Se antes Muricy reclamava do excesso de viagens e falta de tempo para treinar, o Flamengo teve duas semanas cheias de trabalho e jogos em locais próximos, no fim de semana. A vitória no jogo anterior havia trazido tranquilidade e não havia problema de lesão no grupo, ou seja, tudo conspirava para um trabalho que fizesse o time avançar, mas não foi o que vimos.
Mantendo o 4-1-4-1 com variação para 4-2-3-1, Muricy repetiu o time: Paulo Victor – Rodinei, Wallace, Juan, Jorge – Cuéllar – Cirino, William Arão, Alan Patrick, Mancuello – Guerrero.
Pontos Positivos
Mancuello continua criando e se apresentando pro jogo, além de dar qualidade à bola parada, sejam nas faltas ou escanteios. Sua dinâmica de jogo permite maior criação de jogadas, seja pela esquerda ou caindo pro meio onde pode jogar com Arão e Cirino. Além de tudo, o argentino não se omite do jogo, por várias vezes esteve ajudando a marcação no meio e até na direita apareceu.
Cirino continua com estrela. Apesar de errar demais fora da área, o camisa 7 tem lembrado Hernane em sua eficiência nas finalizações de primeira dentro da área. Como nos últimos jogos, recebeu um passe açucarado e guardou o seu, o primeiro do jogo na metade do primeiro tempo.
Cuéllar continua desequilibrando defensivamente. Sua excepcional noção de cobertura continua a tirar grande parte dos contra-ataques que exploram as falhas de posicionamento dos meias. Sua dedicação à marcação e a saída de bola são tão fundamentais para o funcionamento do meio-campo, que quando esteve com a seleção o Flamengo não conseguia jogar, sofria na defesa e tomou gol em quase todos os jogos.
Portanto, ver o Flamengo melhorar com o retorno dos dois gringos não é surpresa. As qualidades individuais de ambos aumentam a robustez do meio-campo, aumentando a eficiência defensiva e ofensiva. A súbita estrela de Cirino em uma fase goleadora típica do Carioca (lembremos do ano passado), também surge num momento oportuno para tirar o foco de Guerrero e diminuir a pressão sobre ele.
Os Problemas
Não é surpresa constatar que o plantel do Flamengo é bom, talvez um dos quatro melhores do país, principalmente após a chegada da Exos, que fez Juan conseguir jogar sem lesões e deu condições físicas para jogadores como Gabriel crescerem tecnicamente. O grande problema é que bons valores individuais levaram o time aos tropeços no fraco Carioca, pois o time tem seu rendimento atrelado à soma das performances individuais e não a capacidade de jogo coletivo.
Caberia a Muricy fazer desse punhado de bons jogadores um time. E sua carreira não deixa dúvidas sobre a capacidade dele de formar times eficientes e vitoriosos. O grande problema é que em toda sua carreira atuou com um estilo de jogo defensivo, mais conhecido como Muricybol, algo que a diretoria deveria saber ao contratá-lo, mas ignorou e resolveu encaixotá-lo no que chamam de futebol ofensivo. Extrapolando, seria como se o Barcelona houvesse contratado o Mourinho ou o Simeone para substituir Guardiola, mantendo o estilo dele no time.
Essa falta de intimidade com times ofensivos faz com que Muricy não consiga acertar o desenho tático, escale mal o banco e mexa mal no time. O tal 4-4-2 não é visto em campo e o próprio Muricy admitiu que é um 4-1-4-1 com variação para 4-2-3-1. Entretanto as linhas ficam zoneadas pelo excesso de liberdade de alguns jogadores, o que na maioria das vezes é péssimo para o jogo coletivo, como já apontei anteriormente.
Contra o Bangu, Alan Patrick esteve mal, desaparecido, a criação era feita por Mancuello, que no primeiro tempo esteve muito ativo, mas jogando na parte sem sombra sofreu com o calor excessivo e cansou no fim da primeira etapa. Era a oportunidade perfeita para testar Ederson aberto e Mancuello no meio, com Alan Patrick saindo no intervalo.
Como não foi isso que Muricy fez, o Bangu voltou disposto a conseguir o empate e pressionou o Flamengo, deixando o jogo duro e por vezes mais próximo do empate que da ampliação do placar. Já estava no meio do segundo tempo quando Alan Patrick saiu para a entrada de Ederson, o que teria sido ótimo se não fosse o posicionamento equivocado.
A saída de jogo mais eficiente era pelos lados, onde Cirino conseguia achar alguns espaços, mas desperdiçava por erros bobos. Arão também teve atuação mediana com a exceção do excelente passe do gol. O correto então era que Ederson, mais veloz e condutor, descansado, ficasse aberto na esquerda onde Mancuello estava e não tentando se movimentar no meio, onde sempre estava cercado de adversários e pouco produziu.
Gols no fim, podem esconder o jogo ruim
Sem conseguir manter a posse de bola, com os jogadores mais dispostos a segurar a vitória magra que marcar gols, o jogo ficou muito feio até os minutos finais, quando graças a um vacilo na defesa do Bangu, Guerrero ampliou o placar.
Gabriel entrou bem no lugar de Cirino e deixou dúvidas do porquê não ter entrado antes, ajudou a segurar a bola na frente. E, no finzinho, Jorge ainda aproveitou o rebote do goleiro para fazer o terceiro do Flamengo, sacramentando a classificação do time.
Uma classificação sofrida, com direito a tropeços em times nanicos e a ficar atrás de Botafogo, Vasco e Fluminense. Com a folha salarial do Flamengo, os investimentos em estrutura e as contratações desse ano, não era para o Flamengo estar fazendo uma campanha tão medíocre.
O departamento de futebol precisa olhar para além da classificação e até mesmo para além do aproveitamento de pontos e analisar o que vemos no jogo. O Flamengo ainda não é um time e estamos às portas do Campeonato Brasileiro, só se desenvolve com base em brilhos individuais e Muricy não parece capaz de lidar com a ausência de jogadores seja por convocação, cansaço, lesão ou suspensão. Com o plantel que o Flamengo tem, jogos ruins não são culpa dos jogadores e sim do péssimo treinamento e organização.
Saudações Rubro-Negras