TUTORIAL
1.CONTEXTO – Antecessor com relação ruim com o elenco
2.OPÇÕES – Algum medalhão que por algum motivo não vem
3.IMPACTO INICIAL – Na conversa e na amizade, o vestiário é acalmado. E as vitórias voltam.
4.MUDANÇAS – Normalmente ajustes em relação ao time anterior ou repetição de um modelo
5.O ÁPICE – Com o time correndo no limite, normalmente em pouco tempo vem alguma taça
6.OS PROBLEMAS – Lesões, venda de jogador… Algo acontece e o time começa a desmontar
7.A QUEDA – A casa vai caindo, caindo… E cai de vez
8.O FIM – Às vezes ainda há uma sobrevida, mas dura pouco
PAULO CÉSAR CARPEGIANI (1981-83)
1. CONTEXTO – Flamengo acaba de vencer a Taça Guanabara e lidera seu grupo na Libertadores. No entanto, o treinador Dino Sani enfrenta problemas de relacionamento com algumas lideranças do elenco. Há atritos com Andrade, Raul, Rondinelli e Adílio. A Diretoria enxerga nisso um risco para a sequência da temporada e o demite.
2.OPÇÕES – A opção é Nelsinho Rosa, ex-jogador do clube, Campeão Estadual do ano anterior dirigindo um limitado Fluminense. Mas Nelsinho opta por uma proposta mais vantajosa no Qatar.
3. IMPACTO INICIAL – Apesar de alguns empates incômodos, o time logo dá respostas, com vitórias contundentes e a classificação à Fase Semifinal da Libertadores, o que tranquiliza o ambiente. “Há uma base muito sólida de amizades que criei aqui dentro e numa hierarquia vamos trabalhar com respeito e tranquilidade. O fato de ser amigo do grupo só pode me beneficiar”, declara Carpegiani em entrevista.
Não deixe de ler: Oito perguntinhas inocentes para cada lado
4. MUDANÇAS – A ideia é resgatar a formação adotada por Coutinho. Mas, depois de algumas semanas usando um time semelhante ao de Dino Sani, Carpegiani enfim consegue equilibrar a equipe colocando o meia Lico como “falso-ponta” esquerda, no lugar de Baroninho. Outras mudanças relevantes são a recondução de Raul ao time titular e a definitiva efetivação de Mozer.
Time-Base de Dino Sani: Raul, Leandro, Marinho, Rondinelli, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes, Baroninho
Time-Base de Carpegiani: Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes, Lico
5. O ÁPICE – Inicia com os históricos 6-0 no Botafogo, culminando com as conquistas do Estadual, da Libertadores, do Mundial e, meses mais tarde, do Brasileiro e, na sequência, da Taça Guanabara.
6. OS PROBLEMAS – Lesão de Nunes no Brasileiro tira poder de fogo. Em 1982, há equívocos nas peças de reposição do elenco (Jasson, Popeia, Zezé, Wilsinho), que na rodagem perde muito rendimento. Com as derrotas, Carpegiani, de temperamento difícil, começa a ser questionado por alguns jogadores. Lento e cansado, o time se torna previsível e facilmente anulado.
7. A QUEDA – No final da temporada de 1982, o time é eliminado da Libertadores e perde o Estadual, afundando em forte crise.
8. O FIM – Mesmo sem ambiente com boa parte do elenco, Carpegiani é mantido, o que se revela um erro. O time se arrasta por algumas semanas até a demissão do treinador, incapaz de voltar a motivar a equipe.
CARLINHOS (1987-88)
1.CONTEXTO – treinador Antonio Lopes entra em rota de colisão com alguns jogadores (notadamente Leandro e Renato) e dirigentes. Responsabiliza Leandro publicamente pela perda do Estadual. Enfrenta um motim de jogadores numa excursão ao México. Na estreia do Brasileiro, vê o time ser facilmente derrotado pelo São Paulo. E pede demissão.
2.OPÇÕES – Zagalo é lembrado, mas a principal opção é novamente Nelsinho Rosa. No entanto, o treinador precisa recusar o convite, pois se recupera de uma cirurgia de ponte de safena.
3. IMPACTO INICIAL – Bem mais tranquilo que nas experiências anteriores, devolve o diálogo ao elenco, que responde com uma convincente vitória sobre o Vasco (2-1) pelo Brasileiro.
4. MUDANÇAS – Carlinhos resgata a formação utilizada por Antonio Lopes no Terceiro Turno do Estadual, mas promove as entradas dos garotos Ailton e Zinho, com o intuito de dar mais vigor e intensidade ao meio-campo. O jovem lateral-esquerdo Leonardo, muito mais habilidoso que o limitado Airton, também ganha vaga no time. A zaga recebe o reforço de Edinho, tornando-se mais técnica e lenta.
Time-Base de Antonio Lopes: Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Mozer, Airton; Andrade, Júlio César (Ailton), Zico; Renato, Bebeto, Marquinho;
Time-Base de Carlinhos: Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo, Andrade, Ailton, Zico, Zinho, Renato, Bebeto.
5. O ÁPICE – Conquista do Tetracampeonato Brasileiro e, poucos meses depois, da Taça Guanabara.
6. OS PROBLEMAS – Lesões de alguns titulares, principalmente Renato, cuja saída tira muita força do ataque. O time é forte, mas o elenco tem poucas peças de reposição (Leandro Silva, Flávio, Henágio, Vandick etc). Após a Taça Guanabara, o rendimento cai assustadoramente.
7. A QUEDA – Com defesa lenta e pesada, a equipe não consegue enfrentar o jovem e veloz ataque do Vasco, sendo seguidas vezes derrotada pelo rival, o que custa a perda dos dois turnos seguintes e do Estadual.
8. O FIM – Na última partida contra o Vasco, Carlinhos tenta uma última cartada, barrando Leandro por Aldair, tentando dar mais velocidade à zaga. A mudança irrita os líderes do elenco, que se sentem “traídos”. O time até melhora mas perde o jogo, o título e Carlinhos, o cargo.
ANDRADE (2009-10)
1.CONTEXTO – O treinador Cuca jamais foi aceito pelo elenco e mesmo por alguns profissionais do clube, que no máximo o toleram. Nem mesmo a conquista do Tricampeonato Estadual reverte esse quadro, que é agravado com a chegada do atacante Adriano, cuja conduta irrita Cuca. Após várias crises geradas por essa relação tempestuosa, enfim o treinador, sob coro de “Adeus, Cuca”, é desligado, após um empate no Maracanã contra o Barueri (1-1).
2.OPÇÕES – A principal preferência recai sobre Carlos Alberto Parreira, com quem o VP de Futebol chega a acertar contrato, mas a renúncia do dirigente mela o negócio. O Presidente em Exercício prefere o jovem Sérgio Guedes. Os jogadores tentam emplacar Fábio Luciano, recém-aposentado. O novo VP busca Vagner Mancini, que recusa o convite. Com as dificuldades nas negociações, Andrade ganha espaço e recebe nova oportunidade.
3.IMPACTO INICIAL – Tranquilo e de fala mansa, Andrade dá espaço aos líderes do elenco, o que traz paz e harmonia ao vestiário.
4.MUDANÇAS – Andrade rompe com o confuso esquema do antecessor (que recorria a dois ou três zagueiros) e emula a forma de jogo da “Era Zico”. Aproveita para isso o único meia do elenco, o veterano desacreditado Petkovic, e recupera o contestado Zé Roberto. Também recebe reforços para a zaga (ponto fraco do time) e para o meio-campo. É um time completamente diferente.
Time-base de Cuca: Bruno, Léo Moura, Welinton, Fabrício (Airton), R.Angelim, Juan, Willians, Kleberson, Ibson, Emerson Sheik, Adriano.
Time-base de Andrade: Bruno, Leonardo Moura, Álvaro, R.Angelim, Juan (Everton), Airton, Maldonado, Willians, Petkovic, Zé Roberto, Adriano.
5.O ÁPICE – O time apresenta cerca de três meses de excepcional futebol, que é coroado com a conquista do Hexacampeonato Brasileiro.
6.OS PROBLEMAS – Na virada para 2010, o elenco perde peças importantes (Everton, Zé Roberto, Airton), com reposição longe do mesmo nível (Fernando, Felipe Alvim, Michael, Ramón). O grande reforço, Vagner Love, muda as características da equipe, algo com o qual Andrade se mostra incapaz de lidar. Ademais, Petkovic volta a apresentar os conhecidos problemas de relacionamento com os companheiros e tumultua o ambiente.
7.A QUEDA – O Flamengo faz temporada claudicante, sem jamais acertar os problemas defensivos. Perde os dois turnos do Estadual para o Botafogo e por pouco não é eliminado na Primeira Fase da Libertadores.
8.O FIM – O Flamengo precisa fazer dois gols sobre o frágil Caracas no Maracanã para se classificar sem depender de uma combinação milagrosa de resultados. Não consegue. Faz apenas 3-2. Mas o tal milagre acontece e a vaga vem mesmo assim. Mas é o fim de linha para Andrade.
JAYME DE ALMEIDA (2013-14)
1.CONTEXTO – Mano Menezes faz um trabalho apenas razoável à frente do elenco, mas a Diretoria e a torcida confiam nele para algo maior a médio/longo prazo. Mas a relação é interrompida quando o treinador, inesperadamente, pede demissão após uma vexatória derrota para o Atlético-PR (2-4, de virada) no Maracanã.
2.OPÇÕES – A Diretoria chega a sondar Abel Braga, mas a recusa do treinador faz com que a aposta recaia sobre Jayme de Almeida, opção de baixo custo e esperança de reeditar trabalhos vencedores comandados por profissionais de perfil semelhante. O temor do rebaixamento desencoraja soluções mais ousadas.
3.IMPACTO INICIAL – Exortando o elenco a abraçar a torcida e conseguindo canalizar a necessidade de reação de um elenco exposto pelo antecessor, Jayme consegue bons resultados iniciais (empate com o Botafogo pela Copa do Brasil, com boa atuação, e goleada sobre o Criciúma), transformando o medo em esperança.
4.MUDANÇAS – A mais elogiada mudança de Jayme se dá com a definição clara de um time titular, o que não acontecia sob Mano, que dificilmente repetia escalações. O volante Amaral barra Caceres, o que traz dinamismo ao sistema defensivo. O jovem Luiz Antonio ganha uma vaga ao lado de Elias, trazendo alguma técnica ao meio. O criticado Carlos Eduardo enfim recebe sequência como titular e Paulinho é deslocado para a ponta-esquerda.
Time-base de Mano: Felipe, Léo Moura, Chicão, Wallace, André Santos, Caceres, Elias, Gabriel, Carlos Eduardo (Luiz Antonio), Hernane, Nixon (Rafinha)
Time-base de Jayme: Felipe, Léo Moura, Chicão, Wallace, André Santos, Amaral, Luiz Antonio, Elias, Carlos Eduardo, Paulinho, Hernane;
5.O ÁPICE – Em pouco menos de três meses, o Flamengo se mostra capaz de enfrentar e vencer todas as principais equipes do país e, numa arrancada empolgante, conquista a Copa do Brasil.
6.OS PROBLEMAS – Na virada da temporada, o clube não consegue manter Elias (o principal jogador da equipe) e ainda convive com um processo judicial movido por Luiz Antonio, que tenta desvincular-se do Flamengo. A saída dos dois jogadores destroi a espinha dorsal do time, problema que Jayme jamais consegue resolver. Alguns titulares caem assustadoramente de produção (Hernane, Carlos Eduardo). Vários reforços são contratados mas poucos emplacam, e Jayme prefere recorrer a nomes como Recife, Muralha, Digão e Negueba.
7.A QUEDA – O time ainda consegue conquistar o Estadual (na esteira da péssima fase dos rivais), mas é categoricamente eliminado da Primeira Fase da Libertadores, o que acende pesada crise.
8.O FIM – Mesmo com a eliminação no torneio continental, Jayme é mantido. Mas a conquista do Estadual, cada vez mais desvalorizado pelo torcedor, se mostra incapaz de recuperar o prestígio do treinador. E Jayme é demitido na quarta rodada do Brasileiro, após derrota em um Fla-Flu.
ZÉ RICARDO (2016-17)
1.CONTEXTO – Muricy Ramalho, que vem de péssimos resultados no semestre, pede afastamento por recomendação médica, após a primeira rodada do Brasileiro (vitória por 1-0 sobre o Sport);
2.OPÇÕES – O Flamengo chega a acertar a contratação de Abel Braga, mas a impossibilidade de contar de imediato com o treinador (por questões contratuais) faz emergir um processo de rejeição interna e externa. O interino Zé Ricardo, campeão da Copa SP, ganha tempo e, com resultados, prestígio;
3.IMPACTO INICIAL – Zé Ricardo, ao contrário do antecessor, consegue transmitir rapidamente a capacidade de fazer o time funcionar. Organiza a primeira linha defensiva e, com atuações seguras, conquista vitórias sobre Ponte Preta (em Campinas, quebrando longo tabu) e Vitória.
4.MUDANÇAS – O novo treinador é adepto de um sistema de jogo mais pragmático, um híbrido que conjuga posse de bola com índole defensiva. Sensível à relação de forças no elenco, monta uma equipe em que as principais lideranças do plantel são aproveitadas. Recebe reforços para a criticada zaga (Rever, Donatti e Rafael Vaz), barra o goleiro Paulo Vitor, que vive péssimo momento, e ganha o meia Diego, que traz um notável upgrade ao nível da equipe. Os aplicados, mas limitados, Gabriel e Márcio Araújo também são promovidos à equipe titular. Os estrangeiros Cuéllar e Mancuello perdem espaço.
Time-base de Muricy: Paulo Vitor, Rodinei, Wallace, Juan, Jorge, Cuéllar, W.Arão, Mancuello, M.Cirino, Guerrero, Gabriel (Emerson Sheik).
Time-base de Zé Ricardo: Muralha, Pará, Rever, Rafael Vaz, Jorge; M.Araújo, W.Arão, Diego; Gabriel, Guerrero, Everton
5.O ÁPICE – O Flamengo, antes ocupando posições intermediárias, ascende na tabela e sustenta, por várias rodadas, uma renhida briga pela liderança com o Palmeiras, de quem chega a estar a apenas um ponto.
6.OS PROBLEMAS – O modelo de jogo mostra sinais de esgotamento ainda em 2016. Para o ano seguinte, Zé Ricardo tenta utilizar Mancuello deslocado na direita, mas a experiência não funciona. O golpe fatal surge com a lesão de Diego, que vinha em primorosa fase. Incapaz de encontrar alternativas e reticente em aproveitar os reforços em detrimento dos antigos titulares, Zé Ricardo vai se sustentando com a campanha no Estadual e com as vitórias em casa pela Libertadores. Mas as derrotas como visitante acendem um alerta que é ignorado.
7.A QUEDA – Insistindo com jogadores nitidamente limitados, Zé Ricardo sofre duríssimo golpe ao, poucos dias após a conquista do Estadual, ser derrotado pelo San Lorenzo no Estadio Gasometro, resultado que, novamente, elimina o Flamengo de uma Primeira Fase da Libertadores. A perda da vaga sepulta o mínimo de prestígio que o treinador ainda reunia com a torcida.
8.O FIM – A Diretoria, renitente, insiste com Zé Ricardo. O time ainda esboça ligeira reação por poucas rodadas no Brasileiro, mas rapidamente entra em queda livre. O treinador segue dando sistemáticos sinais de apego ao núcleo de jogadores do início do trabalho. O Flamengo por pouco não amarga eliminação humilhante na Copa do Brasil, ao ser goleado pelo Santos (2-4, em falhas grosseiras de Muralha e Vaz). O fim da linha acontece após uma derrota, em plena Ilha do Governador, para o Vitória (0-2), quando, contra a vontade do Presidente, o treinador enfim perde o cargo.
Adriano Melo escreve seus Alfarrábios todas as quartas-feiras aqui no MRN e também no Buteco do Flamengo. Siga-o no Twitter: @Adrianomelo72
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