Antes do jogo, tempo nublado, caras fechadas. Empolgação mínima. Time é submisso, não se entrega ou se empolga. Torcedor sente isto. E não cola junto. “Eles não querem então vou querer por quê?”. É o pensamento generalizado.
Junte a isto entrevistas dos dirigentes tratando o futebol como se fosse uma máquina em que se colocando os insumos, fazendo manutenção preventiva, esta irá produzir o que se espera. Mas futebol não é automático. As vitórias não vêm por força daquilo que você investe, mesmo que, claro, isto ajude demais. É preciso mais. Estamos falando de um grupo de atletas, pessoas, que precisam ser cobradas, precisam de metas, precisam saber se estão correspondendo ou não às expectativas. Quando não se tem isto em um elenco, seja de futebol ou mesmo quadro funcional de uma empresa, simplesmente não se tem resultados. As pessoas em maioria tendem a procurar sempre a zona de conforto em suas organizações.
EBM, Fred Luz junto com Rodrigo Caetano criaram esta zona em toda parte do futebol profissional do Flamengo. Resultado? O sono. Correr para não chegar. Time não consegue superar equipes ditas grandes no Brasileiro, mostrando um desempenho vergonhoso. O que explica sua colocação. Mas temos agora um novo VP de Futebol, que está conhecendo o terreno e diz esperar autonomia para realizar as mudanças. Mas o que vemos é EBM indo todo dia ao futebol e falando como VP de Futebol e talvez agindo como VP de Futebol. Não quer largar o osso que seu cargo de presidente lhe dá a autoridade para agir, a despeito de sua horrorosa participação na gestão de futebol. Não sei como o resto do Conselho Diretor não fez ainda uma convocação para retirá-lo de lá, até para não asfixiar o Lomba.
Pois bem, dito isto, o Flamengo enfrentou o Fluminense no Maracanã na disputa da primeira partida das quartas-de-final da Copa Sul-Americana. Partida importante, a qual fomos agraciados pelas palavras do Bap, opositor da atual gestão, outrora membro importante e muito relevante da dita “Chapa Azul”, de que o torneio é uma espécie de “Serie B”. Minimizando assim, a competição em que o Flamengo disputa. O que mostra que estamos mal: do lado da gestão atual dirigentes “passam pano” em jogadores, e do outro, possíveis futuros dirigentes que esnobam competições internacionais.
E o Flamengo começou muito bem. Parece que acordaram da sonolência extrema. Fez um primeiro tempo em alto nível, com algumas chances criadas, poucas na verdade, mas tinha bom volume de jogo. Cuéllar e Arão muito bem como volantes, Éverton Ribeiro se movimentando junto ao Diego. Paquetá flutuava pelo campo, não se posicionando direito como centroavante, o que atrapalhou muitas jogadas. Tendo a achar que a entrada de Vizeu seria melhor para o time pois nitidamente faltava referência lá na frente. Flamengo fez seu gol em uma jogada linda de Éverton Ribeiro com Arão, que cruzou para o Éverton marcar, só tocando para o gol. De ruim o lance covarde, de marginal, em que o jogador Marcos Júnior entrou no Réver para tirá-lo de campo, e conseguiu.
Mas, torcida em festa. Ao menos. Se beliscando para ver se não estava sonhando e enfim tinha um time com alma dentro de campo. Mas era realidade. Flamengo tinha entrado em campo como Flamengo de outros tempos.
Veio o segundo tempo. Abel, técnico do Fluminense, certamente não gostou nada de seu time do primeiro tempo, e organizou o Fluminense para sufocar o Flamengo fazendo marcação alta, adiantando o meio de campo. Passou a dominar as ações. Flamengo, de sparring, tentava contra-ataques mas errava demais nos passes, nas corridas. Continuava com vontade, mas era amplamente dominado. Rueda em mode Zé Ricardo, não fazia alterações. Fluminense aproveitava a avenida Trauco para avançar livremente e sobrecarregava o lado do Pará em várias jogadas pelas pontas. Flamengo acuado. Diego Alves fazendo belas defesas. O que reitera a importância de ter um bom jogador nesta posição, tão desprezada pelo nosso “diretor-executivo de futebol”, que às vezes não enxerga o básico na formação de elenco.
De repente, Éverton cansou ou Rueda acordou. Não sei o que veio primeiro. Para reforçar a marcação do meio, neste momento perdido, colocou Marcio Araujo. Só o fato de tê-lo por aí, em que pese a irritação de seus invariáveis péssimos passes, já anulou o jogo do Fluminense pelo meio. Arão pôde se dedicar a marcar mais a lateral-esquerda do Fluminense e Cuéllar a direita. Assim o Flamengo se acertou e passou a voltar a criar chances, ou tirar a presença frequente do Fluminense perto de sua área. Juan deu uma cabeçada esquisita que bateu na trave do adversário. Mostrando que o Flamengo tinha acordado. Paquetá saiu e entrou Vizeu, no fim do jogo. Mas mostrou que poderia ter sido a opção, cabeceando bem uma bola em um cruzamento na única chance que teve. Era, enfim, uma referência que não tivemos o jogo quase todo.
Terminou. Flamengo 1 x 0 Fluminense. Vantagem de empate para o próximo jogo. O que é bom. Mas não pode esmorecer. Precisamos levantar este caneco para o ano não ser a tragédia que a falta de disposição contínua estava nos levando.
Flávio H. de Souza escreve no Blog Pedrada Rubro-Negra. Siga-o no Twitter: @PedradaRN
Imagens destacadas no post e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo