Todo rubro-negro que tenha começado a acompanhar futebol pelo menos a partir dos anos 2000 sabe o quão preocupante era a dívida do Flamengo.
Lembro até de uma piada que alguns torcedores rivais faziam “Flamengo, o clube das finanças rubro e do futuro negro”.
Um trocadilho infame, mas que infelizmente traduzia bem o sufoco pelo qual o clube passava em relação ao seu patrimônio.
Dentro de campo, naturalmente, o caos financeiro do Fla se refletia em times medíocres, campanhas pífias e sucessivas lutas para não cair no Brasileirão.
Os flamenguistas que não viram essa época podem se considerar abençoados, pois certamente evitaram muitos desgostos.
Mas e hoje, a quantas anda a dívida do Flamengo e o que o clube tem feito em matéria de finanças e na parte da gestão?
Essas e outras questões serão respondidas a partir de agora, então, continue lendo para ficar por dentro desse assunto.
A gravidade do problema da dívida do Flamengo nos anos 2000
“Acabou o dinheiro”, é a frase que passou a simbolizar a triste condição financeira que o Flamengo amargou por décadas.
Acho até que essa frase não definia tão bem a nossa situação naquele momento, por volta de 2009.
O Flamengo era não apenas um clube duro, mas, sobretudo, endividado até o pescoço.
Note, caro leitor, que, para um clube ou uma empresa, estar endividado não é a mesma coisa que uma pessoa física ter o nome inscrito no SPC/Serasa.
No caso do Flamengo, as dívidas geravam um passivo de deixar os cabelos em pé, em razão principalmente das constantes penhoras judiciais.
Naqueles tempos sombrios, o Flamengo devia literalmente a tudo e a todos. Dos jogadores do penta em 1992 até Romário e Petkovic, praticamente todo ex-jogador nosso tinha dinheiro a receber.
Além disso, o Fla sofria com uma dívida fiscal galopante, a qual gerava uma série de impedimentos de ordem financeira.
No auge, a dívida rubro-negra chegou a ser a maior entre todos os clubes brasileiros, atingindo exorbitantes R$ 750 milhões em 2013.
Qual o tamanho da dívida do Mengo hoje?
Passados exatos 10 anos, a dívida que era de R$ 750 milhões é hoje de R$ 50 milhões.
Que fique claro que, até chegar a esse “milagre”, o Flamengo teve que ralar.
Afinal, as sucessivas gestões amadoras que o Flamengo teve contribuíram, cada uma de uma forma, para aumentar o rombo nas finanças do clube.
Chegou um ponto em que não dava mais para simplesmente “fingir que pagava” como disse um certo ex-jogador nosso.
Ou o Flamengo aceitava sua condição tenebrosa, ou o futuro seria incerto.
A história você provavelmente já conhece. Em 2012, a Chapa Azul, liderada pelo então candidato à presidência, Eduardo Bandeira de Mello, levou adiante um sólido trabalho de reestruturação financeira, contábil e fiscal.
Quem diria que o Flamengo, de devedor crônico, tornar-se-ia um exemplo de gestão e até de transparência, sendo o primeiro clube do Brasil a divulgar seus balanços publicamente.
Obviamente esse esforço cobrou um preço, com uma seca de títulos importantes e contratações de gosto duvidoso enquanto o clube ia se acertando.
Nomes improváveis como Val, Bruninho, Arthur, entre outros, passaram a ser frequentes nas janelas de transferência rubro-negras.
Felizmente, essa foi uma fase passageira, cujo marco final foi a primeira contratação de peso do novo Flamengo saneado, o meia Diego Ribas, que veio a se tornar ídolo da Nação.
A dívida rubro-negra preocupa?
Como já noticiamos por aqui, no final de 2023, a dívida do Flamengo atingiu o seu menor patamar no período de 10 anos.
Para um clube de faturamento bilionário, dever R$ 50 milhões é praticamente como eu ou você dever as compras feitas na quitanda da esquina.
A título de comparação, o atual maior devedor entre os clubes da série A, o Atlético-MG, tem um passivo de assombrosos R$ 1,5 bilhão!
Diferentemente do que fizemos, por lá eles não buscaram sanear as contas do clube para contratar grandes jogadores e construir um estádio.
Por isso, arriscaria dizer que deverá acontecer com os mineiros algo parecido ou pior do que vem acontecendo com o Corinthians.
Enquanto isso, o Flamengo nada de braçada no quesito patrimonial e nas finanças, ainda que no futebol o clube precise urgentemente se profissionalizar na gestão.
De qualquer forma, é para celebrar o fato de, hoje, estarmos muito perto de zerar nossa dívida, uma conquista pioneira e exemplar entre os clubes brasileiros.
Que problemas um clube endividado pode ter?
Uma pessoa física endividada consegue viver relativamente bem se deixar de honrar seus compromissos, pelo menos com os bancos e com o comércio.
Mas, quando se trata de um clube de futebol, ainda mais como o Flamengo, o buraco é bem mais embaixo.
Nem precisamos ir muito longe para entender o quão perigoso pode ser o endividamento para uma instituição esportiva.
Veja o Vasco, por exemplo, e suas constantes dificuldades para pagar jogadores, funcionários e até a conta d’água.
Tudo porque os borderôs, cotas de patrocínio, de TV e outros apoios são frequentemente bloqueados judicialmente para pagamento de dívidas protestadas.
Confira a seguir que outros problemas uma dívida galopante pode causar.
- Restrições orçamentárias: a falta de recursos em função das dívidas impede que o orçamento se cumpra, levando a sucessivos balanços no “vermelho”;
- Pressão para vender ativos: para aliviar as dívidas, o clube pode ser obrigado a vender jogadores talentosos e até parte do seu patrimônio;
- Dificuldades de contratação: a reputação de endividado pode tornar difícil atrair jogadores de alto nível, treinadores experientes ou patrocinadores;
- Penalidades e sanções: dívidas não gerenciadas podem levar a penalidades que, no Brasil, acontecem mais no âmbito fiscal e tributário;
- Problemas legais: os credores podem buscar medidas legais para recuperar dívidas, o que pode levar a processos judiciais e ações que vão minando as finanças do clube;
- Descontentamento dos torcedores: nós, rubro-negros, sabemos bem como é torcer para um clube que deve a todos e sem capacidade financeira para investir;
- Impacto na infraestrutura: as dívidas podem impedir investimentos em infraestrutura, como melhorias em estádios, centros de treinamento e instalações médicas, sucateando o clube;
- Falta de patrocínio: empresas passam a não querer mais associar suas marcas a clubes endividados, resultando na perda de oportunidades de patrocínio;
- Aumento dos juros: dívidas em constante crescimento fazem com que os juros sejam cada vez mais altos, aumentando ainda mais a carga financeira do clube;
- Risco de falência: em casos extremos, a acumulação de dívidas sem solução pode levar o clube à falência, resultando na sua dissolução ou rebaixamento para ligas inferiores, como aconteceu com o Cruzeiro em 2019.
Quais as perspectivas financeiras para o Mengão?
Quem diria que chegaríamos em 2024 tendo como última das preocupações a dívida do Flamengo.
Saneado na parte patrimonial e olhando para o futuro, hoje podemos fazer planos para melhorar ainda mais em todos os sentidos.
Com as contas em dia e o orçamento “bombando”, podemos continuar investindo na infraestrutura de nível europeu que já é de ponta.
Podemos também manter os melhores jogadores por mais tempo, ou substituí-los por nomes à altura.
Embora haja muito a ser feito, com destaque para a gestão do futebol, é inegável que, como diz nosso primeiro hino, “nosso futuro será ainda mais lindo que o presente, que tão lindo é”.
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