Por mais que o treinador Abel Ferreira frequentemente tente se apresentar com um pobre médico cubano vítima de xenofobia que treina, como hobby, a sala especial para crianças vítimas de bullying da sucateada Escola Infantil Tatuzinho Carente, localizada em dos municípios de mais baixo IDH do país, é preciso reconhecer que o Palmeiras é hoje um dos principais clubes do futebol brasileiro, tanto em termos financeiros quanto de conquistas.
O alviverde paulista é uma equipe regular, consistente, que se beneficia não apenas da manutenção de comando como também de um estilo de jogo já definido e de uma grande capacidade de entender e explorar as fraquezas do adversário.
➕ FALSO NOVE: Controle do início ao fim contra um Palmeiras de poucos argumentos
Ou seja, tudo indicava que neste domingo, diante de um rival complicado e atuando num campo de grama sintética com pouca grama sintética, já que grande parte dela havia sido perdida durante um show do Soweto – força, Belo – o Flamengo não teria vida fácil. E ele não teve.
Isso porque se a equipe rubro-negra nas últimas partidas já vinha encontrando dificuldades para armar as jogadas pelo meio, recorrendo excessivamente aos lançamentos nas pontas, a marcação palmeirense na saída de bola – combinada com a política de derrubar no chão qualquer jogador de vermelho e preto – basicamente tornou o lançamento forçado a única jogada do time de Tite. Carlinhos se viu encaixotado entre os zagueiros, Arrascaeta era caçado onde fosse e Bruno Henrique lutava mas não encontrava muitos espaços.
E assim foi o jogo, não apenas no primeiro tempo, mas até as entradas de Gerson, e em maior nível, de la Cruz, no segundo tempo. No lugar de Allan e Luiz Araújo, ambos aumentaram a dinâmica e a técnica do meio de campo rubro-negro, o que, somada a decisão do time paulista de abandonar o esquema com 3 zagueiros, ajudou a abrir espaços e finalmente criar algumas chances.
Se no primeiro tempo o Palmeiras foi um pouco superior jogando nos erros rubro-negros, na segunda etapa foi o Flamengo que criou mais chances, ainda que nenhuma delas clara o bastante.
➕ JOÃO LUIS JR: O Flamengo venceu de novo mas também tentou, de novo, se complicar
Então não pode ser considerado injusto o empate em 0x0, numa partida em que não faltou vontade mas com frequência faltou futebol. Assim como também não pode ser considerado ruim voltar com um ponto de um jogo fora de casa contra um time que – ainda que seu treinador alegue ter como orçamento apenas 26 reais em moedas e um porquinho que será rifado na quermesse da Igreja Nossa Senhora Achiropita – é considerado favorito na briga pelo título.
Vários dos problemas que a equipe rubro-negra vinha apresentando se repetiram – a dificuldade na armação pelo meio, a recorrência dos lançamentos, muitas vezes feitos pelo goleiro Rossi – mas como boa notícia temos o retorno da consistência defensiva, ainda que ao menos uma vez tenha acontecido de novo a confusão na cobertura da bola alta. Problemas que Tite precisa resolver o quanto antes, já que temos uma partida dura pela Libertadores nesta quarta-feira e um resultado positivo é muito importante para a nossa posição no grupo.
Mas no geral o que vale é sim o ponto conquistado fora, diante de um adversário difícil, e esse começo de Brasileirão que, apesar de apresentar mais emoção do que seria necessário, já nos garantiu 7 pontos de 9 possíveis, com dois jogos fora de casa. Temos muito a melhorar, mas com vontade, ajustes e sorte para sobreviver a Copa América, talvez esse seja sim o ano de conquistas que o torcedor esperava.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.
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