Há muito deixou de ser novidade que o Flamengo da era Bandeira é um especialista em fracassos. Mas temos que admitir que neste ano especialmente ele vem apresentando um esmero ainda maior nesse sentido. É impressionante a falta de empatia com o sucesso, com o êxito, com as conquistas que esse grupo criou. É algo que, na minha modesta visão, precisa ser estudado de maneira aprofundada, pois a não compreensão dos fatos que nos trouxeram até esse ponto pode acarretar na repetição dos mesmos mais adiante mesmo sob uma nova gestão. Acho fundamental que se investigue de forma minuciosa o problema e, a partir dos resultados revelados por essa investigação, medidas sejam tomadas para que isso não volte a acontecer nunca mais.
> O “novo” Flamengo e a saudável arte de duvidar
Agora, não foi na partida do último sábado que abandonamos a luta pelo título. O que fazia com que vários de nós ainda acreditássemos na possibilidade do título era a fé. E fé, como sabemos, é a crença naquilo que não se pode ver nem comprovar. Não há qualquer racionalidade nela. Outros, em geral aqueles que estão envolvidos profissionalmente com o campeonato, usam o chatíssimo e em geral irrelevantíssimo discurso da matemática para justificar que a briga ainda estava aberta. Ok, eles estão cumprindo com seu papel. Precisam arrumar assunto.
Mas a verdade é que não estava, meus amigos. A verdade é que essa porta se fechou para nós naquela derrota em casa contra o Ceará. Até por uma questão de moralidade e justiça, que existe, sim, no futebol, ao contrário do que se diz por aí, time nenhum que se apresenta como candidato a um título desse tamanho será campeão sendo derrotado em casa diante de mais de 50 mil torcedores por outro que tenta a duras penas escapar de um rebaixamento. Dali em diante, a única coisa que nos sobrou foi brigar para chegar ao fim do certame de uma forma mais digna, porém até nisso estamos falhando miseravelmente.
Não há mais o que se falar sobre esse Flamengo que está aí. É um morto-vivo, um moribundo que irá se arrastar até o fim do ano sabe-se lá como. E vença quem vencer as eleições, o próximo presidente terá que se empenhar para descobrir quais foram os fatores que contribuíram para que ao longo de seis anos o clube alcançasse o status que alcançou em termos administrativos sem que o futebol profissional fosse capaz de traduzir isso em sucesso desportivo. Quem entrar terá a obrigação de dar essa resposta, pois trata-se de fenômeno raro, talvez até inédito, e como tal deve ser tratado, estudado e compreendido.
Alguns erros, tais como a interferência direta no futebol de um presidente que de futebol nada entende, a insistência num modelo que privilegiava as planilhas de Excel e tirava o torcedor “comum” de perto do time, a arrogância, a prepotência do próprio presidente e de grande parte dos demais membros da gestão, a superproteção a jogadores que ajudaram a afundar o time em incontáveis ocasiões e as péssimas decisões tanto na hora de contratar quanto de demitir técnicos, são os mais claros, os mais conhecidos e foram amplamente debatidos nos mais diversos fóruns. Mas duvido que sejam os únicos. Tem mais caroço debaixo desse angu, e a construção de um Flamengo que dentro de campo consiga ter êxito na proporção do que faz e investe para isso passa necessariamente por chegar até esse caroço e arrancá-lo de lá.
Fabiano Torres, o Tatu, é nascido e criado em Paracambi, onde deu os primeiros passos rumo ao rubronegrismo que o acompanha desde então. É professor de idiomas há mais de 25 anos e já esteve à frente de vários projetos de futebol na Internet, TV e rádio, como a série de documentários Energia das Torcidas, de 2010, o Canal dos Fominhas e o programa Torcedor Esporte Clube, na Rádio UOL. Também escreve no blog Happy Hour da Depressão.
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