“Vivemos com os nossos defeitos como com os cheiros que temos: não os sentimos, eles só incomodam os outros.”
Eu tenho que agradecer ao treinador Cuca a compreensão do que se passou comigo na reta final do Campeonato Brasileiro de 2016. Confesso que cheguei a pensar que o problema de me ausentar da contínua e prazerosa escrita sobre o apaixonante tema Flamengo fosse devido exclusivamente ao excesso de trabalho de consultoria de vida que exerço.
Além de Belo Horizonte, a partir do segundo semestre de 2016 passei a viajar com frequência, o que me trouxe novas situações, como por exemplo, andar pelas ruas de outras cidades, algumas inéditas em meu conhecimento, o que gerou situações inusitadas, pois, quem me vê olhando para o celular dificilmente imaginará que estou seguindo os trajetos gerados pelo Google Maps. Muitos pensarão que estou caçando Pokémon…
Mas como eu citei o Cuca, cabe esclarecer que ele concedeu uma entrevista – clique aqui para ver – muito interessante após a conquista do Brasileirão com o Palmeiras, quando demonstrou sua preocupação com a importância do Flamengo não ultrapassá-lo, pois temia que com isso a equipe rubro-negra teria uma motivação difícil de ser quebrada.
Na verdade, o nosso sonho, ou melhor, o cheiro de hepta foi sumindo diante da inobservância ou incapacidade em fazermos o que deveria ser executado. As mesmas forças que poderiam ter nos levado a superação e conquista do campeonato, nos impuseram barreiras intransponíveis. Vamos por partes…
Parte de nossa Torcida, hoje percebo, se deu por satisfeita com a colocação final do Flamengo. E isso tem certo sentido diante da expectativa inicial do desempenho de nossa equipe. Todos sabemos que, no ano passado, o Flamengo mais uma vez montou o time durante a competição. Quando olhamos a temporada como um todo, 2016 foi um fracasso. Nesse contexto, a vaga da Libertadores consolidou-se como um prêmio.
Nosso time teve a ausência de maiores protagonistas. E para não dizerem que persigo o pereba do Márcio Araújo (de quem nunca esperei absolutamente nada), eu prefiro criticar duramente um jogador que confesso gostar muito, Alan Patrick. Afinal, como ele detém qualidade técnica, obviamente temos que cobrar mais. Porém, em vários momentos que precisamos dele, o jogador sumiu, assim como Cirino e outros atletas de futebol intermitentes.
Nosso treinador merece uma abordagem especial. Zé Ricardo inegavelmente teve o mérito de organizar a equipe, de fazer com que o Flamengo tivesse de fato um time em campo. Todavia, ele não percebeu que uma única tática é como um samba de uma nota só, não é possível tocar todas as composições musicais. E isso não ocorreu por falta de experimentação. Em um das melhores partidas em termos táticos, contra um adversário fechado, o Flamengo venceu o Figueirense no Pacaembu com um esquema menos previsível, coincidentemente “sem Márcio Araújo”.
Os que defendem a permanência de Márcio como titular deveriam apreciar objetivamente o trabalho do Tulio Rodrigues no Vlog do Poeta, que no meu entender encerra qualquer debate em relação ao assunto. Veja o Vlog do Poeta.
Não existe um único responsável pelos nossos fracassos em 2016, mas claramente Márcio Araújo é um ponto de fragilidade da equipe, com sérios problemas de posicionamento tanto defensiva, quanto ofensivamente. Especificamente no empate contra o Palmeiras em São Paulo, Zé Ricardo não teve a experiência e velocidade de ação necessária para sacar o volante logo após Araújo levar o seu primeiro cartão amarelo.
E aí na ocasião Bandeira de melo foi reclamar do árbitro? Se fosse botafoguense nós diríamos que isso é o que? Perdemos o campeonato exatamente aonde o Palmeiras ganhou: nos detalhes. O time verde venceu de 1×0 as últimas sete partidas em seu estádio. 21 (vinte e um pontos)! Enquanto isso, na reta final, nós não tivemos o Maracanã como um divisor de águas. Só contra Corinthians e Coritiba perdemos quatro pontos.
Para finalizar a nossa participação, uma partida melancólica contra o Atlético Paranaense fora de casa. Até hoje eu não compreendi por que nosso treinador não foi mais ousado. Não tínhamos Diego por conta de suspensão? Eu iria de “calça de veludo ou bumbum de fora”. E jamais, e enfatizo o “jamais”, Alan Patrick seria opção em minha escalação. Faltou apetite ao time, o que nos custou a bagatela de mais de três milhões de reais, por termos ficado em terceiro lugar na classificação final da competição.
Dito isso, conclamo a todos refletirmos sobre a avaliação do feito de nosso elenco no ano de 2016, aos limites de nosso treinador e, principalmente, aos exageros em relação aos elogios incondicionais a gestão Bandeira de Melo, que possui todos os méritos no âmbito administrativo-financeiro, mas que ainda deve muito no campo de resultados do futebol. Ou seja, ainda há um longo percurso a ser cumprido. Nas minhas projeções, nosso ano de conquistas começaria agora em 2017, porém inexistem garantias.
Vamos a outros cheiros que começaram em 2016 e se adentram ao ano nascente.
Cheiro de tragédia
Não há muito que se dizer das perdas humanas, materiais e imateriais decorrentes da queda da aeronave que transportava equipe e outros profissionais que acompanhavam a Chapecoense. Algo terrível que, diante das apurações preliminares, tudo indica que poderia ter sido evitado.
E diante da dor de familiares, dentre os quais destaco o zagueiro Marcelo, um dos jogadores que vestiram o Manto sagrado, que deixou uma criança de um ano de idade, eu faço questão de enaltecer o trabalho incansável e extremamente difícil de minha colega corretora de seguros Liciane, que desde os primeiros momentos se dedica ao atendimento dos dependentes dos profissionais que perderam suas vidas. Clique aqui para saber mais sobre a Liciane.
Sei que o trabalho das companhias Porto Seguro e Itaú Seguros foram, até o presente momento, impecáveis. Mas o grande problema está ligado ao seguro da aeronave. Faço votos de que, na impossibilidade de reparar o dano emocional, que as indenizações atenuem esse triste momento de perdas.
Cheiro de modelo errado de gestão
Inegavelmente a queda do Internacional para a segunda divisão é uma responsabilidade direta de consecutivos erros da diretoria colorada. Ter quatro treinadores na temporada, sendo um deles a “solução Roth”, já é uma demonstração de como é tênue o resultado de um trabalho, mesmo com um bom elenco a disposição.
O América Mineiro deveria seguir o exemplo da Chapecoense, que vem, exatamente como destaquei na prévia que escrevi sobre o campeonato, desde que chegou à primeira divisão, uma estratégia esportiva vitoriosa, amparada por uma boa gestão financeira.
Cheirinho de Conca.
Há uma enorme preocupação em relação aos aspectos táticos de como que Conca entrará na equipe, se poderá jogar junto com Diego. Isso definitivamente não me preocupa. A Copa de 70 nos deixou um grande ensinamento de que a solução está em reunir atleta que saiba jogar futebol. Aquela Seleção Brasileira, não apenas tinha “as feras do Saldanha”, como um banco de reservas de fazer inveja.
Minha preocupação está em outro sentido. Mesmo que Conca se recupere da lesão, há que se dar um tempo para que se recondicione para competições que são muito mais duras que o Campeonato Chinês. Então eu IMPLORO para que tenhamos paciência com a questão. Vejo com bons olhos a contratação, principalmente diante de dois exemplos recentes. Rever, cuja lesão gerou a plena convicção do Atlético Mineiro de que ele não voltaria a jogar bola em alto nível, e a do Robinho, que chegou muito abaixo de um condicionamento físico ideal. Ambos tiveram atuações destacadas no Brasileirão 2016.
Cheirinho da base
Uma das coisas que mais me incomodava nos últimos tempos eram as críticas aos jogadores oriundos das categorias de base. O maior problema não era os atletas isoladamente, mas sim a defasagem na estrutura de formação fosse ao aspecto material, quanto profissional humano.
E aproveito para enfatizar que esse trabalho foi retomado anteriormente a gestão Bandeira de melo, que possui todo o mérito em concluir ações que tiveram início desde Jorge Helal, até mesmo continuados na gestão Patrícia Amorim. E falo na Patrícia, para mais uma vez separarmos, a atleta, mulher, mãe, de todos e quaisquer equívocos do período em que esteve na presidência do Clube.
Quero lembrar que, a FAF – Frente Ampla pelo Flamengo foi constituída por união, e não por ódio aos dirigentes anteriores. Aquele Flamengo vitorioso da década de 80 foi possível devido a mudanças significativas na direção do Clube. E antes, e até mesmo durante o período mágico da era Zico, nós tivemos derrotas pontuais. O que nos tornou fortes foi justamente saber como superar os momentos difíceis. Veja mais sobre a relação entre FAF e Chapa Azul.
Estamos diante de diversas promessas. Nosso comportamento deve ser o de nos esforçarmos em eliminar a passionalidade que joga um menino do céu para o inferno de um jogo para o outro. Patrick e Vinícius Junior ainda terão uma longa estrada pela frente, enquanto a fila dos titulares no futebol profissional anda lentamente. Nesse momento há outros meninos promissores não aproveitados, o que nos diferencia momentaneamente do Santos, que não cansa de lançar “meninos da Vila”, e isso me incomoda muito. Por que não fazemos o mesmo na Gávea?
Cheiro de especulações
Tenho acompanhado o desespero diante da ansiedade, até natural, pera contratação de reforços. Mas por qual motivo devemos fazer loucuras? Farei um exercício aqui com vocês. Por favor, os números que utilizarei são os divulgados na imprensa e nas redes sociais; caso não sejam precisos peço encarecidamente que não me hostilizem.
Citando alguns jogadores que vi sendo pedidos por flamenguistas, eu apontarei salários que já foram pedidos ou pagos:
- Marcelo Moreno – R$500.000,00
- Montillo – R$400.000,00
- Marinho – R$800.000,00
- Robinho – R$1.000.000,00
- Fernandinho – R$500.000,00
- Tardeli – R$800.000,00
Contratar é fácil. Contratar bem é outra história. Desses citados eu sou fã do Robinho e do Tardeli. Só que o Robinho de 2017 é muito diferente do Robinho de 2004. O atual já passou pelo seu auge, embora tenha a meu ver condições de jogar no Brasil ainda por mais uns três anos. Se eu quero ele no Flamengo? Claro! Mas o preço não é só o salário em si, mas também os impactos de uma política de supersalários sem garantias de resultados concretos.
Tardeli? Pensem friamente, ele foi duramente criticado em boa parte de sua passagem pela Gávea. Saiu a preço de banana para o Atlético, e agora seria um mar de rosas? Ele deve valer os R$800.000,00, mas quero repetir a seguir uma história que já contei algumas vezes.
Há uns cinco anos encontrei com o Dadá Maravilha aqui em Belo Horizonte. Ele é uma figura muito carismática, adorado por torcedores de diversos clubes, até mesmo pelos cruzeirenses. Ele foi profissional em dezoito clubes, incluindo o Flamengo. Eu perguntei para ele, naquela ocasião, quanto seria o salário dele se ele jogasse atualmente, o que me respondeu prontamente “-R$800.000,00”.
– E o salário do Pelé, quanto seria? Perguntei.
“- Para pagar o Pelé teriam que encher o Maracanã de ouro”.
E é isso. Quantos jogadores como Leandro Damião ficarão sobrevalorizados? O futebol que Leandro Damião apresentou no Flamengo vale quanto de salário? Quanto seria o salário real de Marinho?
Não posso acusar a diretoria do Flamengo de morosidade nas contratações. Jogadores desejados pelo Rubro-Negro sempre tiveram seus valores majorados. Nossas contratações devem ser pontuais e com as devidas promoções da base. Vejam o caso do Jorge, ele resolveu a lateral esquerda do Flamengo e já representa um patrimônio significativo. Com o Clube forte financeiramente, Jorge só sairá para o exterior mediante proposta robusta.
Cheirinho de hepta e a Magnética
Aproveito a oportunidade para mais uma vez questionar algo que virou um chavão, mas do qual discordo veementemente. A Torcida do Flamengo NÃO é patrimônio do Clube. É justamente o contrário. O Flamengo é o patrimônio da Magnética. Seja de seus sócios formalmente tidos como “Patrimoniais”, seja por qualquer Rubro-Negro que se julgue no direito em possuir um pedaço de Flamengo em seu coração.
Nós já perdemos o antigo Maracanã, onde reiteradas vezes colocamos mais de 100.000 pessoas. Agora, após várias obras milionárias, com seus respectivos escândalos, temos a notícia de que o Estádio Mário Filho está abandonado? Entendo que a gestão do estádio deveria ser pública. Entenda-se pública, não estatal. Transparente e inovadora. Temos que colocar o dedo na ferida! Gratuidades? Só mediante contrapartida. Se existem leis que garantem isso, que se façam aditivos ou revogações. Se possível, quem tiver a gratuidade que pague com serviços voluntários.
Se alguns políticos, incluindo algum com o qual eu possa simpatizar, se sentem no direito de interferir no preço dos ingressos dos jogos do Flamengo, por exemplo, então que comecem a apontar soluções práticas e objetivas, e não demagogias ou populismo. O Flamengo precisa do Maracanã. O Maracanã não existe sem o Flamengo.
O Estádio da Ilha do Governador é uma solução para jogos de pequeno porte. Jogar Libertadores lá, assim como grandes clássicos é deixar de arrecadar muito dinheiro.
E quero deixar registrado que escuto de torcedores de outros times o seguinte. Que eles acreditavam que o Flamengo pudesse superar o Palmeiras no campeonato de 2016, mas que o “Cheirinho de Hepta” atrapalhou. Nós rubro-negros sabemos que não foi isso que nos atrapalhou, muito pelo contrário. Nossa irreverência rompeu com a chatice do “politicamente correto”. Na prática, o Flamengo está colocando em cheque a estrutura arcaica do futebol brasileiro. E isso hoje está formalizado em nossos estatutos e práticas. E isso não é um patrimônio exclusivo de uma diretoria específica, mas sim de todos os flamenguistas.
Cheiro forte de m….
É impressionante como as federações estaduais e a Confederação Brasileira de Futebol permanecem na contramão da necessidade dos clubes. Para não gerar um aborrecimento maior, nem falarei da casa dos foragidos da CBF. Mas não consigo entender por qual motivo a FERJ não organiza um campeonato estadual decente. Recordo-me de uma edição em que todo final de semana havia um clássico. Foi um sucesso. Campeonato curto e rentável. Mas não, a Federação parece estar sob o domínio do mal. E todos sabem quem ele é…
Eu espero que o Flamengo utilize o Carioca para escalar jogadores como Ronaldo, Donati, Mancuello, Adryan (esse infelizmente parece que não ficará), Cuellar e outros. Passou da hora de mantermos um banco de reservas de luxo, sem grandes oportunidades.
Em 2017 precisaremos muito mais que um time. Mais do que nunca o elenco será decisivo. Com a Libertadores nos moldes propostos atuais, nenhuma equipe brasileira possui tantos jogadores de qualidade assim para responder ao conjunto de desafios estabelecidos por todas as competições da temporada.
Com essa percepção, Jorge e Trauco não concorrem entre si necessariamente. Eles podem ser úteis juntos ou separados. Primeiro que o peruano joga em mais de uma posição habitualmente, segundo que haverá situações em que perderemos os dois para eventuais convocações de jogos com suas seleções. E aí mais uma vez entra o total descompromisso das entidades para com os clubes. Os campeonatos deveriam PARAR nas datas FIFA. Falo mais nada…
Cordiais Saudações Rubro-Negras!
Ricardo Martins é corretor de seguros de vida, carioca radicado em Belo Horizonte.
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