Após a demissão do catalão, Flamengo precisa ir imediatamente ao mercado para buscar um novo treinador em um momento crucial da temporada
A demissão de um treinador sempre é um momento complicado. Livre de opiniões pessoais, me baseio sempre na análise e no factual aqui no blog. De início, sempre achei interessante a chegada de um treinador catalão com a mentalidade de Pep Guardiola, e também estava ansioso para ver como seria uma implementação do jogo de posição no Brasil. Pensei, analisei e, por fim, escrevo sobre a demissão de Domènec após pouco mais de três meses no cargo.
A matéria que me trouxe ao Mundo Rubro Negro foi falando sobre possíveis opções de técnico para o Flamengo. Lá analisei os trabalhos de Renato Gaúcho, Marcelo Gallardo, Miguel Ángel Ramírez, Gabriel Heinze, Leonardo Jardim e Marco Silva. O nome de Domènec ainda não era cogitado, e analisei o seu time no New York City FC quando já estava no MRN. Um Flamengo multicampeão em 2019 buscava um substituto para o seu maestro, e achou que o currículo de Domènec Torrent, auxiliar de Pep Guardiola por onze anos, seria algo suficiente para implementar um “futebol ofensivo”, assim como Jorge Jesus havia feito.
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O conceito de futebol ofensivo é bastante amplo, e pode ser visto de diferentes formas. Simplificando, a diferença seria de mobilidade total com JJ x jogo de posição com Dome. O catalão não teve uma pré-temporada, estreando já na primeira rodada do Brasileirão oito dias após assumir o cargo de treinador, perdendo por 1-0 para o Atlético Mineiro no Maracanã. Em seguida, o Flamengo enfrentou um surto de Covid-19 no elenco, pegou uma maratona de jogos e sofreu algumas goleadas. Ainda assim, Domènec deixa o rubro-negro na 3ª colocação do campeonato.
Contexto é fundamental
O Flamengo quer vencer, e não irá se contentar com outro resultado. No julgamento da diretoria, Domènec aparentemente precisava entregar resultados como Jorge Jesus. Após 26 jogos no comando, o catalão deixou o time nas oitavas da Libertadores, nas quartas da Copa do Brasil e na 3ª colocação do Brasileirão, com apenas um ponto de diferença para o líder. Algumas decisões dentro de campo afetaram a confiança da torcida e da direção, ainda mais após as goleadas de 4-1 para o São Paulo e 4-0 para o Atlético Mineiro.
Mudanças radicais são ainda mais perigosas, e o contexto existente no Flamengo após a saída de Jorge Jesus pareceu ser ignorado. Um estilo de jogo como o de Domènec não será implementado de um dia para o outro, e três meses é muito pouco tempo, ainda mais com todos os problemas enfrentados durante o período. O time enfrentou problemas, e muitos saíram por conta do técnico, que chegou a receber muitas críticas justas. Ainda assim, a melhora de jogadores como Vitinho e Lincoln se devem muito ao trabalho de Dome.
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Quando contratado, Dome recebeu um amparo muito grande da diretoria. Para um treinador sem um grande trabalho no currículo (Torrent só treinou o NYCFC), a confiança pareceu excessiva da diretoria. A contratação parecia ser muito baseada apenas em seu histórico como auxiliar de Pep Guardiola, acreditando que ele iria repetir o trabalho de seu companheiro, mas o seu trabalho curto em Nova York era a menor parte da análise. Além do mais, o quesito “futebol ofensivo” era um motivo importante para a assinatura do contrato, esquecendo da sua total diferença com Jorge Jesus.
Agora, precisando imediatamente de um treinador, o Flamengo parece esquecer do perigo de entrar em campo com um interino ou um treinador em início de trabalho em partidas decisivas na Copa do Brasil contra o São Paulo e na Libertadores contra o Racing, ainda lembrando da importância de todos os jogos no Campeonato Brasileiro. Por enquanto, Mauricio Souza é quem comanda o rubro-negro, mas não há tempo para perder.
Afinal, quem deve ser o novo treinador do Flamengo?
Para a começar a analisar alguns treinadores, é necessário excluir outros da disputa pela vaga. Miguel Ángel Ramírez já recusou o Palmeiras, dizendo que ainda irá terminar a Libertadores pelo Independiente del Valle, e Marcelo Gallardo, Sebastián Beccacece e Renato Gaúcho também tem trabalhos em andamento na competição mais importante do continente sul-americano.
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Rogério Ceni
Rogério Ceni dispensa apresentações, seja como goleiro ou como treinador. Hoje, Ceni é o alvo número um do Flamengo para o cargo vago de técnico. Seu trabalho no Fortaleza é digno de muitos elogios, e a sua contratação com toda certeza seria algo para colocar o rubro-negro de volta ao topo em todas as competições.
O Flamengo não é o primeiro a buscar Ceni, visto que o Cruzeiro o contratou em 2019, mas demitiu o treinador de 47 anos após desavenças com os jogadores. Por fim, o clube mineiro foi rebaixado, Rogério voltou ao Fortaleza, levando o clube nordestino à Copa Sul-Americana pela primeira vez em sua história.
Enquanto o Flamengo de Dome sofria no setor defensivo, perdendo apenas para o lanterna Goiás no quesito defesa com 29 gols sofridos pelo rubro-negro, Ceni e sua equipe se encontra hoje com apenas 14 gols sofridos. Uma melhora significante no desempenho do zagueiro Paulão é algo que fez o time tricolor aumentar consideravelmente de nível. Anteriormente, o atual camisa 25 do Fortaleza havia tido passagens não muito boas por Vasco e Internacional. Além disso, a importância dos laterais Carlinhos e Gabriel Dias é enorme também para o setor ofensivo, com os dois jogando em zonas altas do campo.
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No trabalho de Ceni, não existe algo especial que se destaca e mostra que o treinador é um gênio. O Fortaleza é um time muito bem treinado, organizado e capaz de lidar com um baixo orçamento. Em campo, é visto um setor ofensivo que não está rendendo muitos gols. Em 18 jogos, foram apenas 17 gols para o time, que se encontra com o segundo pior ataque do Brasileirão. Romarinho e Osvaldo são capazes de fornecer a velocidade necessária nas pontas, enquanto Wellington Paulista deveria ser o artilheiro da equipe.
O meio de campo é bem funcional para efetuar desarmes e interceptações, com Felipe e Juninho sendo muito úteis em tal quesito. Com o jogo pelos lados sendo explorado, é visto que David não joga como um meia de criação, e acaba avançando para jogar um pouco atrás do centroavante como um segundo homem de ataque.
Gabriel Heinze
Um dos nomes mais cogitados sempre que uma equipe brasileira fica sem treinador é o de Gabriel Heinze. Ex-treinador do Vélez Sarsfield, o argentino fez um trabalho muito bom na equipe, levantando muitos questionamentos em sua saída. Heinze foi procurado pelo Palmeiras, mas rejeitou a proposta do clube paulista.
Assim como Dome, Heinze é um adepto do jogo de posição. A sua contratação poderia ser muito boa para dar continuidade ao trabalho do catalão, que apresentava bons momentos. Implementar um novo estilo de jogo pode atrapalhar completamente o resto da temporada do Flamengo, e o treinador argentino é uma alternativa interessante para o time.
O time do Vélez era de grande qualidade, e Heinze encontraria o melhor elenco do futebol sul-americano caso contratado. O uso de seu meio campo com Gaston Gimenez fazendo a saída de bola e formando uma linha de três com os zagueiros era bem visto, assim como a total produção criativa no meio de campo com Nico Dominguez e Lucas Robertone, tendo o jovem Thiago Almada como uma opção pelo setor central e pelas pontas.
Para fazer parte do jogo de posição, o mais importante é estar bem localizado. Estando na posição correta, é tudo mais fácil, e isso não quer dizer que o jogo é estático. O Flamengo de Domènec não jogava como um time de totó ou pebolim, muito pelo contrário. Jogadores como Gerson mostram a versatilidade empregada aos jogadores em tal estilo de jogo, com o camisa 8 do Flamengo sendo alocado para diversas posições, de volante até a ponta esquerda.
O fato é que Heinze segue como uma grande opção para o Flamengo, talvez até a melhor tendo em vista o contexto vivido pelo clube hoje. Uma mudança no estilo de jogo nesse ponto da temporada pode ser um motivo de fracasso.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vidal / CRF