No último domingo, dia 15 de setembro, antes do clássico Flamengo x Vasco, o gramado do Maracanã serviu de palco para a Campanha “Antes que aconteça”, uma campanha contra o feminicídio.
Esse programa foi iniciado ano passado, pela senadora Daniella Ribeiro, através de uma proposta inédita que tem o objetivo de fortalecer a rede de combate à violência contra a mulher, com aplicação de milhões em recursos unicamente para o desenvolvimento de ações efetivas nos estados e municípios.
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O programa prevê a estruturação de políticas, tais como:
- Acolhimento de mulheres vítimas de violência;
- Cursos de capacitação e defesa pessoal;
- Prevenção;
- Empreendedorismo feminino;
- Sistemas de tecnologia;
- Monitoramento eletrônico; Sala lilás nas delegacias;
- Grupos reflexivos e de apoio.
Dentre outras ações.
E no dia seguinte, nesta segunda-feira (16), a secretária de estado da Mulher, Heloísa Aguiar, a primeira-dama Analine Castro e a deputada federal Soraya Santos se encontraram com dirigentes e representantes do Flamengo. O encontro tinha o objetivo de firmar uma parceria com o clube de combate à violência contra a mulher, parceria que será muito em breve oficializada.
O que nos leva a refletir sobre o assunto. Qual importância de tal iniciativa? Qual é o peso dos clubes de futebol nas campanhas de conscientização?
Com certeza é algo complexo de qualificar, quantificar.
O que se sabe é que o futebol é um dos grandes campeões de audiência na TV aberta e fechada, e de pesquisa de conteúdo nas diversas redes sociais. Ou seja, é assistido, procurado e consumido. Aliás, um dos produtos mais consumidos, movimentando dezenas de bilhões na economia brasileira.
E o que se sabe também, é que o futebol está passando por profundas transformações institucionais internas (amadorismo versus profissionalismo), oriundas de pressões externas, tanto do mercado quanto dos movimentos sociais.
Portanto, abraçar campanhas de conscientização significa dar uma resposta aos parceiros comerciais, fortalecendo a marca, e aos anseios da sociedade, em prol da diversidade, da inclusão e do combate à violência.
Contudo, é necessário ir além. E o Flamengo pode ser protagonista nisso. A iniciativa da senadora Daniella Ribeiro não se limita apenas à conscientização. Ela conseguiu a aprovação de recursos para proteção, amparo e capacitação das mulheres. Um combate efetivo contra o feminicídio, mas também o rompimento de um círculo vicioso onde a mulher se vê presa ao seu agressor pois depende dele financeiramente.
Ou seja, ao firmar uma parceria com o Flamengo e seu departamento de Responsabilidade Social (que já apoia ações neste sentido), o movimento “Antes que aconteça”, pode dar um pontapé inicial nessa mudança de atuação. Pode se construir uma rede de iniciativas e projetos sociais, em prol das mulheres e no combate a violência, unindo todos os clubes por uma causa urgente e necessária.
Conscientizar sobre o feminicídio, promover ações conjuntas com o poder público e o resto da sociedade, amparar as mulheres através de uma rede de apoio, e divulgar essas realizações. Quatro pontos chaves de uma parceria entre o Flamengo, e o programa “Antes que aconteça”, e se expandindo para outros clubes.
A função social dos esportes, inclusive a do futebol, está passando por transformações. Ela permanece, mas ela evolui. Cabe aos clubes se reinventarem e estarem atentos às mudanças sócio-culturais e usarem sua influência para aprimorar a sociedade como um todo. E o Flamengo, dado ao seu tamanho, a sua essência e a sua história, pode ser o líder, o impulsionador dessas transformações.
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72
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