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Antes de iniciar os comentários da quinta rodada do brasileirão, deparo-me com uma notícia muito preocupante, Muhammed Ali, um dos maiores atletas do planeta de todos os tempos, foi internado em um hospital do Arizona, em situação delicada, e respira por aparelhos. Ali foi um lutador de boxe espetacular, em uma época consagrada por grandes confrontos no ringue. Ele está com 78 anos e sofre de Mal de Parkinson desde 1980. Sua família, segundo notícias, já se prepara para sua despedida deste mundo.
A notícia me remeteu para uma situação que eu presenciei em 1982, no Rio de Janeiro. Participávamos de uma gincana do Colégio Hélio Alonso, e uma das tarefas era levar Mané Garrincha para uma homenagem. Ninguém conseguiu concluir a missão, devido ao craque estar internado na ocasião. Garrincha, que jogou pelo Flamengo em seu final de carreira, nos deixou pouco tempo depois dessateraça, em 20 de janeiro de 1983.
Quando falam em “monstros” do futebol, ou do esporte, o termo se perde no meio de tanta mediocridade dos tempos atuais. Muhammed Ali e Garrincha foram desportistas verdadeiramente fora de série, mas lamentavelmente sucumbem para os atletas da modernidade, que são elevados aos céus muitas vezes por lampejos, e não por constância.
Quando assistimos ao futebol jogado atualmente no Brasil, nos deparamos com a ausência de craques e times de futebol exuberante. Quando chamo na memória o Internacional de 1974 e 1975, que venceu duas finais de campeonatos em cima de um timaço do Cruzeiro e do aguerrido Corinthians, logo percebo a distância da qualidade em relação ao líder do campeonato brasileiro neste momento.
O Inter contava com talentos como Dom Elias Figueroa, Paulo Cesar Carpegiani, Paulo Roberto Falcão, Batista e com atacantes “cruéis” como Dadá Maravilha e Caçapava. Poucos anos depois, em 1979, o Internacional seria campeão novamente, invicto, com o jovem zagueiro Mauro Galvão. No intervalo dessas conquistas vi o timaço do Atlético Mineiro ser vice-campeão invicto, quando chegou à final de 1977 contra o São Paulo, e perdeu em pleno Mineirão, em histórica decisão por pênaltis.
Em 1978 o Guarani de Campinas encantou o Brasil, com um time comandado por Zenon, e que tinha ninguém mais que Careca de centroavante. Após isso tudo, com a chegada dos anos 80, o Flamengo montou times com o nosso Galinho de Quintino fazendo gols e consagrando os atacantes do Flamengo, com destaque para Nunes, colocando-os reiteradas vezes na cara do gol.
Nessa época não havia como ser humilde. Literalmente as equipes tinham receio de jogar contra o Flamengo. Nosso time chegou a ficar invicto, NA SÉRIE A, por 52 partidas. Passaram pela Gávea Adílio, Andrade, Leandro, Junior e outras feras. Ninguém me contou. Ao contrário de Garrincha, esses aí eu vi jogarem!
Talvez por essas referências, que eu tenha tanta dificuldade em ver certos jogadores no elenco atual do Flamengo. Na prática, muitos do grupo contemporâneo sequer “amaciariam chuteiras” daquela geração de 80. Nem citarei nomes, por que muitos perebas de hoje adquiriram um bizarro fã clube. Criticá-los, ou pedir a saída deles pode ser arrumar encrenca com bravos e honestos membros da Magnética.
A solução para um crescimento técnico não está na contratação e aglomeração de grandes craques consagrados, mas sim seguir a receita da formação dos fortes times que conquistaram 4 títulos de campeonatos brasileiros em menos de 10 anos. O segredo daquela geração está na base gestada na gestão do Clube a partir de 1974, com o surgimento da FAF, e na manutenção do jovem time repleto de revelações das categorias de base do Flamengo.
Já em 1978 o Flamengo era muito forte. Quase chegou as finais do brasileirão de 1979, e fez uma final épica contra o Atlético Mineiro em 1980. Antes de chegar ao auge, o Flamengo vencedor viveu fases terríveis, onde os torcedores mais jovens realmente sofriam com a ausência de conquistas nacionais relevantes. Literalmente frequentávamos o quinto dos infernos nos idos anos de chumbo da ditadura militar no Brasil.
Muito reconfortante ver que enfim o Flamengo dá mostras de melhoras, coincidindo com a presença de três jogadores e um jovem treinador oriundos das categorias de base. Especificamente em relação ao Zé Ricardo, na resenha esportiva pós-jogo na Rádio Globo, teve comentarista defendendo que Jayme de Almeida fosse o escolhido como interino para comandar o Flamengo. Ora, com todo o repeito que tenho para com o Jayme, mas o Zé Ricardo demonstra maior capacidade, e percebe-se isso nos mínimos detalhes.
Aproveitando o assunto treinador, que tal passarmos pelo jogo de ontem e dos demais da quinta rodada?
Flamengo 1×0 Vitória – O jogo me chamou a atenção pela aplicação e comprometimento de praticamente todo o time. Futebol não é só raça, não é só técnica, não é só tática. A combinação desses ingredientes é o que pode gerar uma equipe vencedora. O grande mérito do treinador não está no fato das duas vitórias consecutivas, mas sim na metodologia que percebi por várias vezes.
Rodnei (se não me engano), na saída de campo contra a Ponte Preta destacou o quanto Zé Ricardo conversara com os jogadores. Mas essa conversa não se limita ao lado de fora de campo. Na partida contra o Vitória, só o Alan Patrick foi chamado por duas vezes na lateral para receber instruções do nosso técnico. A impressão que tenho é que Zé Ricardo está 100% focado em tudo o que acontece em campo.
Se ele terá futuro no Flamengo, som o tempo dirá. Mas que na arrumação da equipe, ele consegue superar gradativamente as fragilidades de nossa equipe. De quebra ainda proporcionou uma paz, mesmo que tênue, entre a Torcida e o time. Os erros de Muralha e Cesar Martins, que poderiam ter feito o Flamengo levar gol ontem foram relevados. As atuações atabalhoadas de Márcio Araújo foram esquecidas pelo que o cara se doou em campo. Muita gente acredita piamente que o antes contestado jogador tenha feito uma grande partida.
Gostei muito do Arão, Alan Patrick, Jorge e Rodnei. E Vizeu fez uma baita partida, que bom que fez gol. Foi um prêmio para todos nós. Cirino foi mal e Mancuello esteve fora de sintonia. Ambos perderam gols inacreditáveis. Everton entrou e deu movimentação, mas o Flamengo poderia ter vencido por mais. A vantagem do placar mínimo é o sapatinho máximo…
Eu dou méritos ao treinador. Afinal, há uma sensível diferença do que vimos em campos nos últimos dois jogos, onde Zé Ricardo esteve no comando. Torço para que a evolução prossiga, e que ele nos traga sorte e permaneça como treinador do Flamengo. Mas todos sabem que no Brasil, o que sustenta técnico é resultado. Nesse sentido, Zé Ricardo começou bem, com duas goleadas: 2×1 e 1×0. Mas não fiquemos tristes, o líder do campeonato também está fazendo placares modestos. A boa notícia é que vencer por um gol de diferença também vale 3 pontos.
Para concluir, o time do Vitória é muito fraco, mas apresenta vontade. Dessa forma venceu o Corinthians, e por muito pouco derrotava também o Galo. Nesse campeonato provavelmente Flamengo e Vitória estarão em disputas diferentes.
Internacional 1×0 Atlético/PR – O Inter vai pontuando em doses homeopáticas. Possui um jogador que eu o queria no Flamengo, Vitinho. Joga fácil o menino. Nessa partida acabou sendo coroado com o gol, mas ele se destaca muito pelas assistências. O resultado foi justo, e, assim como o Flamengo contra o Vitória, o time da casa poderia ter vencido de mais. Tendências: InterG5; CAP vai precisar muito da mística do velho furacão.
Corinthians 2×1 Santos – O futebol pragmático e de resultados é marca do Tite. Muitos o admiram, mas acho previsível a forma de jogar dos gambás. Valeu muito pela vitória, e o Corinthians ainda pode crescer muito tecnicamente. Tendências – Corinthians do Tite possui boa tradição nessa forma de disputa, o que o faz sempre favorito ao título; o Santos tem que abrir o olho.
Coritiba 3×4 Chapecoense – O filme se repete. A Chape, desde que subiu para a Série A é uma carne de pescoço a ser roída, e o Coxa já passou o cerol no treinador. Tendências: Chape – meio alto da tabela; Coritiba começa o campeonato com a velha receita de como cavar em direção a segunda divisão.
Santa Cruz 0x1 Sport – Eu vi algumas partes do jogo. Decepção. Sofrível a apresentação do Santa. O Sport mereceu vencer de mais Tendências: O Santa Cruz terá que achar o caminho da humildade, o futebol que vi é digno de divisão subalterna. O Sport não foi brilhante, mas pelo menos acordou para na competição.
Botafogo 0x1 Cruzeiro – O alvinegro deve ter assustado seus torcedores. A realidade bateu forte. Jogar brasileirão é muito diferente de campeonato estadual. Cruzeiro ainda tem motivo para se preocupar. Tendências: Essas duas equipes estão longe de gerar boas expectativas para seus torcedores. Cruzeiro pode sair aos poucos do sufoco, o Botafogo…sei não!
Atlético/MG 1×1 Fluminense – Eu vi o jogo. O Flu perdeu a oportunidade de sair com 3 pontos do Horto, onde foi melhor a maior parte do tempo. O time do Galo está muito desfalcado e está longe de ser aquela equipe que jogava com bastante intensidade. Tendências: Atlético/MG – ainda é um dos favoritos do campeonato, mas a desintegração do elenco, por contusões e convocações pode comprometer seriamente o seu desempenho na competição; Fluminense – O time está muito bem arrumado pelo técnico Levir. Scarpa está comendo a bola. Briga por G4 e título.
Figueirense 1×0 São Paulo – O pouco que vi do jogo, não gostei. Uma pelada de mau gosto. Tendências: São Paulo – Convocação de Ganso e falta de foco podem fazer os paulistas perderem a chance de disputar algo mais ousado; Figueirense – Futebol feio.
América 1×2 Ponte Preta – Que decepção. Vi boa parte do jogo, e a Ponte poderia ter vencido até de mais. Tendências: América – O treinador ser mandado embora; Ponte Preta – Gangorra.
Palmeiras 4×3 Grêmio – partida com algumas polêmicas. Arbitragem complicou e prejudicou o time da casa, apesar de vencedor. Resultado pareceu justo. Tendências: Grêmio – G4; Palmeiras – Ainda oscila na competição e ao longo de suas partidas, mas eu considero a equipe de Cuca um dos favoritos ao título.
Para completar, eu espero uma partida muito difícil contra o Palmeiras. Um eventual insucesso não pode ser encarado como uma tragédia. O Flamengo que saiu do quinto dos infernos, nos presenteou pintando o bordado da quarta colocação na quinta-feira da quinta rodada, pode surpreender o Porco nesse próximo confronto. Dito isso, cabe ressaltar que Zé Ricardo teve tempo escasso para treinar a equipe, e isso é um problema.
A notícia boa é que após esse confronto, que deve fazer lotar mais uma vez o Estádio Mané Garrincha, Zé Ricardo terá uma semana completa para implementar mais veemente sua filosofia de trabalho. Tomara que a Magnética em Brasília ajude o time dessa vez.
Cordiais Saudações Rubro-Negras!