“O Flamengo não pode se desligar da base”. Assim opina Zinho, revelado em uma das últimas grandes gerações do clube e com uma carreira recheada de títulos, o hoje comentarista da Fox fala com propriedade sobre a importância de um bom investimento nas pratas da casa. Durante um evento em Nova Friburgo/RJ, o ex-jogador concedeu uma entrevista exclusiva ao Mundo Rubro Negro e, dentre outras coisas, falou sobre o momento do Mais Querido.
Em um ano repleto de altos e baixos, poucos jogadores do elenco rubro-negro conseguiram se destacar, uma das exceções foi o meia Lucas Paquetá. O jovem jogador, de apenas 20 anos, agarrou as oportunidades dadas pelas técnico Reinaldo Rueda, assumiu a responsabilidade, não sentiu o peso do Manto e foi importantíssimo na reta final da temporada. Segundo Zinho, um jogador “maturado”.
Paquetá em ação pelo Flamengo– O Rueda terá dificuldades para tirar o Paquetá do time, deve iniciar a próxima temporada como titular –, relata.
O mesmo não se pode dizer do meia Éverton Ribeiro. Contratado para ser uma das grandes referências do elenco do Flamengo, o meia, que não teve férias na temporada passada, não conseguiu dar o retorno esperado. Para o tetracampeão, o atleta precisa de uma boa pré-temporada.
– Acredito que o rendimento dele irá evoluir, torço por isto. É um grande jogador –, afirma.
Durante o bate-papo, Zinho também falou sobre sua raiz rubro-negra, a exigência sobre o Flamengo e a expectativa para a próxima temporada. Para ele, o ano de 2017 não foi ruim, mas são necessárias mudanças para que a próxima temporada seja melhor.
Confira a entrevista completa
Carinho da torcida
Está sendo um momento diferente da minha vida, porque quando você é jogador acaba ficando muito envolvido em treino, jogo, viagens, concentração, disputa de campeonato e quando há o período de férias você fica mais com a família. Agora, como comentarista eu tenho uma flexibilidade de horário e acabo tendo este contato maior. É bacana este reconhecimento e carinho que recebemos. O do Flamengo é diferente porque eu nasci lá, desde os 11 anos de idade no clube, então concilia uma coisa da minha raiz.
A força da base
O clube sempre teve o lema de craque o Flamengo faz em casa. É importante contratar, pontualmente buscar grandes jogadores para fazer um grupo forte, mas não pode se desligar da base, é preciso dar oportunidades. Estes garotos subindo, com os experientes ao lado, acabam tendo a vida mais facilitada na transição.
Atletas vindos da base
Acho que o Paquetá já é uma realidade. Demostrou personalidade, fisicamente já está maturado, preparado para o jogo profissional. Vinícius Jr. e Lincoln precisam de uma rodagem maior, jogar um pouco mais, entrar aos poucos. Vizeu também é uma realidade, César nem se fala. São grandes talentos.
Paquetá titular?
O Rueda terá dificuldades para tirar o Paquetá do time, deve iniciar a próxima temporada como titular. Mantendo a performance vira referência. Com Flamengo conquistando bons resultados, vira jogador de seleção.
Éverton Ribeiro
Talento ele tem. Foi bicampeão brasileiro, eleito melhor jogador do Campeonato Brasileiro quando jogava pelo Cruzeiro. Saiu, foi para um mercado que fica distante do Brasil, com nível técnico e exigência física mais baixas. Então, quando ele volta, precisa se readaptar ao estilo de jogo brasileiro, mais corrido, pegado. Precisa se adaptar ao novo clube, com uma torcida exigente e grande. Ele foi para um país onde nem vai torcida para o estádio e volta para o Flamengo, com 40 milhões de torcedores. Jogando numa posição um pouco diferente da que ele vinha atuando, tendo que se adaptar para jogar com o Diego. Mas passaram estes meses iniciais, já viu a cobrança da torcida. Isso serve para ele, pro Geuvânio, Rhodolfo, Berrío etc. São vários jogadores de talento, mas que ainda estão entendendo o que é o Flamengo, como o próprio treinador. Em 2018, ele fará uma boa pré-temporada, vai se adaptar ao tipo de trabalho físico que é exigido para um bom ano. Acredito que o rendimento dele irá evoluir, torço por isto, é um grande jogador.
Ano do Flamengo
Pelo potencial, torcida, camisa e investimento que tem, concordo que o Flamengo poderia ter feito um ano melhor. Poderia, mas também não foi horrível, nem péssimo. Se formos enumerar várias coisas que aconteceram: troca de treinador – eu fui um crítico de trazer o Rueda no meio do caminho -, chegada de jogadores no meio da temporada – Éverton Ribeiro, Rhodolfo, Geuvânio, Diego Alves, não puderam jogar na Copa do Brasil -, teve o problema de contusão do Diego, a suspensão do Guerrero. Olha quanta coisa aconteceu. Diego voltou, foi se recuperando, mas não foi o jogador do início da temporada. Tudo isso contribui para que tenha esta oscilação.
Mas cada um analisa como quer. Acho que a analise para o Flamengo é um pouco mais pesada, a exigência para o clube é maior. Se fosse um outro time poderiam dizer “esta equipe não tem dinheiro, não tem opções para o treinador”… é pecado ter dinheiro para contratar? Então, Flamengo, não contrate ninguém, fique com poucas opções, porque se você perder ninguém irá cobrar. É isso?! Não. Se o time tem condições financeiras ou não tem, você precisa analisar igual, ser imparcial. Corinthians, Grêmio e Cruzeiro tiveram um ano melhor que o Fla, porque ganharam respectivamente Campeonato Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil. Depois deles, vem o Flamengo, que ganhou um Carioca invicto e chegou em outras duas finais. Chegar numa decisão é pior do que não chegar em nada? A equipe oscilou, com os jogadores que tinha era pra jogar um futebol melhor, mas aconteceram várias coisas para o futebol não ter sido brilhante. Se vence a Sul-Americana, todo mundo ia falar “foi um bom ano”. Não sou um comentarista deste tipo, não espero resultado para falar mal ou bem. Acho que foi um ano regular, poderia ter sido melhor.
Expectativa para a próxima temporada
Espero que as pessoas que comandam o Flamengo restruturem, organizem e reparem os erros deste ano, para que o clube tenha um 2018 melhor.