O clássico entre Flamengo e Botafogo no Maracanã foi eletrizante, mas culminou na segunda derrota de Jorge Sampaoli no Brasileirão. O argentino ainda não venceu na competição, perdendo também para o Internacional. No entanto, alguns erros de estratégia foram cruciais para que o time fosse derrotado. Não é uma crítica ao estrangeiro, que vem fazendo o time jogar bem, mas falta unir ao resultado. Os bons desempenhos não inibem os equívocos.
O principal erro foi jogar sem um armador durante 45 minutos. Gerson sentiu dores no adutor ainda no aquecimento e, com Everton Ribeiro no banco, a decisão foi por colocar Ayrton Lucas improvisado na posição. Não deu certo. Sem armação, o Fla abusou de bolas longas e pouco conseguiu fazer.
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O Flamengo perdeu pelo placar injusto construído na primeira etapa. A vitória parcial de 2 a 0 não traduz a realidade do tempo. Um pênalti, para muitos inexistente, fez com que o adversário abrisse o placar. Os alvinegros ainda acharam mais um gol e, mesmo sendo inferior, por algum motivo foi beneficiado por forças que talvez estejam acima da compreensão humana: vitória botafoguense por 3 a 2.
1º tempo de Flamengo x Botafogo
De cara, o posicionamento de Santos chama a atenção de todos. Bem adiantado e participando da saída de bola flamenguista quase na linha intermediária, o arqueiro se mostra muito ativo na construção de jogo. Claramente um dos ideais de Jorge Sampaoli, que tenta colocar sua cara no time e tem conseguido desde que chegou. Mas segundo ele próprio, ainda faltam muitos detalhes para acertar.
Mesmo com esses detalhes, o que já foi feito pelo argentino foi o suficiente para o mar rubro-negro soltar o ‘Uh’, com a grande chance de gol de Vidal. Everton Cebolinha cruza rasteiro e Arturo resvala, acertando na trave. Foi o bastante para chamar a Nação aos cinco minutos de jogo e também fazer com que Sampaoli começasse suas movimentações. O técnico não fica parado e a chance desperdiçada levou o profissional a mais um de seus momentos de loucura e insanidade na casamata, como todo torcedor espera que aconteça.
O grito do torcedor saiu mais uma vez aos 12 minutos com Cebolinha arrematando de fora da área após rebote. Mesmo sem a armação de Gerson e um meia de ofício, o time conseguia manter a máxima de Sampaoli: ‘amor pelo balón‘. A posse era majoritariamente rubro-negra (68% a 32%), assim como as melhores chances. Assim, a empolgação da torcida seguia em alta nas arquibancadas.
Aos 17 minutos, mais uma boa jogada ofensiva envolvendo Everton Cebolinha. Ayrton Lucas recebe, volta a cortar para o meio e bate, levando perigo, mas o arqueiro botafoguense defende e garante o placar igualado.
Excesso de ligações diretas é problemas para o Flamengo
Sobretudo na primeira parte da etapa, são muitas bolas forçadas. Principalmente pelo goleiro Santos, que joga muito avançado a mando de Sampaoli em busca de conseguir superioridade numérica. Mas não faz sentido sem uma saída de bola melhor trabalhada.
O arqueiro lança bolas que não dão em nada, matando a construção do jogo. Isso se potencializa pela falta de Gerson, ou alguém que conduza o time ao ataque. Os zagueiros e demais atletas, como Thiago Maia, também forçaram jogadas de forma desnecessária, errando lançamentos e abrindo mão de construir o jogo.
A esperança botafoguense
Como um feixe de luz para os botafoguenses, o sol invadiu a área rubro-negra junto de Victor Sá. Um pênalti no mínimo questionável assinalado por Edna Alves. Foi a chance do Botafogo fazer o seu gol e complicar o Mais Querido na partida. Tiquinho Soares venceu o goleiro Santos e levantou a torcida visitante.
Curioso. No momento em que o camisa 9 do Botafogo vai cobrar, o sol já se moveu e não está mais dentro da grande área rubro-negra. O lance de Wesley, que marcou contra o sol, acontece em um dos únicos pontos com muita luz no gramado. 1 a 0 para o rival. E cartão para Gabigol (mais um, o segundo em três rodadas de Brasileirão), que reclamou da marcação de Edna.
Flamengo insiste, mas falta de armador se torna óbvia
Aos 35 minutos, Gabigol dá boa enfiada de bola para Wesley, que devolve para o atacante na grande área. O camisa 10 chuta firme, mas a bola passa ao lado da baliza esquerda do goleiro Perri. Aos 36, Lucas Perri volta a trabalhar em linda cabeçada de Pedro.
Era o Flamengo sem meia-armador buscando resolver na bola aérea. Por isso, aos 38 minutos, Everton Ribeiro foi chamado para o aquecimento. O camisa 7 era o único que poderia entrar e fazer a função com maestria. Sem o maestro Gerson, que rege o time de Sampaoli desde sua chegada, o argentino teve que achar outro líder técnico em campo, e Everton entende bem disso.
Enquanto Everton Ribeiro não entrava – o que só aconteceria na segunda etapa – cabia a Gabigol armar o time. O atacante trabalha muito com o lateral Wesley, que insiste em devolver no ídolo contemporâneo. Mas apesar do volume ofensivo, as jogadas foram pouco efetivas e o rival soube aproveitar nova chance na bola aérea, ampliando o placar nos acréscimos. A derrota parcial se dá como um balde de água fria para a Nação, e certamente para o futebol. Isso porque o jogo, equilibrado, não denotava vantagem de dois gols para lado algum. Ainda assim, 2 a 0 Botafogo.
2º tempo de Flamengo x Botafogo
A entrada de Everton Ribeiro foi a primeira novidade da etapa. Ayrton Lucas, escalado fora de posição, não se habituou e o técnico, enfim, fez o óbvio. O ritmo do jogo muda drasticamente logo nos primeiros minutos e Gabigol tem duas boas chances com passes do camisa 7. No entanto, o 10 do Flamengo desperdiçou ambas as oportunidades, municiando os críticos que insistem em apontar para os gols perdidos.
O jogo fica ainda mais favorável na segunda etapa quando Edna expulsa Rafael. O Botafogo fica com um jogador a menos por duas infantilidades do lateral que fez história no Manchester United. Seu espírito vencedor, entretanto, parece ter ficado em Old Trafford. No primeiro tempo, o amarelo de Rafael acontece porque o jogador retarda o reinício da partida, impedindo que Cebolinha cobre um lateral. O segundo amarelo se deu por um pisão desnecessário aos 5 minutos da segunda etapa.
O Flamengo cresceu no jogo junto de sua torcida, que pedia a virada. Principalmente aos 8 minutos, depois de uma plasticidade quase milagrosa de Lucas Perri em chute de Everton Cebolinha. De fora da área, Cebola relembra os tempos de Grêmio, cortando para o meio e soltando a bomba de pé direito. A bola tinha endereço e se alguém achava que foguetes não podiam ser desviados, o arqueiro rival mostrou o contrário.
Fla toma a frente no jogo mental
Falou em bomba, falou em Marinho. O dono do ‘mini-míssil aleatório’ foi chamado por Sampaoli e entrou para dar opção ofensiva. Fabrício Bruno deixaria o campo, e o Mengão ficaria com dois zagueiros, alterando o esquema tático. Mas sobrou tempo para uma assistência de Fabrício.
O momento psicológico vira drasticamente quando Léo Pereira entra em velocidade por trás da defesa botafoguense e recebe virada de jogo do companheiro de zaga. Assim, o argentino alterou a substituição, colocando Marinho no lugar de Wesley.
Nesse meio tempo, Luís Castro se revoltou na beira do campo e foi expulso. O português ainda estava irritado com o vermelho para Rafael e a decisão de mudar uma substituição, ignorada pela placa da arbitragem, foi o estopim para uma explosão que o tirou de jogo. Foi motivo de regozijo da Nação, que se deleitou ao entoar: “E ninguém cala esse chororô…”
A pressão era rubro-negra em todos os sentidos, momentos e cantos do campo: uma verdadeira avalanche ofensiva no melhor estilo Jorge Sampaoli, com direito a muito rock’n’roll.
Gol do Botafogo coloca Bruno Henrique em campo
“Ah, é Bruno Henrique“! Aos 22 minutos, depois de muita troca de passes e oportunidades perdidas, a Nação pediu a entrada do camisa 27. O atacante ficou dez meses longe dos gramados e voltou a entrar contra o Coritiba, mas depois, com Sampaoli, só voltou a ser relacionado para o jogo deste domingo (30) e estava no banco de reservas.
Mas o Botafogo não estava morto, apesar de parecer. O torcedor do Flamengo certamente gelou no bate-rebate que aconteceu na área aos 24 minutos. Arturo Vidal teve a ação final que bloqueou o último chute alvinegro em uma das oportunidades mais reais de gol do adversário. No entanto, o mesmo não aconteceu no lance seguinte, aos 25. Tchê Tchê faz boa jogada na linha de fundo e toca para Tiquinho Soares, que fez o segundo seu segundo na partida: 3 a 1 para o Botafogo em clássico eletrizante na segunda etapa.
O tento serviu para Sampaoli perceber que precisava de novo gás: nova alteração. Bruno Henrique enfim entra em campo, substituindo Cebolinha. Mas com a dor do golpe sofrido ao levar o terceiro gol, a torcida mal conseguiu vibrar com a chegada de BH27 ao time.
Gás final em busca do empate
O ritmo enlouquecedor do Mais Querido diminuiu após o terceiro gol sofrido. O time tentava, mas conseguia chegar com perigo com menos frequência. A melhor oportunidade acontece aos 39 minutos. Pedro sai na cara do gol, mas chuta em cima de Lucas Perri e perde a chance de diminuir o placar. Mas o atacante foi salvo por Léo Pereira, que fez mais um gol. Desta vez, de cabeça, após cobrança de escanteio: 3 a 2 para o rival.
E o jogo terminou dessa forma, com erros de estratégia forçados por uma lesão de última hora de Gerson, que vinha voando nos últimos três jogos. A ausência é principal responsável pelo resultado que coloca o rival na liderança do Brasileirão depois de dez anos.