Não se trata de entender o pseudo torcedor que socou uma mulher no ultimo Fla-Flu.
Ele que vá tratar sua raiva…
Já deu.
Não se trata de reafirmar pela milésima vez que lugar de mulher é onde ela quiser. Todas e todos já sabem disso faz tempo.
Já deu.
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Não se trata de colocar a culpa no álcool ou na performance do time em campo, que exaltariam os ânimos. Não há desculpas possíveis.
Já deu.
➕ MARION KAPLAN: Homofobia masculina, patriarcado e futebol
Medidas foram tomadas, protocolos implementados, campanhas de conscientização divulgadas.
Já deu.
De um tempo para cá, muitas torcedoras tem sinalizado o aumento da violência contra a mulher no Estádio. Apesar de todo um esforço para coibir essas atrocidades.
O que está acontecendo?
O fato é que estamos vivendo uma revolução paradigmática, desconstruindo o patriarcado, o que desencadeou uma variedades de respostas, de comportamentos.
Mulheres toleram cada vez menos condutas machistas, retorquam, enfrentam. Isso pode explicar parte do aumento das queixas. O que era anteriormente aceito, normal, é questionado, denunciado.
Isso é bom, positivo. É motor e consequência da revolução paradigmática.
Contudo, existe o outro lado da moeda, que não é espantoso, é esperado até, mas precisa ser enfrentado e coibido antes que o pior aconteça.
São esses homens que odeiam as mulheres. Os misóginos, os red pill, os masculinistas.
Se aplaudimos a tomada de consciência de muitos que finalmente enxergam a violência e a opressão contra mulheres, estamos também vivenciando a reação daqueles que se sentem injustiçados pelo empoderamento feminino.
Parece piada mas não é.
Para se ter uma ideia, segundo a SaferNet Brasil, instituição com foco na promoção e defesa dos Direitos Humanos na Internet, as denúncias de discurso de ódio aumentaram quase 70% entre 2021 e 2022. Dentre os crimes com maior aumento, aparece a misoginia com um crescimento de 251%.
A questão é que a justiça no Brasil é falha e lenta. E não existe uma legislação clara de combate à misoginia, o que encoraja movimentos como o masculinismo.
Contudo, nem sempre a reação destes misóginos é algo elaborado ou até consciente.
➕ MARION KAPLAN: As raízes do mal e o esporte como exemplo
Em uma sociedade estruturalmente machista, a mudança de paradigmas demora. Mas não podemos esperar o aumento gradativo da violência no Estádio contra mulheres, por homens inseguros que usam seu time como válvula de escape, para despejar todo seu ódio latente.
Pois a mudança de paradigmas pode até demorar, mas a repulsa contra esse tipo de atitude já é generalizada.
Novas medidas estão sendo cogitadas.
Sanções precisam ser reformuladas.
Penalidades serão aplicadas.
Eles que nos aguardem!!!!!
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72
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