Devemos abdicar da Libertadores então e ir com tudo no Brasileiro? Claro que não. Não se abdica da Libertadores. Mas não a coloca como prioridade.
O Bayern de Munique é, atualmente, heptacampeão alemão. Desde 2013, a Bundesliga não conhece outro dono. Neste tempo, ganhou mais quatro copas da Alemanha e quatro Supercopas. A Liga dos Campeões, porém, não vence desde 2013. Seu torcedor quer a Liga de novo. Cinco títulos na história fazem um número lindo, mas não o suficiente para uma torcida que não tem mais o que ganhar em casa. E estão certos.
Por que abri o texto falando do Bayern? Porque é um exemplo do que penso para o Flamengo. Quando ganhamos o Penta, em 1992, assumimos uma dianteira enorme para os mais próximos. O Palmeiras, porém, acabou colando em 94, mas não passou. Outros foram chegando e o Flamengo ficando no caminho. Aconteceu em 2008, quando o São Paulo conquistou o hexa. Corinthians nos passou e Palmeiras idem. Mesmo com o nosso Hexa de 2009, ficamos para trás. O Flamengo perdeu sua hegemonia nacional.
Temos time para recuperar e parece que estamos seguindo nesse caminho, afinal, já faz um tempo que flertamos com o título, mas deixamos escapar no final. Estamos na disputa mais uma vez, em 2019, com ótimas chances. Porém, sempre caímos na velha discussão: priorizar qual competição? Libertadores ou Campeonato Brasileiro?
Hoje, o Flamengo entrou num caminho sem volta. Numa subida que, salvo algum maluco resolva colocar tudo a perder, iremos ganhar mais dinheiro e contratar mais jogadores, aumentando nosso poder de fogo. O clube entrou num nível operacional e financeiro que praticamente não tem volta. É daí para mais.
A conquista do Brasileiro é questão de tempo, mas não pode parar em um só. É preciso mais que mijar no poste. Tem que espalhar pelo local todo e mostrar quem é o dono do território, como faz o Bayern na Alemanha. Eles ganham, ganham de novo e continuam ganhando. É o mínimo que se espera de tamanha disparidade. Lógico que o Campeonato Alemão tem menos times na disputa, porém, a distância que o Flamengo (e o Palmeiras) está tomando é grande demais e logo irá se mostrar em campo. Os últimos anos ali batendo na porta já mostram que o cenário mudou. Porém, falta a taça. O Palmeiras fez seu dever de casa. O Palmeiras tem na Libertadores a obsessão. Mas também tem, no campo, seis títulos nacionais e continua disputando. Querem a Libertadores, mas entendem o tamanho do Brasileiro. E montam equipes para isso.
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Mas observem uma diferença. O Palmeiras, mesmo ganhando, não nos supera em verba de televisão e patrocínios. Eles ganham mesada e vivem. O Flamengo é o dominante no mercado e será ainda mais se vencer o Brasileiro. Mas, repito, não uma nem duas. Algumas vezes. É preciso retomar o quanto antes a hegemonia nacional. Enfileirar títulos mesmo – NO CAMPO – e ser o principal. Ser o maior, de fato, do Brasil.
Mas ser campeão da Libertadores não o torna o maior da América?
Não.
Vejam o Grêmio. Campeão da Libertadores há dois anos. Onde está hoje? Possui a maior renda, a maior verba de TV, os melhores contratos e o melhor time? Teve isso no ano seguinte ao título? Não. E nem vai ter. É o mesmo destino de outros ganhadores da Libertadores. Porque se trata de uma competição mata-mata que 1) é totalmente ligada ao acaso, onde times mais fracos e com sorte podem eliminar mais fortes; 2) ignorada pelo resto do mundo. Jogos tarde da noite aqui não são vistos pelo mercado europeu, muito menos pelo asiático e 3) a Conmebol não é lá muito “mãe” dos clubes brasileiros.
Além disso, a Libertadores tem menos jogos (óbvio). Com isso, os direitos de transmissão são menores. Mesmo assim, quem joga na quarta-feira, na TV aberta para o país? O campeão brasileiro versus o campeão da Libertadores de 2017, ou o Flamengo? Entendem? Esse é o peso.
Lógico que ganhar a Libertadores é importante. Há uma geração e meia que nunca viu o Flamengo vencer e secou inutilmente vários rivais que levantaram a taça. Praticamente todos nossos grandes rivais venceram (excluindo aqui os zumbis Fluminense e Botafogo). Alguns, mais de uma vez. E ficamos chupando dedo enquanto sofríamos com times deploráveis.
Mas estes times que ganharam a Libertadores, o que aconteceu depois? Se tornaram dominantes? Ganharam mais dinheiro? Tomaram conta do futebol brasileiro e sul-americano? Ou foram voos de galinha e já voltaram ao normal? À exceção do Corinthians, que continuou vencendo, não. O Corinthians pensou na hegemonia nacional. Tirando os títulos de canetada, é o maior campeão atual, com sete. É o nosso objetivo. E um detalhe: seis títulos conquistados DEPOIS do nosso Penta. Três obtidos DEPOIS do Hexa.
Devemos abdicar da Libertadores então e ir com tudo no Brasileiro? Claro que não. Nem o Bayern fez isso em sua trajetória humilhante na Alemanha. Não se abdica da Libertadores. Mas não a coloca como prioridade. NÃO HOJE. Temos que vencer. Passar pelo Inter e vencer. Mas não podemos abrir mão do Brasileiro, desprezar um Ceará da vida, achando que depois recupera os pontos. Não é assim e já perdemos o título diversas vezes agindo desta forma. Tem que colocar o de melhor à disposição e garantir os três pontos. Não deixar o Santos desgarrar nem o Palmeiras ou o São Paulo passarem. Logo enfrentaremos os próprios Peixe e Porco nos famosos jogos de seis pontos. Mas precisamos chegar neles na mesma posição na tabela, pelo menos. Se estivermos atrás, depois não recuperamos. Pessimismo? Não, realidade e os exemplos estão aí nas últimas temporadas.
Hoje, o Campeonato Brasileiro precisa ser a prioridade. É exatamente como pensava Jorge Jesus, quando chegou ao Flamengo. Precisa vencer aqui, dominar aqui, mandar aqui e deixar o país com a sua cara. Você não ganha uma guerra atravessando continentes e indo invadir países do outro lado do mundo, se não fortalecer suas fronteiras primeiro.
Digamos que o Fla vença a Liberta de 2019. Iremos todos celebrar absurdamente, lógico. Mas isso pode nos custar mais um título nacional. Considerando as canetadas, Palmeiras e/ou Santos (não descarte o São Paulo, que nos passaria sem canetada) nos deixariam mais para trás e teríamos que realizar a caminhada toda de novo ano que vem, voltando a pensar em priorizar Copas. Podemos nos tornar um Grêmio de Renato Gaúcho, um time que,se estivesse em um cassino, só iria na roleta, ao invés de enfrentar as feras de verdade nas cartas.
Isso, claro, considerando que depois iríamos para um jogo desesperador contra um time C que jogaria a vida (não dá para ignorar a possibilidade do vexame) e depois enfrentar o Liverpool. Para quem acompanha o Inglesão, dá para enfrentar o Liverpool? Sério? Ok, futebol é imprevisível, mas…
Vamos lembrar que teremos um novo mundial da Fifa em 2021 e três edições de Libertadores para classificar até lá. O Flamengo mais forte, dono de seu terreno, com mais dinheiro, com mais visibilidade, com mais autoridade e consistência, até para formar elencos e não só um time titular, terá tudo para ganhar uma Libertadores e entrar nessa festa.
Mas se não ganhar em casa antes, se não trouxer de volta a ordem geral das coisas no futebol brasileiro, um título sul-americano poderá ser mais um voo de galinha. Ou de urubu, enquanto os rivais vão abrindo distância que hoje ainda é alcançável. Como eles nos alcançaram e passaram.
A Copa do Brasil? Que se f…. Deixa pra morto de fome que precisa do dinheiro desesperadamente para pagar salário. Se rolar, rolou e celebramos.
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