O problema de uma solução temporária é que, como o próprio nome diz, ela costuma durar só por um tempo. Aquele arame no motor do carro é só pra ele chegar até a oficina, aquele esparadrapo nos óculos é só pra aguentar até o começo da semana, você não pode contar que durepox e fita isolante sejam realmente uma solução de longo prazo pra todos os reparos da sua casa que foram feitos usando esses dois itens, desde encanamento até fiação elétrica, passando por primeiros socorros em amigos e familiares.
Isso porque todo remendo, toda gambiarra, acaba uma hora cobrando seu preço. É o arame que se ficar tempo demais explode o motor, é o esparadrapo que uma hora vai ceder e te deixar sem ver nada no meio da rua, é o fato de que realmente fita isolante não vai estancar um sangramento, ninguém sabe de onde você tirou essa ideia.
➕ JOÃO LUIS JR.: Não segue o líder não – tá gostoso ficar sozinho por aqui
O Flamengo que temos visto nas últimas partidas, por mais vitorioso que tenha sido, por mais que tenha superado expectativas, era a grosso modo isso: um improviso, uma gambiarra. Um improviso que estava dando certo, uma gambiarra que estava funcionando, mas que estava destinada a, mais cedo ou mais tarde, acabar estourando.
E isso aconteceu, da mesma maneira que já tinha acontecido na partida contra o Juventude, neste sábado, contra o Cuiabá. Um jogo em que o Flamengo tentou, que a equipe de Tite lutou, mas onde as limitações da atual situação rubro-negra acabaram ficando claras, seja em termos dos recurso que Adenor tem à sua disposição, seja em termos da exaustão dos jogadores com quem o treinador mais costuma contar.
Um sintoma disso foi o gol da equipe do Mato Grosso, uma jogada pra lá de esquisita em que o atacante adversário basicamente passeou com um cestinho de gérberas pelo bosque da defesa do Flamengo, sem incômodo algum, até desferir um chute despretensioso que, graças a um desvio também muito esquisito de um dos nossos jogadores, resultou na vantagem para o time de Cuiabá.
Vantagem essa que obviamente mudou os rumos da partida, já que com o 1×0 no placar a equipe verde e amarela inteligentemente tentou reduzir o ritmo da partida, cavar o máximo de faltas e realizar níveis de cera que poderiam sustentar cerca de 500 mil museus Madame Tussauds, no que foi auxiliada por mais uma arbitragem brasileira que parecia perdida, confusa e dotada de critérios duvidosos.
Mas foi aí que se fez valer, mais uma vez, a vontade da equipe rubro-negra. Que durante o primeiro tempo esteve absolutamente desorientada e ainda sofreu mais um desfalque, com a lesão de Bruno Henrique. Mas que na segunda etapa, com bem mais na sorte que no juízo, partiu pra cima, lutou, buscou, e ainda que absolutamente exausta e cada vez mais remendada – num dado momento Tite estava substituindo os jogadores que ele mesmo havia colocado no meio da partida – conseguiu ao menos um gol de empate.
Um gol que não resolveu os problemas rubro-negros, já que seguimos tendo perdido dois pontos dentro de casa para uma equipe de meio de tabela, mas que ao menos premia a coragem e disposição de um time que, mesmo com todos os problemas, jamais desistiu de buscar o resultado.
Que a gente possa então, o quanto antes, abandonar as gambiarras, deixar de lado os improvisos, e contar com um Flamengo completo, com mais opções e soluções, da maneira que ele precisa ser pra que possamos continuar brigando por tudo nessa temporada.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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