Existe uma subtrama da série “Seinfeld” em que Kramer, o vizinho do protagonista Jerry Seinfeld, começa um episódio se gabando sobre como está vencendo todos os colegas em suas aulas de caratê apenas para que, alguns minutos à frente, venha à tona que ele está tendo esses resultados apenas porque sua turma é composta apenas de crianças e ele é um adulto.
O que, se você for pensar, é mais ou menos a mesma coisa que aconteceu com o “ótimo” começo de temporada do Flamengo em 2024.
➕ JOÃO LUIS JR: Um time com tanta qualidade não pode praticar um futebol tão triste
Porque sim, o Flamengo sobrou no Carioca. Venceu com tranquilidade, o ataque brilhou e a defesa passou praticamente ilesa. Mas bem, era o carioca, e disputar o carioca, com um elenco como o rubro-negro, talvez seja uma covardia até maior do que, sendo um adulto, lutar contra uma criança numa aula de caratê.
Mas num dado momento, o time de Tite, que havia passado os primeiros meses do ano basicamente batendo com porrete em crianças em crianças que haviam acabado de acordar, se viu diante de adversários que, se não do mesmo porte, ao menos possuíam alguma capacidade de se defender, e ficou claro que nosso ataque não funcionava tão bem, que nossa defesa não era tão bem protegida e que talvez, apenas talvez, não se deva tomar como referência de nada um torneio cuja premiação são “os amigos que fizemos pelo caminho”.
E mais uma prova disso foi o primeiro tempo da partida deste sábado, em Bragança Paulista, em que, a despeito da bagunça criada pela arbitragem – que segue mostrando que ela não conspira contra John Textor, ela apenas é horrível em quase todas as partidas – o que se via era um Flamengo incapaz de produzir no ataque, vacilando de maneira grotesca na defesa e cujo meio de campo estava tão espaçado que entre alguns jogadores caberia sim o público 1,5 milhões de pessoas previsto para o show da Madonna.
O resultado? Uma derrota parcial por 1×0 para o Bragantino, com um gol sofrido numa jogada em que o mesmo com todos os integrantes da nossa defesa presentes, o atacante adversário conseguiu subir sozinho, mostrando que é possível sim estar completamente abandonado mesmo com várias pessoas ao seu redor.
Mas talvez até mesmo por não ter muito pra onde piorar, no segundo tempo a equipe do Flamengo melhorou. Luiz Araújo já havia entrado na primeira etapa e a ele se juntaram Lorran e Viña, com uma equipe que mudou sua postura de “absolutamente apática” para “apenas um pouco cansada”, o que já fez uma enorme diferença, com chances sendo criadas, bolas sendo colocadas na trave e por fim o gol de empate de Bruno Henrique.
Por fim o que tivemos foi um Flamengo que melhorou bastante na segunda etapa, numa atuação mais criativa e mais organizada do que a das últimas duas partidas, mas que ainda assim segue muito abaixo do que se poderia esperar seja de uma equipe dessa qualidade, seja de uma equipe que teve um “ótimo” começo de temporada.
Resta então torcer pra que esse segundo tempo, por mais longe do ideal que tenha sido, seja uma base a partir da qual a equipe vai evoluir, até realmente estar em condições de jogar o futebol que visivelmente pode e precisa jogar. Porque sinceramente, por mais paciente que o torcedor seja, por mais confiança que tenha a diretoria, por melhor que tenha sido o começo da temporada, ninguém aguenta mais 45 minutos de total e absoluta ausência de futebol como vivemos, mais uma vez, neste fim de semana.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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