Campeão olímpico pela seleção de vôlei masculina e técnico do time feminino do Sesc Flamengo, Bernardinho disse à Fla TV que se considera em condição de comandar uma comissão técnica de futebol. Ele também falou sobre os motivos que levam um time vitorioso a não conseguir se manter no topo após conquistar títulos.
“Eu não tenho a pretensão, eu sou apenas um dos 200 milhões de brasileiros que acham que entende de futebol. Porque todo mundo acha que entende de futebol, Voleibol um pouquinho, futebol muito. E eu sou treinador de outro esporte, eu sei o quão difícil é estar ali. Então eu não tenho a pretensão de ser treinador de futebol. Nunca serei. É diferente de você ser um head coach. Se você me chama para coordenar um staff, para dirigir uma equipe de futebol, eu tenho condições”, afirmou.
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Bernardinho comparou a função que exerceria à do head coach de um time de futebol americano, que coordena uma equipe de treinadores de funções específicas no time.
“Quem é o melhor treinador para dar treinamento? Quem é o melhor estrategista que tem? Como é o futebol americano? Head coach tem um conhecimento geral, e coordena seus treinadores. Com uma visão clara. Fazer parte eu não seria incapaz. Pela minha experiência de esportes”, afirmou.
Entretanto, ele ressalvou que não se vê capacitado para ser técnico de futebol.
“Qualquer bom treinador de futebol sabe centenas de vezes mais do que eu, conhece muito mais do que eu. E a própria dinâmica de vestiário é muito diferente.”
Bernardinho vê potencial desperdiçado em Neymar e Adriano
Apesar disso, Bernardinho falou que já pensou em abraçar o desafio de treinar Neymar, amigo do seu filho, Bruninho.
“Meu filho tem relação com muitos jogadores. E ele conhece o Neymar. Sempre falo na brincadeira que meu grande desafio seria treinar o Neymar. Por que alguém tem dúvida do talento que ele tem? E como treinador qual é a sua grande frustração? Quando você detecta um talento e ele não realiza todo o seu potencial. Ele poderia fazer mais. Porque é um cara tão fantasticamente talentoso.”.
Bernardinho comparou Neymar a um grande ídolo rubro-negro, o Imperador Adriano.
“O Adriano vencia pela necessidade. Num certo momento, aquilo que movia ele que era a necessidade, ele venceu, se tornou Imperador, o cara ganhou dinheiro. Como torcedores, a nossa impressão não é que ele poderia ter ido mais longe? Porque o que moveu ele foi a necessidade, foi a fome, ele vence. Em certo momento ele perdeu a necessidade. Ele tinha paixão pelo processo? Não tinha. É um cara que eu tenho grande admiração, e como treinador, frustra, porque poderia ter conseguido mais.”
Zico se manteve por estar sempre aprendendo, diz Bernardinho
Ao ser questionado sobre por que se manter no topo é mais difícil do que chegar lá em primeiro lugar, Bernardinho, que manteve a seleção de vôlei brigando por grandes títulos por anos e foi campeão olímpico em 2004 e 2016, explicou.
“Liderar é simples, mas é difícil. Se manter é simples, mas é muito difícil. Quais são as premissas que te levam até lá? Treinar muito, humildade, aprender o tempo inteiro. Se você perde isso.. Eu aprendo com a História. Pega um Zico, por exemplo. Como ele se manteve tanto tempo? Ele nunca perdeu a humildade, o espírito de aprendiz”, explicou.
De acordo com o treinador, depois que você ganha, é preciso se dedicar ainda mais do que antes, e muitas vezes não é isso que acontece.
“Quando você vai para campo para treinar como se fosse o primeiro dia que estivesse treinando, aprendendo, ouvindo o treinador, você se mantém. Quando você começa a achar, deu, sou o cara, já não está disposto a chegar cedo, já não está disposto a se dedicar, você vai perder aquela condição. Porque alguém está disposto a fazer e você vai ser ultrapassado”, disse.
‘O que te trouxe até aqui não vai te manter lá’, resume técnico
Para Bernardinho, motivar um time após um título é mais difícil do que depois de um fracasso.
“Como você motiva um time depois que você perde? A grande questão é como você motiva um time depois que você ganha. Você ganha título brasileiro, Libertadores. Como você faz no dia seguinte, no ano seguinte, na temporada seguinte? A dificuldade está aí. Ainda mais num ambiente como é o esporte onde você tem esse reconhecimento popular”, afirmou.
Em resumo, Bernardinho disse que o segredo é não se achar especial e fazer ainda melhor do que antes.
“Tudo isso é sedução, e você começa a se sentir especial. E não existem pessoas especiais. Eventualmente você faz algo especial. Ganhar medalha olímpica de ouro é um feito, mas não faz de você um cara especial. Porque o que você fez ali tem que continuar fazendo. E melhor. O que te trouxe até aqui não vai te manter lá. Você tem que fazer melhor.”
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