É quase impossível, atualmente, questionar o nível de poderio financeiro que o Flamengo atingiu. Nossos patrocínios são os mais altos, nossa camisa é a mais valorizada, podemos agora oferecer salários que competem com um clube europeu de médio porte e pagar à vista, praticamente no pix, a multa rescisória de jogadores cujo custo desestabilizaria diversos grandes times brasileiros.
Somos uma potência financeira em nível nacional e continental, com receita anual superior até mesmo a equipes tradicionais do velho mundo como Porto e Benfica, e emergentes dos países árabes como o Al-Hilal. Ou seja, se você for analisar apenas em termos de dinheiro, muito provavelmente o Flamengo nunca esteve numa situação tão positiva.
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O problema é que (felizmente, ou às vezes, no nosso caso, infelizmente) futebol não é só dinheiro. Balancete não faz gol, receita não decide jogo, redução da dívida não pega pênalti. Essas coisas ajudam? Imensamente, como qualquer torcedor que se lembra de como era o Flamengo no tempo das vacas magras pode atestar. Mas apenas jogar um maço de dinheiro no gramado não vai garantir vitórias e títulos, é preciso que você saiba o que fazer com toda essa grana.
E é aí que, no caso do Flamengo, as coisas começam a se complicar
Porque como ficou claro nos últimos anos, da mesma maneira que nosso clube se tornou uma máquina de fazer dinheiro, gerando receitas superiores a todos os concorrentes nacionais, nossa diretoria é uma máquina de tomar decisões equivocadas, com níveis de planejamento e organização que garantem que, mesmo com todo esse dinheiro, nosso desempenho seja abaixo do de clubes de orçamento bem menor.
E se isso ficou evidente em 2023, com uma temporada de seguidas eliminações, uma série de trocas bizarras de comando e uma atuação completamente caótica no mercado, que gerou um elenco desequilibrado jogando muito abaixo das expectativas, já é possível perceber, nos primeiros dias de 2024, que existem boas chances da história ser a mesma.
Isso porque, mais uma vez, não existe, no Flamengo, o menor sinal de planejamento e organização. Pegue a situação do nosso meio de campo, por exemplo. Após nas últimas temporadas termos sofrido com a falta de um articulador para substituir os sempre convocados Arrascaeta e Everton Ribeiro, finalmente trouxemos Nico de la Cruz, atleta polivalente que pode atuar em diversas posições do meio e do ataque.
Porém, não apenas o uruguaio tende a também ir para a Seleção e desfalcar o Flamengo como perdemos Ribeiro, cuja manutenção Tite havia pedido. A solução? Contratar Evander, jogador de 25 anos com passagens por Dinamarca e Estados Unidos. Que poderia, sim, ser uma boa aposta. Não fosse o fato de que aparentemente ele recebe quase R$ 1 milhão por mês – sem contar uma possível demora de adaptação ao futebol brasileiro.
Flamengo repete roteiro do filme de 2023
Quando você soma a isso o fato de que a equipe se reapresenta ao treinador Tite na próxima segunda-feira e a única contratação já confirmada foi seguida pela perda de um jogador da mesma posição, você nota uma diretoria que caminha sim para repetir, ao menos em termos de montagem de elenco, os mesmos erros da temporada passada.
Onde está o outro lateral-esquerdo para suprir a saída de Filipe Luís? Finalmente teremos um lateral-direito titular? Quando chega o zagueiro para compensar a dispensa de Rodrigo Caio? Temos algum outro volante que faça o que Pulgar faz? São várias as lacunas e elas deveriam ser preenchidas no começo da temporada, não na janela do meio do ano, quando o time pode já ter se complicado ou os atletas talvez cheguem sem ritmo.
Um clube com a grandeza e a capacidade financeira do Flamengo deveria não apenas ser capaz de mapear variadas opções para cada posição. Deveria, ainda, agir de maneira bem mais ágil no mercado, sem estar o tempo todo surpreendido por transferências. E, além disso, ser incapaz de encontrar peças de reposição, seja dentro ou fora do elenco.
Resta então torcer que o novo ano represente algum tipo de reviravolta. Que os reforços cheguem e transferências não se tornem novelas. Que a diretoria rubro-negra finalmente entenda que dinheiro não traz felicidade. Mas pode trazer grandes jogadores e gerar grandes conquistas, se você se organizar direito e souber usar.
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