Meu amigo Gustavo Duarte escreveu aqui no MRN um texto que gostei bastante, citando o planejamento do Kansas City Chiefs como uma referência a ser seguida pelo Flamengo. Em linhas gerais, o Gustavo enfatiza o processo de reconstrução do “Chiefs”, uma equipe que conquistou seu único título de SuperBowl em 1969 e vinha fazendo campanhas muito fracas até 2013, quando a chegada de um novo Quarterback mudou o patamar do time.
Falar de futebol americano é um problema imenso, porque a gente nunca sabe o bastante e ao mesmo tempo corre o risco de falar para leitores que não sabem nada, mas vou permitir me estender sobre duas coisas básicas, para contextualizar a tese do Gustavo: mesmo sendo um esporte coletivo, o futebol americano depende muito do desempenho do Quarterback (autor de todas as jogadas ofensivas) e o processo de contratação passa pelo draft, uma seleção anual onde as equipes profissionais escolhem os jogadores que estão saindo do esporte universitário (ou seja, a transição da “base” para o “profissional”, com a diferença de que os selecionados são estudantes universitários formados, logo, mais velhos).
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Para acabar com a seca de títulos, o Chiefs optou por trazer um Quaterback de ponta, contratado de um time rival em 2013. Dito e feito, esse jogador mudou a cara do time, que deixou de ser uma piada para fazer boas temporadas e a passar a disputar as fases finais do campeonato (os “playoffs”). Mas o Chiefs não estava satisfeito e resolveu investir ainda mais: contratou uma das estrelas na seleção do Draft para ser seu novo Quarterback.
Essa contratação arrojada, com razão, encheu os olhos do Gustavo, que viu nesse lance ousado uma demonstração de uma mentalidade vencedora da diretoria dos Chiefs, coroando um planejamento muito bem estruturado do time (que os americanos chamam de “franquia”). A conclusão do texto é que esse tipo de atuação é o que falta ao Flamengo para avançar mais.
Apesar do Gustavo estar coberto de razão, o exemplo dele me levou a outro tipo de reflexão e a uma conclusão que parece ter passado despercebido: fazer tudo certo, se planejar, implantar uma mentalidade vencedora e tirar um time do estágio da chacota para o estágio competitivo não necessariamente se traduz em títulos no curto prazo.
Na NFL, que tem 32 times, a temporada dos playoffs é composta pelos 8 campeões das suas divisões (um grupo com 4 clubes) e mais 4 que chegam lá por uma espécie de repescagem. Ou seja, mais de ⅓ das equipes chega lá, o que estatisticamente não parece algo difícil. Pois nas 15 temporadas anteriores ao processo de reconstrução em 2013 o Chiefs ficou de fora em 12. E quando chegou, foi eliminado logo no primeiro jogo.
Desde 2013 tudo mudou. O time só ficou de fora em 2014. E chegou a vencer um de seus confrontos de “mata-mata”. Apesar disso, ainda não foi capaz de chegar a disputar sequer o título da sua conferência, que dirá o sonhado SuperBowl (a grande final, entre os dois campeões das respectivas conferências). Pelo contrário, há pelo menos uns 5 times que no mesmo período tiveram desempenhos bem superiores.
A trajetória do Chiefs, portanto, tem mesmo lições a ensinar: guardadas as devidas proporções (a NFL não tem rebaixamento, há limites rígidos de orçamento, são apenas 16 jogos por ano antes dos playoffs, etc.), é possível concluir que
leva tempo para sair do estágio onde só o acaso te leva mais longe para o estágio de ser um competidor forte de modo constante;
ter mentalidade vencedora, contratar bons jogadores, se planejar e fazer tudo certo não te conduz imediatamente às conquistas, porque seus adversários provavelmente estão fazendo isso há mais tempo;
ter evoluído não te dá o direito de ser conformista com o progresso, porque é preciso seguir investindo na melhoria contínua até triunfar.
E aqui a minha concordância com o Gustavo Duarte é plena: nem precisamos arredondar a bola e lembrar do Flamengo. Estamos, como o Chiefs, na trilha certa. Não vamos nos afastar dela, haja o que houver.
Em tempo: FinsUp. Dan Marino Forever!
Walter Monteiro é advogado com MBA em Administração. Membro das Comissões de Finanças do Conselho Deliberativo e do Conselho de Administração do Clube de Regatas do Flamengo. Escreve sobre o Flamengo desde 2009, em diferentes espaços.
Imagens destacadas no post e nas redes sociais: Kansas City Chiefs / Divulgação
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