Quando o árbitro colombiano Wilmar Roldan apitou o final do jogo entre Vélez Sarsfield e Flamengo, os mais de 30 mil argentinos presentes no Estadio José Amalfitani aplaudiram. As palmas foram um reconhecimento ao esforço dos jogadores do clube do bairro de Liniers, na zona oeste da capital argentina. Os “hinchas” reconheceram ainda que não houve competição. O 4 a 0 foi até um placar tímido em relação ao domínio do Rubro-Negro nos 90 minutos.
Os dois clubes e, consequentemente, os dois times são animais de espécies diferentes. O Vélez é um clube médio na Argentina, mas que teve uma década boa, a de 1990, quando venceu a Libertadores e o Mundial. Tem uma torcida pequena. Em quase 48 horas em Buenos Aires, este repórter só viu pessoas vestindo camisas do Vélez nos arredores do estádio, próximo ao jogo. Assim, a partida de oitavas de final da Copa da Argentina, entre River e Defensa y Justicia, mereceu cobertura maior do que o duelo de semifinal da Libertadores. E os argentinos amam a Libertadores.
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Já o Flamengo é hoje o maior clube da América do Sul. Dentro e fora do campo, aliás, o Rubro-Negro atingiu um nível difícil de rivalizar.
O Vélez fez o que pode. Adotou todas as conhecidas estratégias copeiras. Deixou o gramado ficar castigado. Lotou o estádio. Os torcedores cantaram o tempo todo e até jogaram objetos no gramado. No campo, os jogadores reclamaram bastante da arbitragem e entraram mais forte em duas ou três ocasiões.
Mas não foi o suficiente. O Flamengo controlou o jogo o tempo todo e dessa forma construiu a goleada com naturalidade. Além disso, se Gabigol estivesse inspirado, poderia ter repetido o massacre que impôs ao Tolima, no Maracanã.
Amor maior não tem igual
Os quase quatro mil rubro-negros na seção norte alta das arquibancadas do El Fortin viveram uma noite de absoluta tranquilidade. Não havia clima de terror, ameaça de agressão ou qualquer coisa do gênero.
A maioria dos torcedores ali presentes era de brasileiros residentes na Argentina. Poucos fizeram a viagem do Brasil.
Os estudantes de medicina João Pedro e Luana, por exemplo, não perderam a oportunidade de ver o Flamengo em Buenos Aires. Aliás, João Pedro também não perdeu a oportunidade de pedir Luana em namoro depois do jogo. E ela aceitou.
Já o carioca Bruno voou do Rio para ver mais um jogo do Flamengo. Decidiu na ultima hora, pois o orientador de doutorado (tricolor) marcou uma reunião na segunda-feira (29). No McDonalds do bairro Recoleta, ele já planejava a ida para Guayaquil.
Parabéns para o Gabi
Na véspera do jogo, as amigas Natália, Mariana e Manoela passaram o dia na porta do hotel do Flamengo. Elas levaram um cupcake com uma velinha e pretendiam cantar parabéns para o aniversariante Gabigol, que completou 26 anos em 30 de agosto. Na saída para o treino no CT do Boca, na tarde de terça-feira (30), o artilheiro não parou para atender os torcedores. Mas na volta, Gabigol parou para assinar autógrafos e e as amigas conseguiram puxar o parabéns para você.
O Flamengo pós-2019 é pop. Sempre movimentou multidões, mas desde o time de Jorge Jesus o clube e seus astros viraram uma atração além do futebol. Nas barricadas do Park Tower Hotel, houve muito grito, choro e até alguns puxões de cabelo.
Flamengo: de chacota a Malvadão em menos de uma década
Do clube que maltratou sua torcida por quase quatro décadas de fracassos internacionais, o Flamengo de hoje passou a ser aquele que causa medo. Na manhã desta quinta-feira (1º), os jornais de Buenos Aires se renderam à força do Flamengo. O Clarin afirmou que a “riqueza e a hierarquia do Flamengo deixaram o Vélez à procura de um milagre”. O popular Crônica, escreveu “se viveu um carnaval do Rio em Liniers”. O Superdeportivo disse ue o “Flamengo deu uma surra no Vélez”.
Nas redes sociais, os torcedores do Boca brincaram que os pênaltis perdidos por Benedetto contra o Corinthians, nas oitavas de final, evitaram um encontro com o temível Flamengo, nas quartas de final.
Em menos de meia década, o Flamengo passou de um gigante que dava vexames, para um gigante que assombra. E nesta quarta-feira, o Flamengo assombrou a Argentina.