A Copa São Paulo de Juniores deve ser uma das competições mais imprevisíveis dentro de campo e previsíveis fora de que se tem notícia no futebol. Com 120 times divididos em 30 grupos, a “Copinha” consegue misturar times tradicionais, times menores, times de empresários, tudo num gigantesco torneio onde vários jovens buscam uma oportunidade de brilhar e serem notados pelo profissional do seu time ou pelos olheiros de outras equipes. E esse processo sempre segue uma espécie de roteiro.
Temos as primeiras rodadas da fase de grupos, onde times mais bem estruturados, com uma base mais sólida, irão enfrentar equipes mais fracas, quase sempre do interior de outras regiões, onde os garotos pegaram quatorze horas de ônibus, sete horas de balsa e duas horas de caminhada pra chegar na sua cidade-sede. Aí algum garoto de um time grande, claramente mais talentoso que a média, irá esmerilhar a equipe mais fraca, fazendo aquela jogada plástica que fica muito bem numa home de portal e que serve pra reafirmar “o talento da base no Brasil”.
Vai sair a matéria e o garoto vai primeiramente ser comparado com algum craque do passado daquela equipe – o novo Zico, o novo Edmundo, o novo Falcão, o Raí negro, o Casagrande descendente de japoneses – e vão pegar aquela fala do rapaz dizendo que espera ter uma chance nos titulares pra fazer uma matéria sobre como ele já está “pedindo vaga” na equipe de cima e dando “dor de cabeça pro técnico”.
Com uma multa rescisória lá no alto, pra se proteger do avanço de clubes europeus, o garoto vai ser integrado nos profissionais com aquela expectativa, da mídia, da diretoria e da torcida, de que vá arrebentar em breve, aquele misto de “precisa dar chances” com “não pode colocar em fogueira”, que faz com que nunca acabe sendo a hora ideal de escalar o garoto, já que jogo fácil não prova muita coisa e jogo complicado você não coloca o moleque que acabou de subir da base.
E daí em 90% das vezes é uma aparição esparsa aqui, outra ali, aquele gol num jogo sem muito valor que vira capa do Lance na manhã seguinte, um empréstimo pra “pegar experiência” do qual o jogador volta pra ser emprestado de novo e de novo, até que quando ele finalmente deveria estar “experiente”, o contrato dele já venceu e ele acaba indo embora do clube.
É um cenário deprimente? Sim, é, mas é o cenário mais comum, exatamente o que aconteceu com vários Adryans, Neguebas, Thomáses e Mattheuses da vida, sendo um Jorge uma rara exceção no passado recente do Flamengo. E é por isso que quando eu vejo Vinícius Junior arrebentando na Copinha e lembro que no profissional temos Vizeu, Paquetá, Ronaldo, entre outros, em busca de uma oportunidade, eu fico pensando o que falta pra conseguirmos aproveitar melhor os talentos que obviamente temos na base.
Estamos mimando demais os garotos? Não estamos dando atenção o bastante? Tem que colocar na fogueira e ver quem sobrevive, como aconteceu com o Jorge? Tem moleque que pode ganhar todas as chances que não vai vingar, feito o Negueba? Eu gostaria de ter respostas melhores, mas tudo que eu sinto é que todo ano na copinha eu vejo jogadores que parecem ter um futuro imenso e brilhante, mas que em alguma etapa desse processo se tornam mais uma notinha de rodapé numa lista de dispensas de fim de ano do Flamengo. Torço muito pra que esse não seja o destino do Vinícius. E claro, também torço pra que a gente não dê pra ele nenhum apelido dissociado como “Sávio Negro” ou “Messi de Ébano”. Ainda que ok, “Messi de Ébano” eu vá admitir que soa bem pra caralho.
João Luis Jr. é blogueiro do MRN e também escreve no blog Isso Aqui É Flamengo, do ESPN FC.
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