O ano é 2031. A campainha toca. E o pedido inflacionado de pizza torna-se uma emocionante homenagem ao Flamengo bicampeão da Libertadores
– Amo-ooor…
– Xá comigo, amor, já ouvi o interfone. Atendendo já.
– Brigado, beibi!
– Alô? Fala, Botafoguense. É para cá, sim. Valeu, boa noite. Ô Mô, você pediu qual? Não foi aquela pizzaria nova aqui da rua? Borda alta, massa fina e caseira, e só custava 25 guarás. Onde, em pleno ano de 2031, a gente acha uma pizza boa dessas por 25 guarás…
– Nãaao, tava fechaaada…
(Blim-blom!)
– Boa noite, patrão.
– Fala, campeão. No crédito, por favor.
– Via relógio, celular ou impressão digital?
– Polegarzão mesmo.
– Rê, rê. Pronto. Já tem o imã de geladeira?
– Dá um aí. Valeu… Minutinho, peraí. Da onde que eu te conheço, meu fera?
– Rê, rê. Tem tempo, hein. Já vi que o patrão gostava de futebol.
– Caceta! É isso! Você é aquele atacante do Santos. O que fazia dupla com o Gabigol!
– Isso, eu mesmo.
– Calma, não fala… Lembrei! Breno Henrique!
– Bruno, Bruno. Tempo bom, né?
– Cara, tu jogou demais em 2018! Me amarrava nas tuas arrancadas.
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– Opa, gratidão.
– E aí, parou já? Que passou?
– Faz tempo. Tive aquela porcaria no olho, em 2018. Os médicos diziam que eu tinha tudo para recuperar. O Flamengo quase me contratou, lembra?
– Acho que lembro. Mas o olho…
– Isso. Foi um rasguinho microscópico na retina, mas deu em cinco lesões diferentes no meu olho. Esse aqui, o direito. Quase que deu para voltar, mas Deus, e meu organismo, não quiseram. Coisas da vida, né?
– E o Gabigol? Por onde anda?
– Ah, a gente se fala no zap até hoje. Irmão mesmo.
– Porra, que azar dele naquele Flamengo de 2019… Foi por muito pouco, né? Vice no Brasileiro. Vice na Libertadores! Todo comentarista dizia que aquele time tinha tudo para ser um dos maiores da história do Mengão. Mas faltou… O quê? Algum detalhe. Alguma peça que não encaixou.
– Deus não quis, né?
– Foi o ataque… Para mim, faltou dar liga naquele ataque. Porra, quem sabe se você não estivesse ali do lado do Gabigol, hein?
– Ô. Nem fala, era meu sonho. O Gabi brinca com isso até hoje.
– Tu tinha um apelido… Meu chefe era de Santos, ele só chamava você de um apelido. Era…
– E este ano? Será que o Flamengo sai da fila nessa Libertadores 2031? Já são 50 anos. Uma hora cês acertam o alvo…
– Flecha!
– Oi?
– Lembrei seu apelido. “A Flecha Cafuza”! Meu chefe só te chamava assim. Ele dizia: “Se esse cara fechar com o Flamengo vocês estão feitos. É a Flecha Cafuza! O cara corre muito, mas é inteligente.”
– Nas peladas ainda bato uma bolinha. Mas com esse meu peso… agora é só lançando. Rê, rê.
– Rola uma selfie? Pro meu ex-chefe?
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(Porta se fecha.)
– Que tal a pizza, amor?
– Maravilhosa. Sente a bordinha.
– Quem era o bem nutrido? Engataram o maior papo.
– Ninguém, ninguém. Um fera.
– Nhmmm… Delícia. Abre o vinho?
– Gostou? É, como disse o parceiro na entrega: “Nossa pizza… é outro patamar!”. Estou rindo disso até agora, vai entender.
– Cê é bobo.
– A vida tem umas coisas, né? Que fera… Grande Breno Henrique!
* Em homenagem a Bruno Henrique e todos os craques, em campo ou no banco, que nos deram tantas alegrias há um ano, na Libertadores e no Campeonato Brasileiro de 2019.
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