O Flamengo é o que não se explica. Há um ano, a América voltava a ser pintada de vermelho e preto, em um roteiro digno de cinema
Blog Resenha Rubro-Negra – Bruno Andrade – Twitter: @andradebrunoc
Mark Twain, escritor e comediante americano, disse que “os dois dias mais importantes da sua vida são o dia em que você nasce e o dia em que você descobre o porquê.” Ele não errou. E há um um ano, uma nação descobriu, juntos, o motivo pelo qual nasceu.
Dizem que o tempo é o melhor remédio, que você aprende a entender as coisas e a emoção passa. Falácia. Pelo menos quando tratamos do dia da nossa libertação. Todo flamenguista, vivo ou morto, imaginava inúmeros roteiros, incontáveis heróis, infinitos lugares, inumeráveis rivais e imensas histórias. Nenhum foi capaz de desenhar com tamanha exatidão o que aconteceu em Lima, na Final Única.
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Compareci em derrotas vexatórias. Presenciei das arquibancadas um time favorito cair para o América do México, uma equipe com Ronaldinho Gaúcho ficar pelo caminho, um elenco modesto cair pro fraquíssimo Leon. De casa, vi aos 47 na Argentina, o sonho mais uma vez ir por água a baixo. Sofri, muitas vezes aos prantos, outras calado. Mas, ao mesmo tempo, me tornei forte e passei por todas essas turbulências ainda mais rubro-negro, ainda mais firme no nosso casamento.
Em 2019, lá em janeiro, já me sentia renovado e pronto pra enfrentar de frente o meu sonho novamente, mas dessa vez com uma força descomunal, uma vontade impressionante de, enfim, realizá-lo. A trajetória começou como qualquer clássico de cinema: fraco e devagar. Era como se o estrelado elenco ainda não tivesse aquele diretor que extraísse o máximo de cada ator. E como toda grande produção, era só questão de tempo.
Ainda usando o cinema como exemplo, era como se fossemos coadjuvantes. Porém, coadjuvantes como o coringa de Heath Ledger, ou o coronel Hans Landa, de Bastardos Inglórios. Prontos para tomarem pra si um filme que não foi escrito pra isso. E o primeiro passo pra isso? Tirar a poeira do passaporte europeu e buscar em Portugal o melhor que poderíamos. O tal grande diretor.
Me emociono toda vez que vejo a caminhada de 2019, todas as vezes que olho as fotos no Maracanã, quando lembro da sensação de dever cumprido quando vencíamos os jogos e da alegria em seu estado mais puro, descendo a rampa e cantando como se o amanhã simplesmente não existisse. O Flamengo é o que não se explica.
Cada passo foi dado, todas as desconfianças foram deixadas pra trás, todos os rivais nocauteados e chegamos lá. 23 de novembro de 2019. Monumental U que virou Maracanã, Lima que virou Rio de Janeiro, Peru que virou Brasil. Um sábado que virou carnaval.
Acredito que a grande maioria não acompanhou quando Gabriel viu a bola implorando pra ser chutada, ainda estavam em lágrimas pelo primeiro gol também marcado pelo anjo. Acredito que alguns, ainda incrédulos, acompanharam toda a saga do segundo gol e ainda não acreditam no que aconteceu. Seja como for, vivenciamos aquilo de uma forma única, e isso ninguém tira.
Esse dia será contado pros filhos, netos, bisnetos. Será lembrado independente do que aconteça no futuro. Quem esteve ali contará com sorriso no rosto sobre o dia que o Brasil sorriu após 38 anos, que uma nação se curou de todos os cortes, que a América, finalmente, pintou-se novamente de vermelho e preto.
Cansados de ouvir histórias, aprendemos a vivencia-las.
2020.23 de novembro.
Um ano da glória eterna.
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