O tempo dirá se o trabalho que Luis Nogueira vem desenvolvendo no Clube de Regatas do Flamengo vai render frutos. Ele é uma espécie de vice-presidente de Futebol de Base. Oficialmente o cargo não existe. Após a venda de Vinícius Júnior e o anúncio da construção de um colégio dentro do Centro de Treinamento George Helal, os holofotes se voltaram para o trabalho de formação de talentos em Vargem Grande. A esperança da torcida sempre será reviver o slogan “craque o Flamengo faz em casa”.
Além de explicar seu trabalho no futebol do Flamengo, Luis Nogueira falou sobre a atual filosofia de formação de jogadores, bem como a utilização nos profissionais, e deixou claro que o objetivo final da base rubro-negra não são as transferências internacionais.
Buscamos do dirigente maiores informações sobre o contrato de cinco anos com o grupo de ensino GPI, que a partir de 2018 vai garantir educação de qualidade para grande parte dos atletas no próprio CT. Emendamos tentando entender como o clube lida com os aspectos disciplinares exigidos dos “Garotos do Ninho”, tanto na rotina de trabalho, como na vida doméstica e até mesmo no mundo virtual, nas postagens em redes sociais.
Uma grande parte da entrevista foi dedicada à captação de talentos, que parece avançar. Ao fim do ano passado o Flamengo contava com apenas três captadores — ou olheiros, como são popularmente chamados estes profissionais — , atualmente este número pulou para sete e a meta é chegar a 12 ainda em 2017. Segundo Luis Nogueira, as captações estão sob “um estado da arte”, com pouquíssimo apoio científico. E é aí que entrará a parceria do Flamengo com a empresa belga Double Pass, que revolucionou o trabalho de base na Alemanha e Bélgica.
Ainda sobre a captação de talentos, Luis Nogueira revela a entrada de um novo ator neste ciclo, expandindo-o. Trata-se do agente autônomo, figura que estará vinculada diretamente aos captadores profissionais do clube.
O sensível momento de transição da base para os profissionais não foi um assunto deixado de lado.Para o “vice-presidente”, é preciso convicção nas metodologias de formação empregadas, assim como fornecer à Comissão Técnica do profissional o maior leque de informações sobre os jovens.
Cobrança por títulos, como a recente derrota na final da Copa do Brasil Sub-20 2017, a formação de treinadores, o estabelecimento de um percentual estatutário de verba para a base rubro-negra, infra-estrutura, recursos recolhidos através de projetos incentivados, e a filosofia de jogo, o tal DNA Rubro-Negro. Tudo isso está dito. Esperamos que vocês curtam mais essa edição da série Política Rubro-Negra no Mundo Rubro Negro.
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Leia a entrevista na íntegra:
MRN:Luis, muito obrigado por receber o MRN. Acho que não tem como a gente começar sem falar da sua trajetória de trabalho no clube. Como tudo começou pra você no Flamengo?
Luis Nogueira: Eu entrei para o SóFLA um pouco depois da eleição de 2012. Meu primeiro trabalho no SóFLA foi entrar no Grupo de Trabalho de Finanças e na parte de contabilidade, que eu pude ajudar melhor. Depois, junto com o Edmilson Varejão a gente ajudou, bem no começo mesmo, com um estudo sobre estádios. Cheguei a fazer uma apresentação no Conselho Diretor sobre Maracanã antes ainda da primeira licitação. Depois o Mário Esteves me convidou para ser assessor do Conselho Fiscal e me desliguei do GT. Depois de algum tempo foi criado o GT de Futebol no SóFLA. Quando o Wallim Vasconcellos deixou a vice-presidência de futebol e o Fred Luz se aproximou mais do Futebol, ele me convidou para ajudar mais na parte de finanças do futebol. A gente tinha um elenco muito grande e tinha muitos “a pagar” que não estavam muito bem mapeados. Não se tinha total visibilidade do orçamento para frente. Tinha muita rescisão, jogadores entrando e saindo. Estava meio bagunçado.
MRN: Hoje seu status é de vice-presidente do Futebol de Base, mesmo que oficialmente este cargo não exista. Qual a importância do seu trabalho atualmente?
Luis Nogueira: O total de investimento na base estava aquém do que a gente gostaria. Sabíamos que tínhamos uma equipe muito boa tocando o departamento de base e que não estávamos dando a eles todos instrumentos necessários.Outros clubes criando e vendendo jogador ano após ano e nós investindo menos do que poderíamos. Foram decisões tomadas que castigavam o orçamento da base. Eu era uma das pessoas que batia nesse ponto de que não se pode tirar orçamento da base. Foi ficando clara a necessidade de uma força política. Mesmo com a figura do diretor de futebol, e, sobretudo, o vice-presidente de futebol. O Eduardo me convidou a ser esta pessoa a cuidar mais da base. Eu já estava muito próximo, conhecia os processos, tinha participado de discussões sobre o conceito do CEP e do CIM. Cargo oficial não tem. Na prática mesmo sou um assessor presidencial do futebol. Não é nem apenas para a base. Conseguimos um aumento no orçamento para investimentos na base já para 2017, isso foi muito importante, conseguimos voltar a disputar competições internacionais e aumentar a equipe de observadores.
MRN: Onde você se encaixa dentro da estrutura de governança do futebol do Flamengo?
Luis Nogueira: A governança no futebol é muito clara. Hoje o vice-presidente de futebol é o Eduardo Bandeira de Mello , o CEO do clube é o Fred Luz, e o diretor de futebol é o Rodrigo Caetano. Abaixo do Rodrigo Caetano temos os gerentes-diretores, por assim dizer. Que são o Marcos Biasotto, Gerente de Inteligência e Mercado, o Dr. Márcio Tannure, chefe do Departamento Médico e abaixo dele tem o Fernando Gonçalves que cuida da Psicologia, e o Carlos Noval, Diretor de Futebol de Base. Na Direção Técnica do Futebol temos o Zé Ricardo, com o Mozer e o Cléber dos Santos que formam a coordenação técnica. Então essa é a estrutura. Eu sou um elo independente, buscando incentivar discussões na base e com os profissionais todos. O que tento fazer o tempo inteiro é não me meter em parte técnica. O que eu ajudo e cobro o tempo inteiro do Noval e demais é a melhoria constante da estrutura de trabalho, a evolução de competição e avaliação de desempenho, e, obviamente, a revelação de jogadores que tenham sucesso no clube ou valor de mercado.
MRN: Como é esse elo independente trabalha dentro do futebol de base?
Luis Nogueira: Estou o tempo todo em contato com todo mundo: do Noval aos coordenadores técnicos do sub-20, sub-17. Os responsáveis pela captação, chefiados pelo Biasotto. O Caetano, com um série de assuntos que têm interconexão com os profissionais. Falo bastante também com a parte de psicologia, que até este começo do ano a gente tinha gaps por preencher em profissionais na área médica e psicologia. E vou lidando com uma série de outros profissionais, como os do futsal, que a gente está reestruturando. Ontem mesmo estive com o coordenador de futsal. E procuro ir ao máximo de jogos da base e do futsal. Procuro estar presente o quanto posso.
MRN: Até onde vai seu poder de tomada de decisões?
Luis Nogueira: Antes de avaliar o trabalho de um profissional, tenho que procurar saber primeiro qual a avaliação do chefe dele, que é o Rodrigo Caetano em última instância. No dia que eu estiver vetando alguém não estarei cumprindo bem meu papel porque o que a gente precisa é criar mecanismos constantes de avaliação, como qualquer empresa faz, com processos mais formais. Para que se entenda quais são os pontos prós e contras dos nossos profissionais e se consiga avaliar no tempo a evolução de cada um deles. Até para respaldar uma possível ida ao profissional do clube, uma promoção. Precisamos embasar e formalizar mais. E eu cobro muito isso.
MRN: Samir, Jorge e Vinícius Júnior. A base do Flamengo começa a ter um selo de qualidade?
Luis Nogueira: Acho que sim. A venda do Vinícius foi muito importante para o clube. O fato do Real madrid acreditar que um menino de 16 anos pode ser o melhor do mundo daqui a alguns anos, isso para a gente foi muito importante. Acredito que vamos continuar formando bons jogadores.
MRN: Como foi o caso do Vinícius Júnior?
Luis Nogueira: Chegou uma proposta irrecusável. Geramos um grande talento e espero que ele faça muito sucesso no Real Madrid. É bom para todo mundo. Se grandes clubes do mundo começarem a olhar para a base do Flamengo com esta perspectiva e quiserem comprar todos a preços irrecusáveis eu vou achar uma pena porque queremos que os jogadores joguem aqui. O objetivo primordial é o atleta revelado dar retorno esportivo no profissional do Flamengo. O financeiro será consequência. Mas isso a gente não controla.
MRN: Quais são os principais pontos avaliados no trabalho de formação da nossa base?
Luis Nogueira: Títulos, convocações para as seleções de categoria de base, o aproveitamento no elenco profissional que temos a meta de ⅓ do elenco ser formado em casa e o sucesso profissional do atleta. Se o jogador formado sair do Flamengo e for bem-sucedido em outro clube teremos a resposta de que a formação foi correta. Exemplo: o lateral-esquerdo Dalbert que estão especulando que irá para a Inter de Milão e quase não jogou no profissional do clube. Não se pode avaliar isso através de uma única safra ou de um grupo seleto de jogadores. Tem que ir acompanhando no tempo. Vendemos o Jorge. Jorge foi titular no profissional. Acho que aconteceu o ideal. Tiago é titular atual do profissional, revelado na base. Queremos gerar potenciais titulares.
MRN: Nos últimos dias saiu a notícia sobre a parceria de ensino com o GPI. O que mais podemos falar sobre a construção dessa escola para nossos meninos no Ninho do Urubu? O que você projeta em relação a este projeto?
Luis Nogueira: Temos a visão, baseada em estatística, de que a maior parte daqueles atletas não vão ser jogadores de futebol profissional. No Flamengo ou em qualquer lugar. Nosso trabalho é pegar com 12 anos e ir acertando cada vez mais, claro. Mas é impossível ter 100% de aproveitamento. É um funil. O Flamengo tem um papel importante. O Flamengo não tem fins lucrativos, o Flamengo é um clube que atende os anseios da sociedade. A partir do momento que temos um atleta vestindo nossas cores, nos tornamos também responsáveis por boa parte da sua educação e da sua formação de cidadania. A parte de educação é muito importante para o futuro dessas pessoas. Claro, é preciso estar matriculado em um colégio, mas hoje não temos um controle efetivo da qualidade do ensino. Com um colégio no CT a gente traz essa ampliação de margem de um bom futuro para muito perto do clube. Assim, não tem como não acompanhar o desempenho disciplinar, as notas e a frequência. Teremos retorno direto no desempenho atlético. Não é uma garantia mas aumentamos a chance de um bom desempenho longe do futebol. E na performance futebolística em si, é muito claro que atletas com melhor nível intelectual vão assimilar melhor o jogo.
MRN: Quando começam as obras do colégio?
Luis Nogueira: Este ano e ano que vem teremos muitas obras no CT, inicialmente a estrutura será provisória mas depois a planta do colégio será erguida assegurando maior conforto. Uma questão que acabou que saiu errado em alguns lugares é que essa estrutura não atenderá inicialmente todos os atletas, apenas os de 14 anos para cima. Abaixo disso seria o Ensino Básico (até o quarto ano). Claro que o para o Ensino Fundamental forte é necessário que a haja uma boa base anterior, mas vamos primeiro dar este passo com o estabelecimento do Ensino Fundamental (do quinto ao nono ano). Eu sou dessa linha, que é a linha de toda a diretoria, de dar um passo de cada vez , do que tentar fazer algo já muito grande desde o princípio sem ter testado antes. Então em um primeiro momento apenas parte dos atletas serão atendidos e depois, se tudo der certo, estender para os menores, inclusive aos pequeninos do futsal.
MRN: Vamos ter uma disciplina que ensina história e cultura do Flamengo?
Luis Nogueira: Nós já temos uma iniciativa muito interessante do Leandro Nader. Ele também é do SóFLA. Um embrião disso. Ele leva a garotada da base para o FlaMemória e faz uma visita guiada com palestra ao final. A vontade mesmo é que no colégio a gente tenha aulas, uma matéria mesmo com prova, valendo nota. Já estamos com o pedagogo trabalhando nisso.
MRN: Já que falamos de educação, como o clube controla o comportamento dos garotos no Ninho, em casa e até nas redes sociais? Quando o garoto chega ao clube, existe uma conversa com ele na presença dos pais e uma cartilha a ser seguida?
Luis Nogueira: Varia muito de quando e como chega. O cara que está com a gente desde cedo, uns desde os sete anos. É carioca, está adaptado. Outros chegam de fora, de uma outra realidade. A conversa com os responsáveis passa pela exigência da matrícula colegial. Sobre as redes sociais, formalmente não temos um controle rígido, entretanto temos palestras e orientações de um pedagogo que trabalha com a gente em tempo integral na base. Temos um profissional de Serviço Social também. A estrutura pode melhorar, precisa aumentar. Muitos desses meninos têm problemas familiares pesados. O que a gente tenta é orientar na parte comportamental. Passamos nosso feedback para as famílias quando é identificado um problema comportamental. Há um ano estamos tentamos inserir um profissional para cada categoria mas estamos tendo uma rotatividade de profissionais grande. O que há efetivamente agora é um acompanhamento e monitoramento feito através dos profissionais da Pedagogia e do Serviço Social. Não tenho como explicar essa grande saída de psicólogos, não sei se é o mercado. No projeto Pratas do Ninho estamos conseguindo um acompanhamento psicológico mais efetivo, sempre fazendo check quando percebem um problema mais forte.
MRN: A torcida é particularmente sensível a este tema. Durante anos tivemos uma imagem um pouco distorcida com relação ao aspecto disciplinar, tanto na base como no profissional.
Luis Nogueira: O quadro disciplinar do Flamengo é super importante. A gente não tá medindo se o jogador vai ser bom ou não. Se o cara é um excelente jogador e mostrou um problema disciplinar muito grave, vai ser dispensado. Não importa que ele seja o melhor jogador. Ele vai ser dispensado. Existem regras rígidas em relação a algumas coisas. Não adianta. E temos avanços em relação ao que era antes. Até porque o profissional está arrumado e isso bate na base. O exemplo de cima facilita sem dúvida.
MRN: Muito se fala sobre rede de captação de atletas. Cada clube parece seguir uma estratégia própria. Qual é a estrutura atual para o mapeamento de talentos para a base do Flamengo no Brasil e até em outros países?
Luis Nogueira: O primeiro passo é estruturar as competências desse olheiro. O que é mais importante para o clube hoje, dado que temos recursos ilimitados? A gente pode botar um olheiro para acompanhar na América Latina a partir dos 15, 16 anos, e competir com os clubes europeus que já fazem isso? A gente poderia fazer? Poderia. Qual a restrição? Só pode trazer jogador de fora com 18 anos. Terei que trazer a família. Preciso de muita convicção. Um processo muito bem estabelecido para fazer isso. Conseguimos achar muito talento no Brasil ainda, temos muito a evoluir aqui. As histórias de sucesso não seguem um padrão. Nisso tudo tem um estado de arte envolvido e ainda não mensurável. Independente da arte é preciso ter estrutura e processo. O Flamengo tinha três olheiros até o ano passado. É muito pouco para qualquer trabalho. Se quiséssemos captar só no Rio, ou só em São Paulo, esse contingente não daria conta. O fato é que a gente tem que ter uma rede de olheiros. Hoje temos três olheiros dedicados ao Rio, dois em São Paulo e um no Sul. E fechamos com o sétimo agora. Se tudo der certo teremos 12 até o final do ano.
MRN: Esta rede é somente para o futebol de base?
Luis Nogueira: Prioritariamente. Nada impede de ajudar bastante o profissional. O CIM conta com o Fabrício Souza e o próprio Marcos Biasotto que fazem este trabalho também. O Trauco foi monitorado por seis meses. Acho que foi um trabalho legal. Pode e deve ser melhor. Não adianta ir lá ver um jogo, tem que estar acompanhando. Uma equipe de olheiros no clube pode ser uma equipe de olheiros da base que pode ser integrada eventualmente ao profissional. Dentro de um método. E temos que estar atentos para oportunidades de mercado para atletas de 18 e 19 anos, que já precisam de uma avaliação para atuarem nos profissionais. Se o cara for um fenômeno a gente vai ter uma competição enorme de times de fora, temos que achar o talento o quanto antes A gente é do Rio, certo? A gente domina o mercado carioca de captação? Não domina. A gente primeiro tem que ser o melhor no quintal da nossa casa.
MRN: Além de fortalecer a estrutura de captação não é necessário fazer parceria com clubes e aumentar o número de escolinhas do Flamengo?
Luis Nogueira: Sim. É preciso proximidade com outros clubes e ampliarmos a rede de escolinhas e parceiros regionais. Houve avanços na qualidade da base já nos últimos anos. Nosso sub-20 melhorou, nosso sub-17 é forte. Foram atletas trazidos pela nossa rede de contatos e esforço dos profissionais do clube mesmo sem contar com a estrutura ideal de captação do clube . Pessoas do mundo do futebol que trazem para o clube. O atual estado de seriedade e credibilidade que o clube conseguiu imprimir em sua gestão reaproximou estas pessoas da nossa base. Este ano a gente já com os novos observadores, conseguimos aumentar o número de testes e aprovações Houve uma renovação muito grande em algumas categorias.
MRN: Quais são as maiores expectativas no momento?
Luis Nogueira: Trouxemos um garoto do América-SP, o Braian do Jundiaí, um menino do São Bernardo agora, destaque da Copinha. Tem uma turma boa vindo de Minas Gerais. Receberemos uma turma de um clube de São Paulo para testes na semana que vem. Trouxemos um zagueiro do Guarani, outro do Sergipe também. Também pode chegar uma turminha de futsal de foral. Não vou especificar muito. O que queremos é captar os melhores talentos entre 10 e 13 anos.. Sobre a captação, finalmente, eu brinco que precisamos ter um mapa do Brasil tipo o War, sabe? O misto entre funcionários próprios, parceiros locais (que tenham CT), escolinhas. O fato é que a gente está no passo 1 deste projeto de captação nacional. Estava no passo zero, com a verba de orçamento que estamos pleiteando vamos para o passo 2 ainda este ano. O passo 3 é fazer as parcerias e continuar desenvolvendo nossa rede de contatos. O passo 4 é olhar isso tudo com um conhecimento melhor do mercado e acompanhamento com mais contingente. E o passo 5 é captar um jogador que tem qualidades muito específicas, com bastante convicção que irá estourar no profissional e aí sim, ele pode ser um jogador de um outro país, dentro de um quadro de jogadores que estão sendo monitorados há anos.
MRN: Onde entra o trabalho da Double Pass?
Luis Nogueira: Justamente nesse planejamento que comentei a pouco. O trabalho da Double Pass vai fazer um alinhamento, um perfil do trabalho que os agentes vão buscar e que os nossos treinadores vão desenvolver ou aperfeiçoar. Define-se assim o perfil por posição, o biotipo dado ao nosso modelo de jogo, por exemplo. Melhorar os filtros dos olheiros: vamos trazer um pouco mais de processo para eles. Claro que estes modelos técnicos não vão segmentar ao ponto da gente rejeitar um atleta por ser baixo ou alto, por exemplo. Mas a gente tem que ter um patamar estabelecido. Junto com a grande estrutura que vamos ter nos próximos anos, acreditamos em resultados ainda Sabendo o que se quer e aprendendo com o que vai dando certo também.
MRN: Quais são os pecados do Flamengo na transição do sub-20 para o profissional?
Luis Nogueira: Acho que essa resposta tem que ser dada pelos profissionais, tem muitas aspectos técnicos envolvidos nesse processo, que é muito complexo. Em relação ao jogador da base: temos que garantir que ele tenha muita qualidade e condições de ser titular do Flamengo.
MRN: Existe a discussão hoje no Flamengo de se formar um time B?
Luis Nogueira: Existe a discussão sobre time sub 23 que não envolve somente o Flamengo.
MRN: A pressão da torcida certamente atrapalha os garotos em seus primeiros jogos, se não começam bem. E parece que o clube não consegue bancar.
Luis Nogueira: A pressão é natural no Flamengo. Se temos convicção no potencial do atleta, devemos insistir. Essa convicção é que norteia o trabalho no clube.
MRN: Jogadores como Gabriel não tiram espaço de maturação de jovens com potencial melhor? Quem vem de fora parece ter mais oportunidade do que os nossos jovens, que acabam emprestados depois da primeira sequência de jogos ruins.
Luis Nogueira: São opções dos treinadores. A única coisa que eu posso falar é do trabalho desenvolvido pela base. O que está sendo feito é um trabalho de monitoramento das características de cada atleta desde muito cedo. Quando ele estiver próximo de subir temos que saber o estágio que o atleta está, onde ele precisa se desenvolver. A integração entre o profissional e base é muito importante aqui. Para que as características dos atletas sejam completamente conhecidas. Quanto mais informações são fornecidas acredito que melhor será a tomada de decisão de usar o atleta no profissional e dar sequência e plano de carreira.
MRN: E com relação à formação de treinadores?
Luis Nogueira: Se aplica a mesma lógica. Temos que saber tudo sobre o perfil dele desde o seu início de trabalho no clube. Se ele tem perfil para atuar no profissional um dia ou se é importante que fique 20 anos com a gente na formação de gerações de atletas.
MRN: Perdemos a final da Copa do Brasil sub-20 recentemente. Existe cobrança por títulos na base? O time foi cobrado por ter perdido um título?
Luis Nogueira: É natural dentro de um processo de amadurecimento a consciência de que o Flamengo vive de suas vitórias e conquistas. Eles sabem disso. Todos ficaram muito chateados com a derrota diante do Atlético-MG. Jogar decisões é muito importante. Observarmos o comportamento de alguns jogadores vencendo e perdendo. Como encaram jogos decisivos. O primeiro objetivo é formar, e vencer no Flamengo faz parte desta formação. As metas da base são muitos claras, como já disse: títulos, convocações e, a médio prazo, aproveitamento de fato no time de cima (retorno esportivo ou pelo menos resultado financeiro).
MRN: O que você pode falar sobre a nossa estrutura física atual, o que vai mudar com as próximas obras?
Luis Nogueira: A evolução do clube impacta diretamente na estrutura. A gente tinha uma estrutura muito básica até antes da inauguração do CT dos profissionais. Agora a gente tem uma estrutura provisória boa que era dos profissionais e a gente vai para uma muito boa, excelente, se tudo der certo. (Nota do editor: a entrevista foi concedida antes do anúncio da construção de um novo módulo para os profissionais. Com isso, a novíssima estrutura inaugurada em dezembro do ano passado passará a servir aos jogadores das categorias de base).
MRN: Haverá uso de recursos captados através de projetos incentivados?
Luis Nogueira: Estamos trabalhando para conseguir. Na verdade existe uma perspectiva muito boa disso acontecer. Pode ser um anúncio muito bom, mas não vou adiantar ainda. Pode ser que não aconteça. Tem que ser igual ao GPI. Só depois de tudo certo a gente pode detalhar mais. A prioridade com os incentivados é não criar despesa nova. Nunca se sabe se teremos interessados no futuro. O foco é estrutura, então pedi para o pessoal do CEP listar todas as máquinas e equipamentos de musculação, fisioterapia, fisiologia, tudo que for necessário para que a gente tenha a estrutura do profissional. Assim foi feito. Licença de software para monitoramento de mercado também.
MRN: A base deve ter um percentual de verba estabelecido de forma estatutária?
Luis Nogueira: Eu sou contra. Acho que a base tem que ter recurso quando precisar do recurso. Não adianta amanhã chegar para a base do Flamengo e dizer “toma 10 milhões de reais!”. Sabe o que vai acontecer? Vamos acabar gastando mal. Não adianta, tem que fazer a coisa gradualmente. Aumentamos o investimento na base em 2017? Sim! Então agora vamos avaliar. E aumentar quando se entende que precisa realmente aumentar, depois de estudo. Eu sei a necessidade e o porquê da necessidade de aumento da verba.
MRN: Como é discutido e apresentada aos jovens da base a tão propalada filosofia de jogo do Flamengo, ou o tal DNA Rubro-Negro?
Luis Nogueira: Quem lidera essas discussões lá na base são os coordenadores técnicos, que são o Kadu Borges, responsável pelo sub-17 pra baixo, e o Léo Inácio do sub-20, junto com os técnicos. Eles são responsáveis pela criação do modelo de jogo e pela cobrança das diversas comissões técnicas para que aplique o modelo. Na minha opinião, independente do esquema, a filosofia é a de propor o jogo. O Flamengo não espera adversário. Tem que ser brigador, com vontade de ganhar. O Flamengo deve jogar bonito e com raça ao mesmo tempo. Qualquer que seja o sistema de jogo, ele deve ser propositivo, ofensivo, que busca a vitória sempre, jogando em casa ou fora. Aí entra novamente a Double Pass. É colocar no papel essa discussão da filosofia do clube com o suporte da consultoria, com o envolvimento de quase todo o Departamento de Futebol, o presidente, outros membros do Conselho Diretor e envolver até o torcedor de alguma forma também.
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