Flamengo e Vitória estreiam no Brasileiro neste sábado. Emmanuel do Valle conta a história vencedora do Flamengo na Barradão.
O Flamengo estreia no Brasileiro de 2018 neste domingo tendo como primeiro adversário o Vitória, no Estádio Manoel Barrradas (popularmente conhecido como Barradão), em Salvador. A missão não costuma ser tarefa das mais difíceis para o Fla, que tem retrospecto bastante favorável contra o time baiano pela competição mesmo atuando na casa do adversário. Os triunfos do Mais Querido na Bahia contra o time que também veste vermelho e preto registrados pela história dos Brasileirões são o assunto relembrado na coluna Memória Rubro-Negra desta semana.
Os seis primeiros duelos entre os dois times aconteceram na Fonte Nova e tiveram números equilibrados: duas vitórias do Flamengo (das quais trataremos adiante), dois empates (ambos em 0 a 0, em 1973 e 1989) e duas vitórias dos baianos (ambas por 1 a 0, em 1974 e 1993). Já no Barradão foram 12 jogos, com o Fla vencendo a metade deles, restando três empates e três triunfos aos donos da casa.
No blog: Sete grandes nordestinos e um Flamengo
A primeira vitória do Flamengo veio no terceiro confronto, em outubro de 1976, contra um Vitória que vinha assustando naquele Brasileiro. Comandada pelo experiente Tim, a equipe baiana elencava nomes rodados, como o goleiro Andrada (ex-Vasco) e o atacante Fischer (ex-Botafogo), ambos argentinos. Vinha de sete jogos invicta e havia desbancado até a badalada ‘Máquina’ do Fluminense, derrotada por 1 a 0 em pleno Maracanã. Já pelo lado do Fla, o gripado Zico era dúvida, e acabou começando o jogo no banco.
Após um primeiro tempo confuso do Flamengo e com o Vitória pressionando, sem abrir o placar, o técnico Cláudio Coutinho colocou Zico em campo no lugar do garoto Adílio. E logo aos oito minutos, o Galinho completou de cabeça um cruzamento de Luís Paulo, fazendo 1 a 0. Aos 29, o meia Tadeu Ricci aproveitou rebote de Andrada e ampliou. E aos 33, o ponteiro Paulinho fez grande jogada na área, driblou o goleiro e entrou com bola e tudo, fechando a contagem em expressivos 3 a 0.
Dez anos depois, o Fla derrotou o Vitória pela segunda vez no principal palco da capital baiana. O time dirigido por Sebastião Lazaroni mesclava veteranos como Leandro e Andrade a novatos como Zé Carlos, Aílton, Aldair e Jorginho. Havia ainda Sócrates, que fazia sua segunda partida pelo Fla desde que retornara da Copa do Mundo do México. Mas quem decidiu a parada foi justamente um filho da Boa Terra, que jogara na base do Vitória, mas já caminhava para se tornar um ídolo no Flamengo: Bebeto.
Em 9 de novembro de 1986, o maior público da história do confronto em Salvador – mais de 67 mil pagantes na Fonte Nova – viu o Vitória, com pontas rápidos e habilidosos, levar muito perigo durante todo o jogo, mas parar na atuação extraordinária de Zé Carlos, um monstro sob as traves. E viu também, aos 36 minutos da etapa inicial, Sócrates cobrar falta pelo lado direito do ataque levantando a bola na área, e Bebeto escorar de cabeça, num peixinho muito bonito, marcando o único gol da partida.
O primeiro confronto realizado no Barradão – estádio inaugurado pelo Vitória em 1986, mas que só começou a receber jogos do Brasileiro em meados da década seguinte – aconteceu no Brasileiro de 1996, no dia 18 de agosto. O Fla desperdiçou várias chances (a principal delas num pênalti batido por Sávio e defendido pelo goleiro Nilson). Mas mesmo assim saiu com o resultado favorável graças a um gol de cabeça do zagueiro Ronaldão, após cobrança de escanteio.
As duas equipes voltaram a se enfrentar no local dois anos depois, em 18 de outubro. No início daquele ano, o Vitória havia goleado o Fla por 5 a 0 pela partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Na volta no Maracanã, o Fla deu o troco ao vencer por 5 a 2, mas não levou a classificação. O tira-teima ficou para o Brasileiro. E novamente o Flamengo goleou: 4 a 1, com direito a três gols de Romário e um de Cleisson. Curiosamente, o gol de honra dos baianos foi anotado por um certo Dejan Petkovic.
O confronto seguinte aconteceu em 20 de outubro de 2002. O jogo foi especial para três jogadores do Flamengo: Fábio Baiano, Liédson e Zé Carlos, todos nascidos no estado. Os dois últimos, aliás, fariam os gols do Fla: o “Zé do Gol” abriria o placar aos 14 minutos, mas seria expulso pelo árbitro Héber Roberto Lopes ainda no primeiro tempo junto com o volante baiano Xavier. Na etapa final, Liédson ampliaria, antes de Allan Dellon descontar de falta, quando o Fla já contava apenas com nove em campo (Fábio Baiano também foi expulso). Mas o time de Evaristo de Macedo se segurou e venceu por 2 a 1.
Depois daquele triunfo, o Flamengo ficaria 12 anos sem bater o Vitória em Salvador pelo Brasileiro. Alguns pontos, no entanto, precisam ser ressaltados. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que na metade desse tempo o time baiano ficou fora da elite nacional. Também é importante citar que, nesse interim, por duas vezes (em 2003 e 2004) o Fla eliminou o Vitória na Copa do Brasil vencendo tanto no Maracanã quanto no Barradão. De qualquer modo, em 2014 a escrita do Brasileiro foi quebrada.
Aquele time do Flamengo dirigido por Vanderlei Luxemburgo, o do “saco de cimento nas costas”, que buscava sair da “zona da confusão” na competição, abriu o placar em cabeçada do zagueiro Marcelo (que mais tarde faleceria no desastre com avião da Chapecoense). Sofreu o empate em jogada fortuita do atacante Caio (ex-Botafogo), que contou com desvio para encobrir o goleiro Paulo Victor. Voltou a estar em vantagem quando Alecsandro converteu pênalti após toque de mão do lateral Juan (ex-Fla). E teve ainda Paulo Victor defendendo pênalti cobrado pelo mesmo Juan no fim do jogo.
Aquela vitória foi a quinta e última de uma sequência de triunfos pouco depois da chegada do treinador naquele Brasileiro. E também marcou o início de uma trinca de vitórias consecutivas por 2 a 1 do Flamengo sobre o time baiano na casa do adversário pela competição. Em 2016, o time de Zé Ricardo venceu de virada, com gols de Fernandinho e Gabriel, depois que Zé Love havia aberto o placar para os locais.
E no ano passado, em jogo dramático pela última rodada da competição, o Fla repetiu o resultado: saiu atrás com gol de Carlos Eduardo, mas empatou com o zagueiro Rafael Vaz, concluindo grande jogada de Vinícius Junior pela ponta, e virou nos acréscimos em pênalti batido por Diego. Foi o resultado que valeu ao time o sexto lugar no Brasileiro e a vaga direta para a fase de grupos da Taça Libertadores de 2018.
Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
Quer ser apoiador do Mundo Rubro Negro? CLIQUE AQUI!
Emmanuel do Valle é jornalista e pesquisador sobre a história do futebol brasileiro e mundial, e entende que a do Flamengo é grandiosa demais para ficar esquecida na estante. Dono do blog Flamengo Alternativo, também colabora com o site Trivela, além de escrever toda sexta no Mundo Rubro Negro.
LEIA MAIS NO BLOG MEMÓRIA RUBRO-NEGRA
> As oito vezes em que o Fla bateu o Vitória em Salvador pelo Brasileiro
> Sete grandes nordestinos e um Flamengo
> Nos 60 anos de Tita, alguns momentos em que ele honrou o Manto
> Os 33 anos do “jogo do papel higiênico”
> Cinco grandes vitórias do Flamengo fora de casa pela Libertadores
> Virada à paulistana: 60 anos de uma épica vitória sobre o Santos de Pelé
> Há 50 anos, goleada e festa no Maracanã para um ídolo que voltava
> Os seis duelos contra o River no Rio
> A primeira Taça Guanabara, para lembrar e nunca esquecer
> Carnaval Rubro-Negro com taça internacional
> Um olé com chocolate na Bombonera
> Uma história de clássico, de baile e de casa cheia
> A Balança da História
> O verniz do improvável
LEIA TAMBÉM
O Flamengo tipográfico no caderno escolar de Fabio Lopez
Diego Alves elogia Mauricio Barbieri e lamenta possível perda de Éverton
Flamengo conhece adversário nas quartas: Minas vence o Vitória
O in[icio dos campeões brasileiros: começar é primordial?
Em março, a FlaTV foi o canal de clube que mais conseguiu novos inscritos