GUSTAVO ROMAN | Twitter @guroman
PARA SABER COMO FOI A CAMINHADA PARA A FINAL:
Biografia Rubro Negra: Capítulo 14 – O Campeonato Brasileiro de 1980 Parte 2
Biografia Rubro Negra: Capítulo 13 – O Campeonato Brasileiro de 1980 Parte 1
Atlético-MG 1×0 Flamengo
Coutinho armou a equipe com Raul, Carlos Alberto, Rondinelli, Marinho e Júnior. Andrade, Carpegianni e Tita. Reinaldo, Nunes e Carlos Henrique. A partida começou de maneira nervosa, com o Atlético em cima, pressionando, forçando as jogadas com Éder pela esquerda. A ideia era explorar o fato de Carlos Alberto não contar com o apoio de Tita na marcação, já que o ponta direita Reinaldo pouco auxiliava atrás.
O Flamengo tocava bem a bola e esfriava o time e a torcida do galo. Aos 13, Andrade deu uma entrada mais dura em Reinaldo. Foi a senha para que a partida ficasse mais violenta. Aos 18, foi a vez de Jorge Valença pegar Reinaldo por trás. Romualdo Arpi Filho nem amarelo mostrou.
O comentarista da TV Globo, Ciro José chamava atenção para a melhora do time carioca. “O Flamengo se acertou em campo. Toca a bola e não corre riscos”. Aos 30, a primeira oportunidade de gol do jogo. Éder cobrou falta na área. A zaga rebateu e Orlando bateu rasteiro, forte. Raul espalmou para escanteio.
A resposta rubro-negra veio no lance seguinte. Tita fez boa jogada individual e bateu de longe. A bola desviou em Nunes e quase enganou João Leite, que no reflexo conseguiu a defesa. Andrade, destruindo com perfeição e responsável por dois cortes precisos que salvaram o Mengo era o grande destaque do primeiro tempo.
A etapa final começou de forma agitada. O Galo assustou com uma cobrança de falta de Éder e o Fla respondeu com uma cabeçada de Rondinelli, que João Leite defendeu de mão trocada.
A equipe carioca era superior no jogo quando aos 10, Júnior falhou ao tentar sair driblando. Palhinha roubou a bola que sobrou para Reinaldo. O chute saiu forte, no canto direito, indefensável para Raul. Atlético um a zero.
Assim que sofreu o gol, Coutinho mexeu no time. Colocou Anselmo em campo, sacando Carlos Henrique. As discussões voltaram a aparecer. Tita e Chicão. Nunes e Osmar. Palhinha e Rondinelli trocavam faltas e insultos a torto e a direito.
O Flamengo sentiu o baque. Aos 15, Cerezo pegou uma sobra na entrada da área e mandou uma bomba que explodiu na trave esquerda. Quase o Atlético ampliava. Aos 24, Reinaldo cobrou escanteio pela esquerda. Nunes subiu sozinho e testou firme. Infelizmente, a conclusão saiu em cima de João Leite, que agarrou firme.
Reinaldo comemora o gol da vitória do Atlético na primeira partida da final | Foto Reprodução
Um minuto depois, Palhinha agrediu covardemente Rondinelli sem bola, depois de uma confusão dentro da área rubro negra e provocou uma fratura no maxilar do zagueiro. Nelson entrou em seu lugar.
Aos 30, mais confusão. Nunes acertou Luisinho caído. Os jogadores do Atlético foram para cima do centroavante, mas a turma do deixa disso conseguiu apaziguar os ânimos. Tita e Chicão voltaram a trocar “gentilezas” em seguida. Romualdo deu cartão amarelo apenas para o mineiro. Aos 37, Reinaldo, de carrinho, perdeu de dentro da pequena área outra grande chance para o galo.
A grande chance do Flamengo chegar a igualdade veio a três minutos do apito final. Anselmo disputou uma bola pelo alto com a zaga atleticana. Deu sorte e a pelota ficou na sua frente, após o bate rebate. A finalização saiu muito perto do gol.
Ainda haveria tempo para Marinho falhar em um corte e deixar Reinaldo livre, na cara de Raul. O goleiro fez uma defesa maravilhosa e evitou que as coisas ficassem piores para o Rubro-Negro.
Nas entrevistas após o jogo, as visões de cada lado. Por um lado, Tita dizia que o resultado havia sido até bom para o Flamengo e que no Rio haveria forra de toda a violência imposta pelos mineiros. Enquanto isso, Cerezo mostrava preocupação, dizendo que o Galo perdera muitas oportunidades para sair com um resultado melhor e que jogar no Maracanã, mesmo com a vantagem de poder empatar não era garantia de nada.
Para tentar frear os ânimos, Coutinho garantiu que seu time iria jogar bola e não revidar a violência do galo. Sábias palavras. Uma vitória simples servia para o mengo conquistar o título. Zico, Toninho e Júlio César foram liberados pelo Departamento Médico e reforçariam o time na decisão. O único desfalque será Rondinelli. Manguito jogaria em seu lugar.
A Diretoria já havia encomendado as medalhas e mais de 40.000 litros de chopp para a festa. E ainda anunciou a renovação de Zico, por mais um ano. O Galinho de Quintino, aliás, deu a seguinte declaração ao jornal O Globo. “Chegou a hora de provar que o Flamengo é de fato o melhor time do Brasil”.
Flamengo 3×2 Atlético-MG
Recém saído da operação no maxilar, Rondinelli teria que ser sedado na hora do jogo, para que não ficasse muito nervoso. Antes disso, ele escreveu uma carta aos companheiros,que foi lida na preleção. Lá, ele pedia que conquistassem o título por ele e pela torcida. Isso serviu para incendiar ainda mais aquele grupo de extraordinários jogadores.
Com um minuto e meio, Tita deu no meio de Jorge Valença. Ao contrário de Belo horizonte, José de Assis Aragão mostrou o cartão amarelo ao ponta direita. O início do Mengo era nervoso. Aos dois, Carpegianni errou passe simples para Manguito na saída de bola. Reinaldo recuperou e rolou para Palhinha avançar e assustar Raul pela primeira vez.
O gol saiu aos seis. Osmar adiantou demais a bola. Andrade roubou-a, já tocando para Zico. O galinho esticou para Nunes, nas costas de Osmar. O atacante tocou na saída de João Leite, que abandonava a meta em desespero. A pelota foi mansa, por baixo do goleiro e entrou. Um a zero!
O artilheiro contou depois que tinha ordens de deixar o Luisinho, que era bem mais técnico, sair jogando. E quando quem saísse com a pelota dominada fosse o Osmar, ele e outros jogadores deveriam apertar a marcação, para forçar o erro. Deu certo.
Mas não houve nem tempo de comemorar. No lance seguinte, após a nova saída de bola, Reinaldo dominou na área, passou por Andrade e chutou. A finalização tocou em Marinho e matou Raul. Num piscar de olhos, tudo igual. Um a um!
Aos 15, Éder fez fila, passando como quis por Toninho a Andrade. Na hora de marcar, o ponteiro quis enfeitar demais e tentou encobrir o goleiro rubro-negro. Acabou mandando por cima e perdendo ótima chance de colocar os mineiros à frente.
O Flamengo procurava sair para o jogo. Já o galo vivia de bolas longas, esticadas para Reinaldo. E de faltas. Pelo excesso delas, Cerezo e Chicão foram advertidos com amarelo. O centroavante mineiro quase ampliou de novo, aos 32, em escapada nas costas de Júnior.
Aos 39, Nunes acertou Luisinho de forma desleal e também foi agraciado com o seu amarelo. Aos 44, o gol. Toninho centrou na área. João Leite não conseguiu encaixar e soltou. Orlando afastou. No rebote, Júnior dominou e bateu. A redonda explodiu em Palhinha e voltou para o lateral que chutou novamente. João Leite já ia caindo para fazer a defesa. Mas, a finalização bateu em Zico e, incrivelmente, ficou a sua frente. Aí, o camisa 10 bateu para a meta, com o goleiro caído e fez dois a um!
Depois do apito final da primeira etapa, mais confusão. Chicão chutou a bola em cima de Júnior, que não gostou e foi tomar satisfações. Os dois trocaram xingamentos e agressões, mas nenhuma atitude foi tomada pelo árbitro. O segundo tempo prometia muitas emoções.
O Galo voltou com Silvestre no lugar de Orlando. No primeiro lance, Júnior fez falta em Chicão e, com ele caído, pisou em sua mão. Aragão viu e deu o amarelo ao lateral esquerdo. Aos 11, Geraldo substituiu o lesionado Luisinho.
O panorama da partida nesse momento era favorável ao Flamengo. Jogava bem e nos contra ataques, como gostava. O rival, precisando do gol, se lançava à frente. Numa disputa de bola normal, Reinaldo saiu com a mão na coxa. Distensão muscular. Como as duas alterações já haviam sido feitas por Procópio Cardoso, o atacante ficaria em campo, apenas para fazer número.
Aos 21, o improvável aconteceu. Éder cruzou da esquerda. Marinho não conseguiu cortar e Reinaldo, mesmo com uma perna só, escorou de direita e empatou a decisão. Dois a dois. O título voltava para Minas Gerais.
Imediatamente, Coutinho sacou Carpegianni e pôs Adílio em campo. Aos 24, Reinaldo tentou ganhar tempo e foi expulso por Aragão. Procópio e vários dirigentes do Atlético invadiram o campo. O treinador também foi expulso. O médico Neylor Lasmar, disse que foi agredido pelo árbitro. Também levou o seu vermelho. A partida ficou paralisada por seis minutos.
Nem mesmo a vantagem de um jogador deu tranqüilidade ao rubro-negro. Aos 36, Andrade esticou uma bola para Nunes. O atacante tentou o passe para a direita, mas a pelota bateu em Silvestre e voltou para ele. Sem outras opções, Nunes resolveu arriscar o drible no pé de apoio de Silvestre. Deu certo. Deixou seu marcador para trás e percebeu João Leite já saindo para cortar um possível cruzamento. Para surpresa de todos, o que se viu foi uma finalização, passando por cima do goleiro e entrando. Flamengo três a dois!
Nunes! Nunes! Nunes! | Foto: Gazeta Press
Coutinho tratou de reforçar a defesa, colocando Carlos Alberto como volante, exclusivamente para acompanhar Toninho Cerezo. Júlio César deixou o gramado. Com isso, Andrade e Carlos Alberto jogavam como volantes. Tita, Zico e Adílio completavam o meio no 4-2-3-1 armado pelo treinador. Aos 49, Chicão agrediu Tita e foi expulso. Palhinha foi reclamar e também foi pro chuveiro mais cedo.
Com três jogadores a mais, tudo que o Mengo precisava fazer era tocar a bola. Mas ainda haveria um último e enorme susto. Carlos Alberto atrasou para Manguito. Sem ritmo de jogo e com as pernas pesadas, o zagueiro que há muito não atuava, tentou recuar para Raul, mas o passe saiu curto. Pedrinho ganhou do goleiro e, quando ia empatar, Andrade surgiu num carrinho salvador, salvando a pátria Rubro-Negra! Pela primeira vez, o Flamengo era Campeão Brasileiro de futebol!
No próximo texto: O pós brasileiro, a excursão para a Europa e o pré Taça Guanabara. Até lá!
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Leia a Saga do Penta – BIOGRAFIA RUBRO-NEGRA
Gustavo Roman é jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros No campo e na moral– Flamengo campeão brasileiro de 1987, Sarriá 82 – O que faltou ao futebol-arte? e 150 Curiosidades das Copas do Mundo. Conhecido como um dos maiores colecionadores de gravações de jogos de futebol, publica toda quinta-feira, aqui no MRN, a série “Biografia Rubro Negra 1978-1992″, onde conta a saga do período mais vitorioso da história do clube mais querido do mundo.
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