Após iniciar o Campeonato Brasileiro empatando com o Atlético-GO, o Flamengo de Paulo Sousa venceu sua primeira partida na competição contra o São Paulo.
Mais do que o resultado, o Flamengo apresentou uma grande evolução no trabalho sem bola. E o técnico português tem um grande impacto nesta melhoria, apresentando ajustes importantes em seu plano de jogo.
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Com João Gomes mais próximo dos atacantes, Flamengo dificulta saída de bola do São Paulo
Ao invés de pressionar a saída de bola com um meia-atacante mais próximo de Gabi e Arrascaeta, Paulo Sousa optou por utilizar um outro jogador para subir pressão junto com a dupla: João Gomes. Desde o início do jogo, o atleta formado na Gávea se juntava aos dois atacantes para constranger a saída de bola do São Paulo.
Rogério Ceni optou por utilizar Pablo Maia baixando entre os zagueiros para fazer a saída de três. Rafinha, pela direita, dando apoio pelo corredor lateral. Já Welington atuou mais avançado, gerando amplitude pelo setor.
Para dificultar a primeira fase de construção do tricolor paulista, João Gomes foi o encarregado de marcar o setor à frente da dupla de zagueiros. Além de pressionar o volante são-paulino, João também precisava recompor a linha de meio campo caso a equipe paulista conseguisse avançar em segunda fase de construção. Com isso, Paulo Sousa dificultava a saída de bola do São Paulo e limitava situações de inferioridade numérica no meio de campo.
Dessa forma, o Flamengo conseguiu limitar o volume ofensivo dos comandados de Ceni e, além disso, criar algumas situações de gol. Logo aos três minutos, após roubada de bola de Filipe Luís, Everton Ribeiro quase marcou, mas parou em Jandrei. Vinte minutos depois, o Flamengo abriu o placar. João Gomes roubou bola de Nestor a rapidamente acionou Arrascaeta. O meia uruguaio passou para Lázaro na entrada da área, que acionou Gabi em facão para tocar na saída do goleiro são-paulino e abrir o placar. 1×0.
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Apesar de superioridade rubro-negra, São Paulo encontra empate no fim da primeira etapa
Em organização ofensiva, o Flamengo voltou a apresentar as boas dinâmicas geradas na vitória contra o Talleres pela Libertadores. Com Arão na linha de zagueiros, a equipe ganha uma grande arma para acionar Everton Ribeiro em passes de ruptura. Atuando como zagueiro, o volante é acima da média no país com bola atuando pelo setor.
Sem Bruno Henrique ou Pedro para gerar apoios frontais, o Flamengo não forçou tanto as bolas longas. Saiu de forma curta na maior parte do tempo usando João Gomes e Thiago Maia por dentro. A dupla de volantes ainda não consegue ser vertical para realizar domínio orientado e encontrar os atacantes com frequência, mas ambos já estão conseguindo ser efetivos em passes laterais, buscando os alas Rodinei e Lázaro.
Arrascaeta também merece destaque pelas participações com bola mais longe do gol. Diferentemente de Everton Ribeiro, se apresenta para receber o passe à frente dos volantes, o uruguaio muita das vezes busca a bola próximo dos zagueiros e acelera o jogo com Lázaro pela esquerda.
Por parte do São Paulo em organização defensiva, Rogério Ceni optou por mudar Alisson e Igor Gomes de lado. De modo que, com Eder fechando por muitas vezes o lado direito, o São Paulo se defendia numa espécie de 4-1-4-1 com Alisson mais por dentro. A equipe não conseguiu encaixar a pressão na saída de bola rubro-negra e facilitou bastante do trabalho do trio de zaga.
Apesar disso, o São Paulo conseguiu o empate no fim do primeiro tempo. Em uma desencaixe de Lázaro pela esquerda em transição defensiva, Rafinha recebeu bola descoberta livre e cruzou para área. Calleri se aproveitou da falta de mentalidade zonal de Rodinei e de cabeça, empatou a partida. Vale destacar que Gabi poderia recompor o setor, mas preferiu se manter mais avançado em cima de Diego Costa.
A primeira etapa terminou com a sensação de que o Flamengo não transformou sua superioridade em vantagem no placar.
Ceni faz ajuste no meio e sofre menos na saída de bola
O segundo tempo iniciou com uma mudança no São Paulo: Gabriel Sara entrou no lugar de Pablo Maia. Com isso, Igor Gomes passou a ser o primeiro volante da equipe e Sara pela esquerda gerou mais apoio, baixando numa região próxima a Rodrigo Nestor para ser acionado.
Além disso, Rafinha voltou a ser o defensor mais próximo de Diego Costa e Léo na saída de três, liberando Igor Gomes para atuar a frente do trio. Com isso, o São Paulo conseguiu sofrer menos com a pressão realizada pelos atacantes rubro-negros, mas ainda seguiu gerando pouco volume ofensivo mais próximo do gol.
E isso muito tem a ver com bom trabalho de Everton Ribeiro e Lázaro fechando os corredores laterais. Auxiliando bastante Rodinei e Filipe Luís pelo lado do campo, não permitiam que os ponteiros são-paulinos entrassem em situações de superioridade numérica ou qualitativa.
Com mudança nas alas, Flamengo chega a vitória
Por motivações diferentes, Paulo Sousa mudou seus dois alas aos 15 minutos da segunda etapa. Isla entrou no lugar de Rodinei, que fez um jogo pra se esquecer tanto com bola, quanto sem bola. Já Marinho entrou no lugar de Lázaro para dar maior profundidade e força a equipe pelo corredor lateral esquerdo.
E coincidentemente Isla e Marinho foram decisivos para a vitória rubro-negra. Aos 24 minutos, o lateral chileno recebeu belo passe de João Gomes, ultrapassou Welington e de esquerda marcou o gol da virada do Mengão. 2×1.
Três minutos depois, Marinho foi bem acionado em bola longa por Everton Ribeiro, venceu Rafinha no duelo individual e cruzou para Arrascaeta dar números finais a um confronto que começava a se tornar perigoso para o Flamengo.
Ceni, que já havia sacado Eder para a entrada de Nikão, buscou um fólego final com as entradas do estreante André Anderson. Além disso, trouxe a campo os laterais Igor Vinícius e Reinaldo. Porém, a equipe pouco produziu e passou longe de gerar perigo ao Flamengo até o fim da partida.
Mais que o resultado, desempenho defensivo é o destaque do Flamengo contra o São Paulo
Como já citado, a tônica da vitória do Flamengo sobre o Talleres foi a evolução da equipe com bola. Analogamente, podemos citar que a vitória contra o São Paulo teve como grande destaque a evolução da postura defensiva da equipe.
Melhor compactação da equipe nesta nova formatação de encaixes na saída de bola adversária permitiu que a equipe se defendesse com eficiência e também construir com bola após retomar a posse.
Todavia, é preciso ter cautela com relação ao trabalho de Paulo Sousa. Se nos momentos ruins, o Mister não era culpado de todos os problemas do time, nas vitórias também não é responsável por todas as virtudes. A evolução individual de alguns jogadores também foi importante para os últimos triunfos rubro-negros.
De qualquer maneira, é possível enxergar novamente um Flamengo em franca evolução!
SRN
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