Ricardo Martins (Twitter: Rick_Martins_BH)
Blogueiro da Nação – Minas Gerais
“Todos são culpados, mas ninguém tem culpa”
Robert Hoffman
A temporada para o futebol profissional do Flamengo transformou-se em um filme de terror. Desde o fatídico empate de 0x0 contra o possante Nova Iguaçu, o time vem apresentando resultados insatisfatórios em campo. Foram nove pontos disputadas para conquistar um mísero ponto no Brasileirão.
Como é bem próprio de nossa, nós ficamos buscando culpados, nesse momento apontam o demitido Luxemburgo, parte do elenco, o elenco como um todo, os reforços de peso que teimam em não acertar, a imprensa esportiva, a arbitragem, o campo, o goleiro adversário, as traves, os cornetas…
Alguns se esforçam para afirmar que o problema está no passado. E eu concordo que para compreender o momento atual, de fato é importante buscar explicações na história, principalmente para não repetir seus erros. Todavia, não podemos esquecer que para dirigir um veículo há que se olhar para frente, pois o retrovisor será apenas para auxiliar manobras pontuais.
O Flamengo atual é derivado das escolhas das gestões passadas, mas também das escolhas da gestão atual. Se isso não ficar bem claro, sempre haverá demonização de tudo que se fez antes, e uma vã tentativa de justificar quaisquer atos da diretoria atual.
Como eu nunca participei da vida política do Clube, esta divisão que estabelece uma corja contra os blues inexiste em minha cabeça. Eu jamais torci por uma gestão específica, embora seja um admirador das conquistas da FAF, que foram dentro e fora de campo. Para que tenham uma idéia, além dos títulos, o Flamengo da década de 80 tinha um grupo que fazia churrasco toda segunda-feira, e que recebia suas premiações 48 horas após os jogos. Bons tempos aqueles…
Mas toda aquela conquista começou a ser destruída após o título brasileiro de1992, quando a direção conseguiu a façanha de se desfazer de jogadores preciosos, que continuariam a serem vencedores em outras equipes. Destaco os nomes de Zinho, Paulo Nunes, Djalminha, Marcelinho Carioca, Sávio, e até mesmo o de Junior Baiano. Muitos desses oriundos da histórica conquista da Taça São Paulo de Futebol Juniores de 1990.
1995 é o início de uma nova era no Flamengo, onde se rompe com a política do bom, bonito e barato, e começam as contratações de impacto, com ênfase na vinda de Romário, recém campeão do Mundo pela Seleção Brasileira. O problema é que tal diretriz acabou tirando definitivamente o Clube da linha, nos levando a um jejum de brasileiros, quando vimos Palmeiras Parmalat, São Paulo, Corinthians, Santos e Cruzeiro saltarem em suas conquistas.
É inegável que a gestão atual busca romper com as mazelas que culminaram com a absurda ação de Miguezinho Gaúcho contra a instituição Flamengo, maior erro da gestão Patrícia Amorim.
Entretanto devemos refletir acerca das escolhas dos presentes gestores, também passíveis de equivocos. E, pelo que percebo, a diretoria atual também deve aprender com os seus próprios erros. Um deles é bastante conhecido, a contratação de Enganey Franco em 2014, principalmente pela forma como fora dispensado Jayme de Almeida.
Levando em conta essa premissas, eu quero elencar alguns pontos nevrálgicos.
Existe muita especulação. O time não deve estar treinando; o treinador perdera o grupo, alguns jogadores fritaram o técnico, não chegam reforços de qualidade. Como não tenho acesso privilegiado, me resta, ou especular, ou buscar analisar os fatos, ou um pouco de cada, que é o que vou acabar fazendo.
1) Treinador – Aparentemente Luxemburgo tinha dificuldades em comandar o grupo, e manifestava suas mudanças baseadas em atletas de sua confiança, ou nos mais novos. Ele treinava o time, mas os resultados em campo não apareciam;
2) Reforços – Notoriamente há muita complexidade em trazer jogadores no momento. Alguns tentam atribuir o problema na falta de planejamento, mas pergunto, como competir com as equipes brasileiras que estavam, ou estão na Libertadores? Lucas Pratto é um exemplo vivo disso;
3) Demitir as “laranjas podres” do elenco. Destaco o twiter do Léo Moura ironizando o momento atual do Fla. Custo a crer que a postagem seja dele, mas se de fato for, a situação é muito crítica.
Existem muitas coisas que contribuem para as contingências atuais no Flamengo. Nem todas são controláveis, como por exemplo, o bombardeio da imprensa esportiva, provavelmente saudosa da época em que o Clube tinha o nome exposto nas páginas policiais. Afinal, não podemos, e nem queremos ferir quaisquer liberdades de imprensa ou civis.
Porém, se entendermos que o momento não é para se apontar culpados, ou caçar bruxas, provavelmente enxergaremos que não caberia a nós demitir o treinador, ou qualquer jogador, assim como não é a Torcida que faz as contratações para o time de futebol.
O momento não é de atribuição de culpa, mas sim de se assumir a responsabilidade. E quem tem que tomar as rédeas é a diretoria do Clube de Regatas Flamengo. Ela é a responsável pela contratação de Luxemburgo, dos jogadores que foram contratados ou dispensados, por cobrar resultados e, obviamente, pela situação financeira e fiscal da Entidade Flamengo. Não há dicotomia nessas atribuições. Cada ato é consoante a estratégia de gestão adotada.
O que não podemos aceitar é a posição de enfiar a cabeça no buraco, como se a diretoria fosse uma avestruz. O rigor adotado fora de campo deve ser o mesmo em relação ao treinador e elenco. Se por uma questão de economia os profissionais não são cobrados ou demitidos (se necessário), isso também é uma responsabilidade da diretoria. Não haverá continuidade de gestão que se sustente em um clube popular como o Flamengo se os resultados no futebol não forem minimamente satisfatórios.
Moro em Belo Horizonte, onde existe um time muito popular. Pois saibam que, mesmo após 3 conquistas consecutivas, e com muita “babação da mídia”, a derrota do Atlético Mineiro para o Atlético Paranaense foi motivo para choverem pesadas críticas por parte da torcida do Galo, para todos os jogadores. E aí, o que podemos concluir que, lamentavelmente, o hábito da cobrança do torcedor e da imprensa é permanente.
Mas um gestor deve transcender o lugar comum. Demitir Jayme de Almeida no ano passado foi, principalmente na forma, um erro, devidamente comprovado n péssimo desempenho do treinador que o sucedeu. O momento atual detém algumas semelhanças, mas em essência é muito diferente, pois pelo que se divulga, o Clube encontra-se em dia com os compromissos salariais de funcionários e jogadores, o que pode não passar de obrigação, mas que era raridade até pouco tempo.
Confesso que a decisão da diretoria não traduz a minha preferência, mas respeito a atitude de se tomar uma decisão. Nesse momento os jogadores estão em cheque. Se jogarem bem a partir já dos próximos compromissos, ficará a impressão de boicote ao ex-treinador. E a se manter a apatia e desarrumação, o Flamengo, a exemplo do que promoveu na saída anterior, no caso Ronaldinho, terá feito a pior escolha.
Como torcedor jamais colocarei as minhas admirações pessoais acima do Flamengo. Como já escrevi em recente artigo, eu torço pelo Flamengo incondicionalmente. Faço votos que a atual diretoria assuma definitivamente suas responsabilidades para com o departamento de futebol e exija, sobretudo, que os jogadores honrem o Manto Sagrado. Por que uma coisa é ser limitado tecnicamente, outra é ser omisso.
Concluo meu texto com duas citações pertinentes ao momento em que vivemos no Flamengo, no Brasil e no mundo:
“Parece que estamos remando em direção a uma sociedade onde ninguém é responsável pelo que faz, mas todos nós somos responsáveis por aquilo que outras pessoas fizeram, no presente ou no passado”.
Thomas Sowell
“Ninguém é culpado por estar doente, mas tem culpa por não buscar a cura” Wilhelm Reich
Flamengo sempre!