixou claro que basearia sua primeira fase de construção na presença de um volante entre a dupla de zagueiros. Felipe Melo se tornou essa peça que junto a Nino e David Braz iniciam a construção com bola do tricolor da Laranjeiras.
A dupla de volantes André e Yago Felipe normalmente ficam à frente do trio na saída de bola. Contudo possuem movimentos diferentes. Enquanto André normalmente fica mais próximo dos zagueiros, Yago se posiciona mais a frente do baixo.
Uma dinâmica muito utilizada pelo Fluminense para sair com bola é uma na qual Yago, mais avançado, recebe de costas e logo que pressionado aciona André. Induzindo uma subida de pressão do volante adversário e libertando uma região no meio de campo para ser explorado pelo setor ofensivo.
Os alas tricolores Calegari e Cris Silva normalmente trabalham mais avançados, próximos à linha dos meias. Porém podem eventualmente baixar para auxiliar a saída dos zagueiros. Assim como um dos ponteiros do trio de ataque. Normalmente o jogador mais leve, que possui uma característica menos próximas de um atacante.
Luiz Henrique por vezes buscava jogo próximo aos volantes, também prtocurando atrair seus adversários e acionar os dois atacantes em profundidade. O atacante é a principal peça ofensiva do Fluminense na temporada.
Com a lesão de Fred na partida contra o Millonarios pela Libertadores, Cano tomou a posição de atacante de referência do Fluminense. Ao lado do argentino, as principais escolhas de Abel Braga são William Bigode e Arias.
O experiente atacante fecha o lado direito do campo, porém com bola busca se aproximar de Cano próximo da área, ao invés de abrir pelo lado do campo. Já o jovem meia-atacante colombiano combina bastante movimentos em amplitude e profundidade
A importância dos zagueiros no ataque direto tricolor
Diferentemente dos zagueiros do Flamengo com Paulo Sousa, que alternam associações mais curtas com volantes pelo corredor central e mais longas buscando os alas e atacantes pelos lados campo, os zagueiros com Abel Braga buscam passes de média e longa distância com muito maior frequência.
Isso vem muito da ideia do treinador em ataque direto. Mas o que significa essa expressão?
O ataque direto é uma expressão muito utilizada em referências acadêmicas portuguesas nos últimos anos. Em resumo, seria uma outra forma de ataque em organização ofensiva: ou seja, quando a equipe possui a bola e o adversário está postado para se defender. Ao contrário dos contra-ataques, onde a equipe não está postada para trabalhar sem bola.
Enquanto o ataque posicional busca progredir com bola em associações mais curtas até encontrar uma situação de possível entrada em último terço, o ataque direto faz isso com associações de longa distância e com poucos toques na bola.
Uma característica muito comum desse ataque está no trabalho ofensivo dos zagueiros, que rapidamente buscam acionar meias e ataques em regiões próximas ao último terço para rapidamente chegarem próximos ao gol.
Um exemplo nada feliz para o torcedor rubro-negro de ataque rápido é o primeiro gol do Palmeiras na final da última Libertadores, em 2021. Em alguns segundos Gomez acionou Mayke em profundidade, que rapidamente encontrou Raphael Veiga em condição de finalização na área rubro-negra.
Nesse sentido, o trio de zaga tricolor busca com muita frequência encontrar William e Arias, seja com passes rasteiros ou aéreos, de modo a rapidamente se associarem a Cano próximo da área.
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Movimentos de ruptura dos volantes após acionamento dos atacantes
O acionamento de forma mais direta dos atacantes no último terço pelos zagueiros, induz um outro movimento: o ataque em profundidade dos volantes. Quando Arias ou William são acionados desta forma pelos zagueiros, eventualmente induzem a marcação adversária. Rapidamente após receber o passe, Yago Felipe ou André buscam atacar esse espaço gerado por um dos dois atacantes para atacar a profundidade.
A dupla de volantes tricolor tem uma importância grande para que o Fluminense consiga ter eficiência quando entra em ataque rápido. Seja para serem eles próprios acionados em zona de finalização, como para assistirem o atacante do outro lado do campo ou o próprio Cano.
Alas trabalham de forma diferente com Abel Braga
Como já dito, os alas tricolores buscam normalmente se posicionar mais próximos dos meias e atacantes. Contudo a dupla possui características com bola diferentes. Enquanto Calegari participa mais da construção ofensiva junto com o trio de zaga, Cris Silva é uma opção de profundidade que vai mais a frente no campo. Essa movimentação diferenciada tem muito a ver com a escolha dos ponteiros.
Quando tinha a opção de Luiz Henrique e agora com Arias pelo lado direito, o ala não precisa fazer movimentos tão longos a linha de fundo pela presença de um atacante no setor. De modo que participam da construção se associando com os volantes no setor.
Já pela esquerda, com a constante utilização de William, o Fluminense não possui uma opção de profundidade pelo lado esquerdo dado as características do jogador. Assim, Cris Silva precisa ser esse homem mais avançado para gerar volume ofensivo a equipe.
Apesar das tendências, também é possível enxergar em alguns momentos Calegari mais avançado e Cris Silva mais próximo da 1ª e 2ª fase de construção.
As tradicionais transições ofensivas de Abel Braga
Após abordar sobre alguns mecanismos em organização ofensiva, vamos falar sobre as transições ofensivas do Fluminense, ou seja, o período em que a equipe retoma a posse de bola e encontra seu adversário desorganizado.
Diferentemente do Flamengo, que varia transições rápidas buscando o gol com a retenção da posse de bola buscando se organizar no ataque, a equipe de Abel Braga majoritariamente busca os contra-ataques.
Assim que consegue retomar a bola, os ponteiros são acionados buscando rapidamente atacar seu oponente. Pelo lado direito, Arias e Luiz Henrique conseguem realizar esse movimento com bola e acionar seu companheiro próximo ao gol. Pelo lado esquerdo, William precisa da ajuda de Pineida.
Os problemas ofensivos do Fluminense
Já falamos bastante das ideias que Abel Braga busca projetar no Fluminense com bola, agora vamos falar dos problemas da execução desta ideia. O principal deles hoje está na dificuldade do tricolor das Laranjeiras para sair com bola.
O problema já vinha acontecendo com Felipe Melo, mas se agravou com a ausência do volante de origem nas semifinais do Carioca contra o Botafogo. Quando o trio é pressionado de forma mais agressiva pelo adversário, com dois ou três jogadores, a equipe tem uma dificuldade muito grande para entrar em ataque rápido.
Abel vem tentando mitigar este problema utilizando os volantes e os alas mais próximos do trio para sair com bola, porém isso gera um outro problema: a equipe perde jogadores próximo do gol adversário. Além de ter uma posse pouco objetiva, rodando a bola pelos lados e com pouca verticalidade.
O fato de a dupla de volantes ter muitas dificuldades para receber de costas dos zagueiros faz com que seja necessário o auxílio dos alas e consequentemente o esvaziamento de jogadores nas áreas mais avançadas do campo.
Sem a presença de um “camisa 10” de ofício, a equipe não tem um homem capaz de gerar associações curtas com mais facilidade, buscando encontrar companheiros livres no último terço.
Ganso pode ser uma opção?
O meia formado no Santos e que surgiu no início da última década como grande craque do futebol brasileiro vem ganhando minutos com Abel Braga. Dos principais jogos da temporada, Ganso só iniciou contra o Vasco e fez um grande jogo. A presença do jogador concede a equipe mais capacidade da equipe trabalhar em ataque posicional.
O meia entrou no segundo tempo das duas semifinais contra o Botafogo e agregou positivamente a equipe com bola. Sendo opção de jogo tanto próximo aos zagueiros quanto no entrelinhas. É uma possível “carta na manga” de Abelão para o decorrer do duelo.
Balanço Geral do Fluminense com bola
Retomando a avaliação do Fluminense utilizando como base os principais jogos da equipe em 2022, foi possível analisar que a equipe conseguiu gerar volume de jogo e ser agressiva nas partidas contra Olimpia, Vasco e Millonarios atuando no Brasil. Enfrentando paraguaios e colombianos fora do país, o comandados de Abel tiveram muita dificuldade para construir ofensivamente.
Seja pela posse inócua, mas principalmente pela pressão adversária na saída de bola. Nas transições ofensivas obteve sucesso nos momentos em que enfrentou seus rivais sul-americanos na Libertadores em desvantagem. Porém faltou eficiência para transformar as chances em gol, em especial no Paraguai, onde deu fim sua trajetória na Libertadores.
Projetando o duelo contra o Flamengo, é bem possível imaginar o Fluminense de Abel Braga com dificuldade para sair com a bola, devido a pressão que os atacantes rubro-negros buscam exercer nos zagueiros adversários. Nas transições, Arias tentará suprir a ausência de Luiz Henrique para agredir o Mais Querido em contra-ataques.
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