Muito tem se falado nos últimos dias sobre o male gaze, ou seja o olhar masculino, que retrata a mulher como objeto sexual para o prazer do espectador homem.
A entrevista do presidente executivo do Serviço Olímpico de Transmissão (OBS, na sigla em inglês), Yiannis Exarchos, sobre o assunto repercutiu no mundo inteiro: ele pediu para que os operadores de câmera tratem todos os atletas (homens e mulheres) da mesma forma no momento das filmagens.
Betsul 5 de 5 | 100% ATÉ R$600 |
|
“Infelizmente, em alguns eventos, as mulheres ainda estão sendo filmadas de uma forma que você pode identificar que estereótipos e sexismo permanecem, mesmo pela forma como alguns operadores de câmera estão enquadrando atletas homens e mulheres de forma diferente. Atletas mulheres não estão lá porque são mais atraentes ou sensuais ou o que quer que seja. Elas estão lá porque são atletas de elite”, segundo Yiannis Exarchos.
➕ COLUNA DA MARION: Sonhos e desejos
Essa constatação é pertinente obviamente, e sua repercussão significativa. Porém, ela não é nova. Há muitos e muitos anos, tem se falado sobre o male gaze, e a necessidade de desconstruir esse olhar abusivo e até violento sobre o corpo feminino das atletas. Nos anos 70, a jogadora de tênis Billie Jean King já denunciava as redes de televisão que filmavam as roupas íntimas das tenistas…
Portanto, a intervenção do Yiannis Exarchos é correta, porém muito limitada e ultrapassada.
Parece mais uma tentativa de proteger sua empresa contra possíveis denúncias, em uma época de maior empoderamento feminino, do que vontade de realmente modificar a realidade das atletas.
Não seria mais interessante questionar as vestimentas? Ou introduzir mais mulheres atrás das câmeras? Ou até cobrar meios de reflexão e ação dos patrocinadores?
Constatar uma obviedade é muito pouco. Tentar entender os conceitos freudianos e lacanianos sobre a escofilia, o prazer de olhar, também não bastam mais.
Estamos cansadas de denunciar, de apontar o óbvio, de explicar, de compreender e de perdoar.
Precisamos de ações concretas, ações amplas, desconstruindo atitudes abusivas.
As Olimpíadas de Paris evoluíram muito em termos de igualdade de gênero, nas premiações e na paridade de homens e mulheres nas 32 modalidades olímpicas.
Porém, muito ainda tem que se evoluir. Os homens ao meu redor sempre falam que isso virá naturalmente, não há o que precipitar…
Se vocês sofressem a vida toda com falas e atos violentos, vocês iam querem esperar? A revolta é o motor da mudança. E quanto maior o abuso, maior a revolta, maior a pressa.
Queremos equidade em tudo, agora e já!
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72