Antes de Tite apresentar um projeto que tem tudo para ser duradouro, o Flamengo conviveu com um problema crítico de troca-troca de treinadores. Desde a Era Jesus, técnico mais vitorioso pelo clube nos últimos anos, foram oito profissionais diferentes contratados pelo Departamento de Futebol.
Cada técnico tinha perfis diferentes, com suas ideologias e projetos para o Flamengo também distintos. Esse assunto foi comentado por Marcelo Buarque no De Papo Podcast. Marcelo trabalhou na Gávea como assistente técnico e também treinou o Sub-20 do Flamengo em 2014. Prioridade no assunto, ele questionou a fórmula do Departamento de Futebol para contratar e demitir.
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“O treinador ele é um gestor. A parte diretiva… As pessoas às vezes falam algumas coisas, mas tive 21 anos no Flamengo, você tem uma ligação ali. Sou formado pelo Flamengo também. De fora vejo os dirigentes querendo interferir de uma maneira técnica em uma área que eles não comandam. Eu não estou culpando eles. Eles não estudaram para isso, não têm essa capacidade. Eles têm achismo…”, apontou Marcelo Buarque.
“A culpa é do treinador”, ironiza
Em seguida, o ex-treinador do Flamengo explica como o processo deveria acontecer. Marcelo ainda afirma que, após os erros do Departamento, quem sai com a pior é o treinador.
“Por exemplo, eu vou presidir um clube e sou da área jurídica, não de campo. O que tenho que fazer? Contrato o Castanha (apresentador do podcast). ‘Castanha, você é o responsável pelo futebol, você vai contratar, vai trazer pessoas para botar uma metodologia de trabalho'”, disse, e depois completou:
“Para quê? Para que quando um treinador sair, eu vá buscar no mercado um treinador com aquela mesma ideia que estou implantando. O que vemos hoje? Brinco que nossos dirigentes saem com uma sacola de mercado e uma lista para comprar banana e maçã e te trazem alface e bertalha. E quer que você faça o mesmo. Não vai dar certo. E de quem é a culpa? Do treinador”.
Marcelo explica como funciona na Europa
Segundo Marcelo Buarque, no futebol europeu, a condução é totalmente diferente. Para ilustrar como funciona no Velho Continente, o ex-Flamengo cita dois técnicos renomados: o espanhol Pep Guardiola, do Manchester City, e o alemão Jurgen Klopp, do Liverpool. Ambos possuem trabalhos de mais de oito anos em seus respectivos clubes.
“Na Europa vemos processos diferentes… O Guardiola, o Klopp, a maioria dos treinadores que são mais longevos, o que eles fazem? Pegam um grupo ali, chega no primeiro ano e faz uma avaliação. Ele tem um contrato longo, com uma multa grande e ele se mantém um ano. E aí ele já inicia o processo do ano seguinte. Como? Tira 10/12 jogadores e traz outros para se adequar ao processo que ele está fazendo. Se é o melhor ou pior eu não sei, mas é um processo dele e eu o contratei”, comentou.
Marcelo, novamente, criticou o modus operandi do futebol brasileiro:
“Então no segundo ano esse processo com certeza vai melhorar, ele agregou mais atletas dentro do contexto da ideia de metodologia e conceitos que ele tem. No segundo ano ele já não tira 12, tira seis, ou seja, a coisa já está começando a caminhar… Aí ele tem um grupo e um processo na mão dele. Aqui não! Se sou o presidente e te contrato, quem fará essa avaliação é você”.
“Por mais que eu chegue com a emoção e fale ‘Castanha, você tem que mandar o Pitchu (outro apresentador) embora’, você vai chegar e falar ‘não, Marcelo, o trabalho do Pitchu é bom. Sabe porque não encaixou ainda? Por causa disso, disso e disso’. Você vai me passar os porquês. Não eu te dar. Sabe qual é o meu por quê? Perdeu no final de semana, manda esse cara embora”, finalizou.
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