Bap recua e garante aprovação do contrato com a Globo

Após fazer campanha nos bastidores contra o novo contrato do Flamengo com a Globo, dizendo não ter sido ouvido nas negociações e apontando perdas milionárias, o presidente do Conselho de Administração e pré-candidato a presidente do Flamengo Luiz Eduardo Baptista, o Bap, recuou durante a reunião do Conselho Deliberativo e acabou sendo decisivo para a aprovação do acordo.

O MRN ouviu de conselheiros relatos de que viram Bap reunido com sócios pregando voto contrário ao acordo menos de uma hora antes da votação, no bar da piscina do clube. Após a apresentação dos dirigentes da Libra e do Flamengo e os pareceres de comissão, entretanto, Bap fez um discurso aceitando os argumentos a favor do contrato e defendendo que o Flamengo busque novas receitas. Embora não tenha defendido a aprovação, também não pediu voto contrário.

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O discurso de Bap surpreendeu até o presidente interino do Conselho Deliberativo. Fábio Domingos, que após as apresentações dos contratos abriu o microfone aos conselheiros e disse que, como havia excesso de inscritos, tentaria revezar quem falasse a favor do contrato com quem falasse contra. Após dar a palavra a Getúlio Brasil, vice-presidente do Fla-Gávea, que defendeu o contrato, Domingos chamou Bap com a expectativa que ele fosse falar contra o acordo.

Entretanto, Bap afirmou que não podia criticar a negociação do contrato justamente por não ter participado dela e disse que os profissionais responsáveis tinham esclarecido bem as circunstâncias nas quais o contrato tinha sido fechado.

“Independentemente do que seja negociado, se o modelo for de audiência, isso sempre vai garantir o Flamengo ser o maior. Você prefere ganhar nove ou dez? Eu prefiro ganhar dez, mas foi negociado nove. Eu preferia ganhar dez, todos nós preferíamos ganhar dez, mas se tem uma regra, e ficou claro aqui na apresentação do financeiro que o fator audiência é um dos mais relevantes”, afirmou, segundo um áudio da reunião ouvido pelo MRN .

Bap culpa divisão entre blocos por perdas em contrato com Globo

Diferentemente dos seus colegas de gestão, Bap minimizou o impacto da Lei do Mandante e culpou a divisão dos clubes entre dois blocos pela redução do valor do contrato. Ele defendeu que o Flamengo faça uso do sinal limpo que a Globo vai oferecer e que permitirá ao clube transmitir seus jogos no exterior como uma maneira de compensar a perda de renda.

“O ciclo de negócios passivos, onde o Flamengo espera propostas pelos ativos que ele tem e surfa na onda de uma performance esportiva melhor, eu acho que ele está se encerrando e está muito claro neste contrato aqui. A gente vai ter que fazer mais e de forma diferente para ganhar mais dinheiro. Existem plataformas hoje no mundo que você pode vender isso, se a gente comparar com os preços que a Globo tem, vender por 20 dólares o jogo do Flamengo e fizer uma distribuição muito ampla, você vai fazer mais dinheiro”, afirmou.

Para compensar o discurso inesperado de Bap, o presidente interino do Code teve que acabar dando direito de fala a dois conselheiros que se declararam contra o acordo de forma consecutiva. Além disso, abriu a fala para mais dois conselheiros, um a favor e outro contra, diferentemente do seu anúncio inicial que só permitiria o mínimo garantido pelo estatuto de quatro falas, para permitir que um aliado mais próximo da gestão, o presidente da Comissão de Estatuto do Conselho Deliberativo Álvaro Ferreira, também pudesse falar em defesa do contrato.

Como o voto é feito em aparelhos eletrônicos desde uma confusão em reunião no fim do ano passado, não é possível saber como Bap ou seus principais aliados votaram. Entretanto, um discurso enfático do presidente do Conselho de Administração, que tem larga experiência no mercado de TV por ter sido por décadas o principal executivo da Sky no Brasil, poderia ser crucial para influenciar conselheiros indecisos a votar contra o acordo.

O contrato acabou aprovado com 218 votos a favor, 149 contra e 7 abstenções.