Balanço do Flamengo | Jeff Farah — Voltei a analisar o balanço do Flamengo. Vou fazer uma série sobre o assunto abordando vários aspectos. Estive off, mas já apresentei os números em reuniões dos Conselhos do clube e escrevia nos sites Magia Rubro-Negra, Igreja Flamengo e Saudações RN, entre outros.
Hoje a situação é bem distinta de quando eu e meia dúzia de malucos, como Walter Monteiro e André Monnerat, para citar apenas alguns, tínhamos que encontrar o balanço no site, publicado quase escondido, de madrugada, cheio de ressalvas. Era uma aventura! Hoje está muito mais palatável! Ótimo!
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Várias análises e gráficos que apresentávamos em blogs e reuniões de Conselho, como o que trago abaixo, já aparecem diretamente no demonstrativo do clube (desde 2019). Um grande avanço que torna os números mais acessíveis a quem não tem intimidade com contabilidade. 👍
Esta primeira análise é justamente sobre o resultado. Muita gente comentando o enorme preju que o clube teve em 2020. O que chama a atenção e quebra uma sequência de superávits. Porém, é preciso contextualizá-lo. Como todos sabemos, foi um ano completamente atípico. Resultado do Flamengo em 2020:
O gráfico mostra a evolução do resultado do Flamengo. Como pode ser observado, uma das grandes conquistas para chegarmos em outro patamar foi manter despesas e custos abaixo do volume de receitas. As barras verdes demonstram superávit e, como no passado, voltamos a ter déficit.
O hachurado dourado mostra a geração de poupança após a mudança no paradigma de gestão, o que garantiu o aporte financeiro para bancar o time atual. A “seca” inicial foi causada também pela necessidade de honrar os sucessivos déficits do passado, daí a necessidade de superávits maiores.
O gráfico abaixo é outra forma de observar a poupança feita pelo Flamengo. Primeiros, há necessidade de acumular recursos para ir reduzindo os déficits do passado. Quando o peso desses déficits se reduz, os superávits podem ser menores, aumentando a competitividade. Em 2020, queda brusca.
Esse dever de casa feito pelo clube é que não pode ser perdido, logo o prejuízo de mais de R$ 100 milhões em 2020 causou rebuliço nas redes. Mas, será que ele foi uma demonstração de que perdemos o compromisso com a austeridade financeira ou foi atípico, um ponto fora da curva? Vejamos:
Como pode ser observado no gráfico de cima, houve uma queda brusca nas receitas, enquanto custos e despesas foram até reduzidos, mas não na mesma proporção. Observa-se no 2° gráfico que não era o padrão do passado. Lá as despesas sempre cresciam mais do que as receitas.
Ou seja, no passado, época do “Flamengo pode tudo!”, déficits eram causados pelo descontrole com gastos. A receita crescia, mas o Flamengo gastava ainda mais do que ganhava. Em 2020, não foi o que ocorreu. A razão do déficit foi muito mais pela queda nos ganhos do que pelos gastos.
2020 foi um ano atípico, que atingiu não só o Flamengo, mas o mundo todo. Despesas foram reduzidas, porém não no mesmo volume da queda de receita, o que é natural. Não é crível imaginar que, no meio de tantas incertezas, o clube iria sair enxugando drasticamente a folha do futebol.
Quanto ao resultado do exercício, embora tenha sido bastante negativo, ele não representa, per si, uma luz vermelha. Algumas receitas ficaram para 2021, que será um ano chave. É preciso atenção. Se as incertezas perdurarem, medidas mais restritivas precisarão ser tomadas.