Eu estou me acostumando a escrever meus pensamentos e impressões sobre os jogos e os fenômenos que os cercam pelo menos 48 (quarenta e oito) horas depois.
Acho que é um tempo razoável para maturar os acontecimentos, rever o jogo, ver o movimento das redes sociais, analisar as questões que estão sendo debatidas.
E o fato curioso da derrota do Flamengo para o Botafogo no último domingo (29), foi notar nas redes sociais uma divisão entre torcedores: os indignados com o revés e atribuindo responsabilidade ao Tite pela escolha de poupar; outros falando ser um absurdo pedir a cabeça do técnico a esta altura e uns tantos indo mais além, dizendo que não poderia criticar o técnico.
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Eu vou deixar de lado todas as questões referentes ao jogo e tática (até por não ser gabaritado para tal), e focar nessa divisão que surgiu a partir da derrota.
Afinal de contas, o torcedor tem o direito de reclamar e criticar o time, as escolhas do treinador e eventualmente até vaiá-lo?
Alguns que me conhecem, sabem que sou um defensor ferrenho de que o torcedor tem o direito de torcer como bem entende. Cada um vê, sente o jogo e extravasa de formas distintas.
Existe uma pasteurização da mídia esportiva brasileira que tenta colocar o torcedor numa caixinha, de modo que todos sejam iguais, bons moços, que não xinguem no estádio, que não vaiem o time, que não reclamem do técnico.
Sinceramente, estamos indo longe demais.
Torcer é um ato de raiva, ódio, fúria, apreensão, angústia, alívio, paixão, amor. Enfim, uma gama de sentimentos misturados.
E como eu disse, esses sentimentos são únicos a cada indivíduo que os vive como entende. Tirando a violência e a agressão, que devem ser recriminadas, pois nunca fizeram bem ao futebol, os demais sentimentos e como os extravasa são legítimos.
Alguns jornalistas, que na maioria das vezes influenciam uma massa de “torcedores”, desqualifica um torcedor que ao final de um jogo com derrota, não puder criticar o treinador, o jogador, a diretoria ou quem quer que seja, sob a alegação de que tal postura significa burrice, desconhecimento, desinformação ou coisa que o valha, deveriam repensar os adjetivos utilizados e as caixas que pretendem colocar os torcedores.
O torcedor tem o direito inalienável de amar o seu clube da forma como esse amor lhe atinge e afeta, repito, desde que respeitadas as leis.
Por exemplo, não sou a favor de xingar ou vaiar o time durante o jogo, mas já me peguei em algumas situações no Maracanã, sem endossar coro algum, “xingando” o time, por estar revoltado com a atuação.
Em algumas outras já me peguei reclamando do técnico por conta de uma substituição que não foi feita, ou que fez e eu achei que não deveria ter feito.
O dia que eu não puder tecer as minhas opiniões sobre o meu sentimento diante do que vejo, aí o Flamengo acabou para mim.
E existe um movimento de boa parte da mídia que tenta calar os torcedores, sob a alegação de que os mesmos são alienados.
Os torcedores em sua grande maioria sabem muito mais do clube, do time, do que os jornalistas. E aqui não estou falando de tática, de informação de bastidor, estou falando de vivência, de estádio. Mesmo aqueles que moram em outros estados e em outros países acompanham o clube diariamente nos mais diversos canais, independentes ou não.
Então, esse discurso de que o torcedor não sabe do que fala, não cola.
Era só passar em qualquer boteco na tarde de domingo ou na padaria ontem pela manhã. Todo torcedor tinha sua opinião sobre o fato de ter poupado na altitude, de jogador A ou B não ter rendido, etc.
Essa patrulha de pessoas que tem muito engajamento, está tentando calar o sentimento do torcedor.
E aqui falo do torcedor como individuo, e não dos movimentos organizados, que muitas vezes são utilizados como massa de manobra política.
Viva o torcedor e o seu direito inalienável de questionar tudo e todos, salvo Zico e Leandro, pois estes são inquestionáveis!
Rubro-Negro desde 1978, direto de Nova Iguaçu, pai de duas Marias. Batuqueiro nas horas etílicas. Instagram e Twitter: @ricomonteiro21.
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