Flamengo entrará em campo hoje contra o Junior Barranquilha na semifinal da Copa Sul Americana 2017. Estádio cheio, torcida elétrica, certo?
Não.
Vendas de ingressos aquém do esperado. Muitos alegam preços altos. Mas isto não foi impeditivo para a torcida lotar o Maracanã outras vezes. E, vamos considerar, Flamengo chegou a cobrar preços mais em conta em suas partidas e isto não foi o suficiente para encher o estádio, obrigando o clube a fechar um setor da Ilha do Urubu, de apenas 20.000 lugares, por exemplo.
Exceção feita àqueles que realmente gostariam de ir e iriam, se o preço fosse do tamanho permitido pelos seus orçamentos, o problema para mim é bem nítido. O descolamento da torcida com este time. É um time que decepcionou tanto ao longo do ano, que a torcida parece que “desistiu” do mesmo. E porque a decepção? Por várias partidas jogadas sem “entrega” por parte dos jogadores. O time do Flamengo, hoje, é um “produto” que não se pode confiar.
Mas eis que este time maníaco-depressivo, que oscila entre buscar resultado ou ficar catatônico, por algum motivo, chegou à semifinal da Copa Sul-Americana. O torneio continental de segunda linha, para aqueles que não chegaram à Libertadores ou fracassaram no trajeto. Caso do Flamengo. Enfim, é um torneio que alguns encaram meio envergonhados, servindo de consolação. Ainda porque o Grêmio conseguiu chegar a final da Libertadores com um catadão de jogadores, entre os quais, Leo Moura, Cortez e Jael, o Cruel. E o Flamengo de Diego e Guerrero, saiu na fase de grupos.
Segunda linha ou não, é o campeonato continental que o Flamengo está. E não somos bons nisso. Ano após ano, priorizamos carioquinhas. Ano após ano a torcida enche mais os estádios para rivalidades locais. Ganhar do Vasco, Fluminense e Botafogo, ainda é o maior desejo de muitos. Flamengo precisa dar o salto. Passar a querer o domínio continental. E para isto só priorizando ao máximo Libertadores ou Sul-Americana. O que conseguir jogar. Tem que ser política do clube e assimilada pela torcida.
Não pode priorizar carioquinha. Mesmo se tiver na final, e está jogando a Libertadores, coloca-se time B para disputar. Não vai machucar jogador importante em decisão irrelevante. O espírito tem que ser este. Ter um “time titular” para disputar o carioquinha formado pelos reservas do time da Libertadores acrescidos de jogadores sub20 com o número permitido pelo regulamento. O regulamento do carioca exige que se o clube participa de torneio internacional seus jogadores devem ser inscritos também no carioquinha, nesta aberração típica brasileira: a Federação estadual, mais uma instituição simbólica deste país dos carteis que se tornam núcleos de poder e concentração de renda.
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Enfim, repetindo para fixar bem. Nossa prioridade sempre deve ser torneio continental. Só com boa performance nestes torneios poderemos, enfim, partir para uma escala mais “mundial”. E, neste processo, devemos buscar a supremacia no Brasil. E não é disputando o campeonato brasileiro sem ambição alguma e com jogadores aquém da qualidade do Flamengo que iremos conseguir.
Flamengo em 2017 pecou pela ausência de espírito competitivo que culminou com a eliminação precoce na Libertadores, causando imenso prejuízo emocional na relação do time com a torcida, agravada por declarações sempre estapafúrdias e melancólicas dos dirigentes ligados ao futebol, inclusive do Presidente, travestido de VP de Futebol.
Porém, vamos seguir em frente. E hoje é o dia. Que os tambores rufem, que os gritos saem da garganta, incentivando o elenco. Flamengo entrará em campo. Precisará reunir ainda os cacos destruídos pela falta de confiança da torcida e fazer destes cacos armas para derrotar o Junior Barranquilha. Que o sangue nos olhos esteja em todos os jogadores e na torcida.
Flávio H. de Souza escreve no Blog Pedrada Rubro-Negra. Siga-o no Twitter: @PedradaRN
Imagem destacada no post e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo