Primeiro é preciso deixar claro que, por mais que coaches, terapeutas motivacionais e postagens de rede social possam te dizer o contrário, não existe necessariamente uma relação direta entre se esforçar numa coisa e ter sucesso nela. Você pode praticar algo por anos e anos e ainda assim ser ruim, você pode dar o seu máximo e ele não ser o bastante, você pode superar todos os seus limites e ainda assim falhar miseravelmente.
E um exemplo bem claro disso vem sendo a jornada, cada vez mais complexa e desesperadora, de Hugo Neneca no gol do Flamengo, que atingiu um novo abismo com o bizarro frango sofrido diante do Sporting Cristal na noite desta terça-feira.
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Porque era um daqueles jogos que não iria ficar na memória de absolutamente ninguém. Uma vitória protocolar, do líder já classificado contra o lanterna já eliminado do grupo, em uma partida que poderia ser engarrafada e vendida como remédio contra insônia, geraria apenas os mesmos comentários de sempre, sobre a dificuldade da equipe em obedecer às instruções de Paulo Sousa – no estádio você consegue ver os jogadores desesperados gesticulando uns com os outros – a constante confusão mental de Marinho ou mesmo a suspensão desnecessária de um João Gomes que talvez nem precisasse ter sido escalado.
Mas aí veio Hugo e, num chute cruzado, dificilmente considerado muito perigoso, acabou se transformando na pauta principal de uma noite em que tranquilamente poderíamos ir para a cama pensando em como Isla consegue jogar mal até mesmo na noite em que faz um gol ou como Pedro é capaz de deixar o dele logo quando está sendo cornetado.
Porque ninguém pode negar que Hugo é um jovem promissor, um goleiro que se destacou na base, que começou sua jornada no profissional chamando atenção pelos reflexos e pela frieza, mesmo ao entrar na fogueira de um time recém-campeão e que passava por um surto de COVID. Hugo, com sua altura absurda e sua envergadura de quem consegue abraçar sozinho uma Kombi, parecia sim ser o futuro do gol rubro-negro.
Mas ninguém pode também negar que a estrela de Hugo se apagou tão rapidamente quanto surgiu. Após falhas bizarras em 2021, que o colocaram no final da fila de goleiros, ganhou a titularidade com Paulo Sousa apenas para cometer falhas ainda mais bizarras, porém com a confiança de quem começa jogando e aí tem mais tempo ainda pra falhar.
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Seja por questões técnicas, seja por razões psicológicas, seja porque abriu o Necronomicon dentro de um cabana durante uma viagem e agora está amaldiçoado, a verdade é que tem ficado cada vez mais claro que Hugo não tem hoje condições de ser goleiro titular do Flamengo e nem toda confiança de todos os técnicos portugueses do mundo poderia mudar isso.
Então, pelo bem do Flamengo e até mesmo pelo bem de Hugo, é preciso pensar em soluções. Diego Alves já está em condições de atuar? Os goleiros do sub-20 parecem promissores? Marinho pode ceder algum órgão para acelerar a recuperação de Santos? Porque a verdade é que o Flamengo, um time já irregular, já cheio de problemas, não pode se dar ao luxo de ter, no seu gol, mais uma fonte de instabilidade.
E Hugo, um moleque que parece ser dedicado e apaixonado pelo Flamengo, e que visivelmente não está de sacanagem, talvez precise de uma chance em outro clube, com menos pressão, para construir uma história que fique à altura do potencial que ele vinha demonstrando. Porque passar raiva com o Flamengo vem se tornado cada vez mais normal, mas sinceramente, não precisa ser tanta raiva assim.
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