Não é prepotência dizer que o time do Flamengo é, no papel, melhor que o time do Vasco da Gama. São atletas de maior valor de mercado, com carreiras de maior sucesso, atuando numa equipe de maior orçamento e com mais conquistas no período recente. O Flamengo está numa posição superior na tabela, tem mais gols marcados e menos gols sofridos, além de ter a maioria da torcida no Maracanã.
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Nada disso é prepotência porque nada disso é presunção, tudo isso são fatos. Valores podem ser calculados, carreiras podem ser comparadas, conquistas podem ser medidas. A prepotência começa é na hora que você acha que o resultado da partida vai ser definido por qualquer um desses fatos, e não pelo futebol que é apresentado dentro de campo, pela qualidade da bola que é jogada. E foi esse o erro que o Flamengo cometeu no ridículo empate deste domingo.
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Porque o Flamengo foi, durante toda a partida, bastante superior. Teve a posse de bola, controlava as ações e era pouquíssimo ameaçado. A marcação alta funcionava, o meio de campo controlava o jogo e, apesar do karma das lesões seguir forte com a saída de Luiz Araújo, a realidade era de um Flamengo dono da partida.
Mas que ainda assim sofria para criar chances claras. Bruno Henrique chegou a mandar uma bola na trave, mas não estava confortável na posição, Carlinhos começa a deixar claro que não tem nível para jogar no Flamengo de Gabigol vem entrando cada vez mais confuso e fora de posição. Os meias não parecem se aproximar o bastante do ataque, os laterais ainda não entenderam ao certo pra quem cruzar, e o que temos é um Flamengo que visivelmente se ressente da ausência de Pedro.
Ainda assim o gol saiu. Numa jogada surpreendentemente inteligente de Wesley, que achou um Arrascaeta que mesmo baleado deixou Gérson na cara para um grande chute. 1×0, aos 26 do segundo tempo, diante de um adversário inferior, cansado e que, até ali, havia oferecido pouquíssima resistência.
E o Flamengo decidiu então, ser prepotente. Porque não seria prepotência reconhecer a fragilidade vascaína, assim como não seria prepotente buscar o segundo gol e matar a partida. Mas Léo Pereira realizando movimentos de breaking na ponta esquerda após perder a bola? Prepotência. Ninguém fazer a falta durante o contra-ataque vascaíno? Prepotência. Todo o impressionante descaso defensivo que resultou no gol de empate? Puro suco da prepotência, combinado com algumas generosas doses de burrice.
Assim o Flamengo jogou mais dois pontos no lixo. Por prepotência, por burrice, por mais uma vez se mostrar incapaz de criar e decidir uma partida diante de um adversário tecnicamente inferior, numa situação profundamente favorável, quando tinha a vantagem em suas mãos. Faltou capacidade para Tite organizar a equipe, faltou capacidade para a equipe dentro de campo e, nessa partida específica, faltou a diversos jogadores aquele mínimo de seriedade e bom senso para garantir um resultado que já parecia definido.
O cenário agora segue, é claro, lamentável. São absurdos 8 pontos de distância para o líder no Brasileirão, é mais um jogador importante – Luiz Araújo – que talvez esteja fora do jogo de quinta pela Libertadores, e é mais uma razão para que a torcida não confie na capacidade dessa equipe de brigar no nível que se espera. Porque não é prepotência do torcedor achar que esse time, com todo esse investimento, precisa brigar por títulos. Mas é prepotência, da diretoria, do treinador e dos jogadores, achar que não vão precisar trabalhar, e muito, pra que essa expectativa se torne realidade.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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