Visitamos o CFZ e nossa equipe entrevistou o Zico na inauguração da Coletiva MRN.
O maior Arthur entre 40 milhões estava entre nós! Controlamos o nervosismo latente, seguramos a onda e, com a missão sempre em primeiro lugar, temos a honra de apresentar a primeira parte da Coletiva MRN com o Zico. O ídolo fez um balanço sobre sua candidatura na FIFA, falou sobre como enxerga as federações como entidades arcaicas e críticas à CBF não ficaram de fora.
Visitar o Galinho de Quintino foi muito gratificante. Um marco para nosso projeto. Ele nos recebeu no auditório do CFZ, no bairro do Recreio, zona oeste do Rio.
Zico esteve naturalmente solícito e o encontro durou cerca de 30 minutos.
Zico, vamos começar falando de sua candidatura recente para presidente da FIFA. Foi uma surpresa para todos. Como surgiu a ideia?
Eu estava em uma entrevista no Esporte Interativo quando o André Henning me perguntou se eu teria como apoiar o Figo, que era candidato naquela altura e depois até desistiu. Respondi que gostava muito do Figo, tenho um bom relacionamento com ele e aceitaria numa boa.
Depois disso fui pro hotel e saí pra jantar com a Sandra. No meio do jantar eu comecei a imaginar o apoio ao Figo. E se eu posso apoiá-lo por que não também ser um candidato? Poderia representar bem a América do Sul. Tenho experiência de administração, fui Secretário de Esportes do meu país, presidente de sindicato. Então achei que poderia ser!
Aí meu filho colocou no Twitter dele… Era um momento importante porque as coisas que estavam sendo discutidas, as mudanças necessárias, tinham a ver com minha trajetória de luta dentro do esporte, ou seja, a transparência, a democracia, a participação do mundo do futebol nas decisões das principais entidades.
E coloquei meu nome lá também. Vou nessa! E foi assim que surgiu.
Como você avalia essa tentativa?
No meio disso tudo o compromisso como técnico na Índia e as coisas foram acontecendo. Eu já tinha toda a clareza que a dificuldade seria muito grande. Mesmo eu sendo um nome do futebol, reconhecido, o meio do colegiado da FIFA está tão viciado que conseguir 5 cartas em 209 seria muito difícil. Ainda mais com todos os problemas que eu tinha com a entidade aqui do Brasil. Fiz alguns cálculos. Contei com o Japão e os países de língua portuguesa. O Japão foi uma decepção, eles estavam comprometidos com outra candidatura. Não contar com o apoio do Japão foi a minha maior decepção. O Brasil daria a carta numa boa… mas quando a gente foi chegando perto viu que teríamos que oferecer alguma coisa em troca para poder ter essas cartas. E aí eu não tinha nada para oferecer. Eu não tinha um jatinho particular para sair viajando para todos os lugares pedindo votos. Eu era, digamos assim, um estranho no ninho ali. Nunca tinha tido participação em nenhuma entidade – CBF, UEFA, Federação Asiática etc. Tanto é que, podemos ver agora, todos os candidatos que concorreram têm hoje um cargo em alguma dessas entidades.
E como foram as viagens de campanha?
Pelo menos eu estive na Suíça, falei com o presidente do comitê de reforma, François Carrard, conversei com o Blatter, me encontrei com o Jérôme Champagne, que acabou sendo candidato, à época ele disse não saber se seria. Então vi de perto como as coisas funcionam. E acho que o resultado que aconteceu, o que ganhou, parece ser realmente o menos comprometido com esse sistema. Acredito que ele, dos que concorreram parece ser o que mais pode fazer alguma coisa pro futebol.
Pretende concorrer novamente?
Não tenho vontade. Primeiro porque a idade não vai permitir mais. Ainda estou com vontade, força, mas daqui a alguns anos vai ter uma diminuição. Era o momento. Momento de tentar uma coisa nova. Pelo menos eu acho que fui ouvido. Fui ouvido pela Imprensa do mundo inteiro. Pude colocar um modelo de plataforma. Ninguém falava de eleição com debate para um presidente da FIFA e tivemos grandes redes de TV que queriam promover debates. E muita gente fugiu desses debates com os primeiros candidatos. Os caras fogem! Eles não tem o que falar, não tem o que acrescentar pois estão comprometidos com uma série de coisas. Quando eu falo da participação do mundo do futebol muitos pensam que estou me referindo a ex-jogadores. Você tem uma gama de pessoas que trabalham no futebol: nutricionistas, psicólogo, médico, preparador físico, diretor de futebol, técnico de futebol, presidente de clube. Todo mundo pensa que os ex-jogadores estão lá pra serem presidentes, que tem que ser o ex-jogador que “é do mundo do futebol” e não é isso. Tem muita gente boa no futebol, que não jogou, para ocupar certos cargos. Eles precisam de uma boa condição.
O grande problema da campanha foi a ausência de mecanismos democráticos. Não é uma eleição aberta para as milhares de pessoas do mundo do futebol. Pra escolher o melhor gol todos podem votar, para escolher o presidente não. Essas nossas convicções abriram canais na sociedade. Plantamos essa semente. Acredito que Gianni Infantino possa fazer um bom trabalho e que não fique com olhos apenas voltados para o belo trabalho que eles estão fazendo na UEFA. A FIFA tem muitos bons projetos, só se fala dos problemas mas ela tem coisas muitos legais em curso. É preciso que a credibilidade da entidade seja restabelecida. O Infantino, acredito eu, tem condições de restabelecer essa credibilidade perdida. Agora surgem essas histórias off-shore. Espero que seu nome não apareça no escândalo dos Panama Pappers também. Seria uma decepção muito grande.
Saindo do âmbito internacional e vindo para a esfera nacional, qual a sua posição em relação ao movimento, ainda muito incipiente, de formação de Ligas Nacionais?
Eu acho que a gente tem que explodir as federações. Não servem para mais nada. Não com gente lá dentro, né? A gente não quer o mal pra ninguém. (risos)
As federações não servem para mais nada. Elas só servem pra serem intermediárias dos clubes. Os clubes podem decidir tudo sem elas. O mundo inteiro é feito de Ligas. Os clubes devem ter essa liberdade para discutir. A arrecadação deve ir direto para eles sem intermediários. A federação o que que faz? Os clubes podem organizar uma competição. E competições rentáveis.
O Flamengo investe hoje 5 milhões no seu plantel, exemplo. Aí vai jogar um campeonato com risco de jogar 10, 12 jogos deficitários? Jogos que você tem duas mil pessoas. Tivemos anos passado um jogo com 200 pessoas. Um jogo do Flamengo! Fluminense e Botafogo com 4 mil pessoas em Volta Redonda. Isso é deprimente para o nosso futebol.
Então tem que se encontrar uma fórmula. Flamengo e Atlético Mineiro deu 30 mil, Flamengo e Atlético Paranaense também com boa bilheteria. O público precisa de bons espetáculos, os grandes clubes precisam entrar em campo pra pagar aquela folha. Com todo respeito aos times pequenos, jogar contra o Boavista, o Volta Redonda, o Bangu, o Bonsucesso, o Angra dos Reis, o CFZ do Rio e assim por diante, não dá. Time nenhum do mundo joga esse tipo de campeonato. Você vai ver o Barcelona e o Real Madrid e eles jogam no máximo 2 jogos deficitários no ano e é muito. Aquelas Copas deles lá são jogos eliminatórios, muitos times perdem pra terem uma competição a menos até, sabem que aquele torneio ali não vale nada. Então, eu acho que as federações não têm mais o que fazer no futebol. Contudo, elas têm ali o poder político, aquela coisa dos votos na eleição da CBF. Para ser eleito na CBF você precisa do apoio de 8 federações. E estão todos ali no mesmo barco.
Já que você falou de CBF…
Sim…hoje a gente tem um ex-presidente da confederação preso, um outro indiciado e o terceiro que não pode sair do país. Que futebol é esse? Que Brasil é esse que a gente tem? É preciso fazer uma limpa muito grande nisso tudo para que o futebol brasileiro não volte a tomar de 7 a 1.
Aguarde
Coletiva MRN – Zico | Parte 2: O Flamengo dentro de campo
[/et_pb_text][et_pb_image admin_label=”Imagem” src=”https://www.mundorubronegro.com/wp-content/uploads/2016/04/DSCN8700-e1460411873299.jpg” alt=”Equipe reunida para a Coletiva MRN com o Zico. Rafael Lisboa, Júlio Contarini, Diogo Almeida e Gustavo Neves. Priscila Araújo, Gustavo Roman, Mônica Alvernaz, Carol Grigori e Mariana Sá.” title_text=”Equipe reunida para a Coletiva MRN com o Zico. Rafael Lisboa, Júlio Contarini, Diogo Almeida e Gustavo Neves. Priscila Araújo, Gustavo Roman, Mônica Alvernaz, Carol Grigori e Mariana Sá.