Histórias que flamenguistas contam #02 – Paulo César da Silva Bispo
Saulo Villela | Twitter @SauloVillela
Salve galera, demorou, mais chegou o segundo capítulo da série “histórias que flamenguistas contam”. Hoje o bate papo será com um ícone do fanatismo que temos aqui no estado de Sergipe, mais precisamente a capital Aracaju.
Estive aqui com Paulo Cesar da Silva Bispo, o vulgo Cabelinho, de 51 anos é um dos torcedores mais apaixonados que existem na nossa capital. Talvez você que esteja aí do outro lado lendo, o conheça de longe ou de perto, mas tenho certeza que sempre quis saber um pouco mais da vida desse “maluco”. Já você que está curioso para ler, vai conhecer a alma flamenga em pessoa, tanto nas vestes quanto nos breves relatos que aqui transmitirei.
Fui recebido com o Hino do Flamengo, e não, não era porque eu estava lá. Relatos que ele só vive tocando músicas do mais querido. Fotos, quadros, faixas. São muitas coisas, todas lembram o Flamengo e todos os cantos. Durante todo o papo o som tocou várias músicas do Mengão!
Nascido e criado na terrinha, ele conta como foi a origem dele como torcedor:
– Eu nasci flamenguista. Meu Pai, minha mãe eram flamenguistas. Mas eu queria ser um flamenguista independente. Ganhei minha primeira camisa do Flamengo do meu pai, com 9 anos de idade. Meu primeiro jogo ao vivo foi Flamengo x Atlético-MG na final de 1980, no Maracanã. Eu tinha dezesseis anos. Ali eu soube que era o que eu realmente queria seguir na minha vida.
Logo depois, Cabelinho se tornou funcionário público e continuou sua devoção pelo mais querido:
– Eu pedi a Deus um emprego que pudesse vestir as cores do Flamengo, graças a Deus eu passei no concurso do Estado que nunca me impediu de usar a camisa do Flamengo no trabalho. Não me convide para nada que eu não possa utilizar a roupa do Flamengo. Casamentos, festas, batizados. Se eu não puder usar a Camisa do Flamengo eu não vou.
Com seu jeito peculiar de se vestir e torcer, me contou qual foi o jogo mais emocionante e suas superstições:
– Meu jogo mais emocionante que eu vi ao vivo no Maracanã foi em 2001. Eu tenho a cabeça meio baixa por causa daquele jogo. Eu não vi um ferro que tinha lá e na hora do gol acabei batendo a cabeça. Eu pedi tanto a Deus para me iluminar e ele me iluminou.
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– Eu não gosto que ninguém tire onda comigo. Eu não mexo com ninguém para ninguém mexer comigo. Eu tenho meu ritual de assistir jogos. O meu jeito de torcer é meu jeito. Não tente me mudar. Quando o Flamengo ganha eu tomo banho de Coca-Cola. É uma tradição minha. Também tenho que mastigar alho por conta do estômago fraco que tenho(risos). Você sabe como é… Eu também não falo o nome do time da cruz (Vasco)… Não gosto de falar aquele nome.
Durante toda a conversa, um nome era sempre citado. Ari, seu grande amigo, parceiro e companheiro. Praticamente um irmão que compartilhou histórias, viagens, ideias e que o deixou vítima de câncer:
– Um dos meus sonhos é voltar com o Baile Vermelho e Preto aqui. Eu e o finado Ari, no fim da década de 70, fazíamos, mas a Antiga atlética acabou abocanhando o Baile.
– Em uma das viagens que fizemos para ver um jogo, em 2010, um cara queria porque queria que nós fôssemos no ônibus dele. Embarcamos, mas na saída de Aracaju, ele se sentiu mal e pediu pra descer. Eu disse a ele que se ele descesse eu ia junto. Pagamos as passagens e descemos. A mulher dele veio buscar e fomos no carro dele até Recife. Assistimos ao jogo e voltamos por conta própria.
– Eu e ele fizemos uma viagem até o rio de Fusca. Foi em 1990, Flamengo x Grêmio. Demoramos quase uma semana. Chamava a atenção de todos, tanto aquele carro e ainda mais quando dizíamos que éramos de Sergipe. Felizmente o Fusquinha não quebrou.
Emocionado, não escondeu a saudades do amigo e lembrou que todo dia 2 de novembro faz uma cerimônia em homenagem ao grande rubro-negro. Também tem uma enorme vontade de estruturar sua própria sede de torcedor, em vários momentos falou nisso e deixou um recado:
– O que eu queria era alguém que olhasse para mim como torcedor. Eu tenho uma sede que eu queria apenas torcer e estruturar. Queria um apoio para voltar a fazer o que sempre gostei de fazer.
Seu jeito atípico, sua paixão pelo Flamengo faz de Paulo Cesar um personagem da história Rubro-Negra. Mostra a imensidão do que é ser Flamengo, do que é esse sentimento. É ser uma família de 40 milhões de irmãos. Faz amigos e é admirado em vários lugares. Despedi-me dele prometendo nos encontrar brevemente para assistir um jogo juntos, sempre respeitando suas tradições. Onde estiver, estarei…
PS: No dia seguinte ao nosso encontro, encontrei Cabelinho indo para o trabalho, de bicicleta, todo vestido com o fardamento do mais querido, na sua personalidade de sempre.