A torcida nacional do Flamengo é o principal motor da receita bilionária no clube que permitiu à gestão Landim ter sucesso esportivo nos últimos anos. Os dirigentes, porém, parecem não reconhecer isso e vivem tomando medidas contra os sócios e torcedores off-Rio.
Nessa segunda-feira (8), o Conselho Deliberativo do Flamengo, com apoio de Landim e seus vice-presidentes, manteve um limite de mil sócios off-Rio no máximo no clube. Mas este não foi o primeiro ataque da gestão Landim contra a categoria.
Leia mais: Flamengo tenta manter limite de sócios off-Rio; oposição se une para recorrer
A seguir, o MRN lembra cinco momentos em que a gestão Landim tratou os off-Rio como inimigos.
Aumento abusivo de mensalidade na pandemia
A pandemia foi um momento difícil para o Flamengo, mas também para o torcedor e todos os brasileiros. A diretoria escolheu este momento para aplicar um aumento abusivo de 165% à mensalidade do sócio off-Rio. Em outubro de 2020, o valor passou de R$ 64 para R$ 170.
Na época, a diretoria inclusive divulgou comunicado instando os sócios off-Rio que não conseguissem arcar com a nova mensalidade a “migrar para o plano de sócio-torcedor”. Ou seja, na prática instou os sócios a saírem do clube.
Isso acabou de fato acontecendo. A diretoria não anuncia números oficiais, mas a oposição trabalha com a estimativa que mais de metade dos off-Rio deixaram de ser sócios. Atualmente há cerca de 300 integrantes da categoria.
Limites de off-Rio e mensalidade cara no estatuto
Em defesa dos off-Rio, o grupo Flamengo Sem Fronteiras decidiu apresentar uma emenda ao estatuto para regularizar a categoria. Havia temor que ela pudesse ser extinta a qualquer momento por uma canetada de Landim.
Acontece que a Comissão de Estatuto do Conselho Deliberativo, controlada por aliados de Landim, adulterou a proposta e estabeleceu o limite do número de sócios que foi aplicado em 2022 e mantido ontem.
Num ataque ainda mais grave, estabeleceu no estatuto que a mensalidade do sócio off-Rio tem que ser no mínimo de 75% da do sócio contribuinte. Com isso, a mensalidade teve novo aumento e hoje chega a R$ 240.
O sócio off-Rio tem que pagar esse valor mensal mesmo sem poder visitar a sede mais do que 30 vezes ao ano.
Resistência contra voto a distância
Uma mudança na Lei Pelé em 2020 obrigou os clubes a oferecerem a modalidade de voto a distância nas suas eleições. Após esgotar as vias dentro do clube para que a mudança valesse nas eleições de 2021, o candidato Walter Monteiro recorreu à Justiça para obrigar o Flamengo a oferecer o voto a distância.
A gestão recorreu e argumentou inclusive oficialmente que os sócios de fora do Rio não tinham interesse na vida política do clube. A liminar acabou derrubada e Monteiro abriu mão de recorrer com a promessa de que o voto a distância seria analisado pelo Conselho Deliberativo ainda em 2022.
Ontem, porém, o Conselho votou mudanças nas regras eleitorais e a questão do voto a distância nem foi levada ao plenário. A Comissão de Estatuto apresentou uma justificativa bizarra de que o objetivo maior do clube é organizar reuniões. Nesse sentido, argumentou que o voto a distância contrariaria esse objetivo.
Sem prioridade para off-Rio em jogos fora
Apesar de passar por constantes reformulações e mudança de nome, o programa de sócio-torcedor do Flamengo não consegue ser minimamente atraente para o torcedor off-Rio. Isso porque na prática é um programa de prioridade de ingressos da qual o torcedor off-Rio não usufrui a maior parte do ano.
A exceção deveria ser quando o Flamengo vai jogar fora de casa no Estado desses torcedores. Deveria, porque apesar de constantes reclamações, nunca foi estabelecida uma prioridade especial que beneficie os torcedores locais em jogos do Flamengo fora do Rio. Com isso, muitas vezes em jogos grandes o torcedor local perde a oportunidade de ver o Flamengo para torcedores que vêm do Rio e têm prioridades maiores no ingresso.
Ataque xenófobo contra nordestinos da “primeira-dama”
A ofensa maior aos torcedores off-Rio veio do centro da gestão, a própria esposa do presidente Rodolfo Landim. Insatisfeita com o resultado da última eleição presidencial, ela postou em suas redes sociais um ataque aos nordestinos.
“Ganhamos onde produz, perdemos onde se passa férias. Bora trabalhar porque se o gado morre, o carrapato passa fome”, dizia a postagem de Ângela Machado.
Apesar de ter sido inclusive indiciada pela polícia por xenofobia em um processo que ainda está em andamento, a esposa de Landim mantém o cargo de diretora de Responsabilidade Social na gestão do seu marido.
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