O que trouxe preocupação foi a maneira como o time jogou na parte final, as substituições e as convicções de trabalho que começam a ganhar corpo.
Por Téo Benjamin – Twitter: @teofb
Homens adultos pagando dinheiro para xingar outros homens adultos por noventa minutos. Foi isso que marcou o escritor Nick Hornby em sua primeira visita a um estádio de futebol, ainda criança.
Os torcedores pareciam não se deliciar com o espetáculo. A cada passe errado, uma série de xingamentos. A cada cruzamento mal feito, uma procissão de vaias. Foi o que ele chamou de sofrimento como entretenimento.
Um fenômeno complexo, porém real. De fato, todo torcedor tem um prazer irracional e nada secreto em sofrer pelo seu time.
Nick Hornby imortalizou suas experiências como torcedor do Arsenal no excelente livro “Febre de Bola”. Os torcedores que ele descreve têm tudo a ver com aqueles que optam por vaiar o jogador mais caro do time no primeiro jogo do ano.
O Flamengo iniciou a temporada 2019 contra o Bangu debaixo de um calor infernal. Com o time ainda entrando no ritmo, era um jogo para se tirar poucas conclusões. A vitória foi magra, mas o que trouxe preocupação foi a maneira como o time jogou na parte final, as substituições feitas e as convicções de trabalho que começaram a ganhar corpo.
Nem vamos falar de Leo Duarte no banco. O garoto merece começar jogando, mas consideremos que esse início ainda é uma fase de testes.
Quando Vitor Gabriel entrou no lugar de Diego, parecia que Abel testaria um novo esquema com duas linhas de quatro e dois atacantes à frente. Ledo engano. O centro-avante da base virou pontinha e Éverton Ribeiro foi centralizado. O 4-2-3-1 parece ser regra.
Mas o pior estava por vir. Éverton Ribeiro deu lugar a Piris e Arão foi adiantado para jogar como meia. O camisa 5 tem as suas qualidades, mas nunca, em tempo algum, pode jogar como meia de ligação num 4-2-3-1 do Flamengo, mesmo que apenas por dez minutos contra o Bangu. Invenção pura ou recado: precisamos nos preparar para ver o time com três volantes.
O Flamengo não é obrigado a golear o Bangu. Quem exige isso está totalmente equivocado. Afinal, tem dia que a bola não entra por azar ou por grande atuação do goleiro dos caras.
Mas o Flamengo tem a obrigação de pressionar o Bangu, de atacar, amassar, insistir o tempo todo.
O que se viu por quarenta minutos foi um jogo morno, lento e irritante. Nos últimos quinze minutos, o Flamengo deixava o tempo passar e se limitava a defender, como se enfrentasse uma potência do continente, não o Bangu com dez homens.
Cair de produção no fim do jogo é absolutamente normal. Parar de jogar – a partir de substituições desenhadas para fazer o time parar de jogar – não é normal.
Partir para cima do adversário – dando certo ou não – seria o mínimo para demonstrar respeito às mais de 46 mil pessoas que compareceram ao Maracanã em um domingo de sol para um jogo que não valia efetivamente nada.
Queremos ver o Flamengo vencer, mas também queremos ver o Flamengo se impor.
O ano começou. Ainda é muito cedo para tirar conclusões, mas algum alerta já foi aceso. Não pelo jogo de hoje, claro, mas pelo que essas decisões podem sinalizar para o restante da temporada. O problema não é a vitória magra contra o Bangu. O problema é sinalizar que é viável colocar três volantes e se fechar na casinha dentro de um jogo desses.
O elenco ainda não está completo. As opções no banco ainda eram reduzidas. Portanto, nada de apedrejamento. Nada de pressa. Apenas primeiras impressões.
Mas ontem tivemos mais sofrimento do que entretenimento.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vidal / Flamengo