No último domingo (17) Flamengo e São Paulo se enfrentaram pelo primeiro jogo da final da Copa do Brasil. O tricolor paulista, ao vencer pelo placar de 1×0, garantiu a vantagem para o jogo da volta, no próximo domingo, no Morumbi. Além do pobre futebol apresentado novamente pelo time do Flamengo, o fora de campo também chamou a atenção.
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Na metade do segundo tempo, como de costume, o sistema de som do Maracanã anunciou o público presente e a renda. Ao aparecer na tela a ridiculamente gigante cifra de pouco mais de R$ 26 milhões arrecadados, a torcida iniciou imediatamente um forte e sintomático coro contra a diretoria do clube, focando no presidente Rodolfo Landim e vice de futebol, Marcos Braz.
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Muita coisa explica essa reação. A péssima fase do time treinado pelo Sampaoli, o sentimento de frustração em ver mais um resultado ruim, dessa vez logo depois de uma linda festa organizada pela torcida, realizada através da arrecadação de vários torcedores. Mas o principal, logicamenete, foi saber que tal valor só foi possível devido aos preços astronômicos dos ingresso para esse jogo.
O setor Norte, conhecido por ser o mais barato, abriu as vendas custando R$ 400 para não associados. Setores mais caros passavam dos R$ 1 mil. A diretoria, se aproveitando do apelo do jogo, intencionalmente fez do espetáculo uma atração à elite, mirando exatamente em pessoas de alto poder aquisitivo para compor o espaço do Maracanã. Esse, que durantes muitos anos recebeu o povo trabalhador, que deu ao estádio e ao futebol brasileiro sua cara.
O título dessa coluna é inspirado numa faixa erguida em 2017, na ocasião de um amistoso entre o time tunisiano Club Africain e o PSG. Na época, os torcedores protestavam contra o presidente do clube francês, Nasser Al-Khelaifi. Desde então, a imagem e o lema surgem nas redes sociais como forma de protesto contra a elitização e gentrificação do futebol, fenômeno que ocorre no mundo todo.
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Prezando pela minha formação de historiador, sinto-me na obrigação de deixar algo claro: a origem do futebol é burguesa, mais especificamente na Universidade de Cambridge, no ano de 1863. Ali, o esporte que conhecemos ganhou forma e regras.
Porém, a classe operária rapidamente o adotou, que em pouquíssimo tempo ganhou espaço no futebol inglês. Isso reflete-se hoje na grande quantidade de clubes originados em áreas industriais na Inglaterra.
Por isso, a interpretação válida para o lema passa pelo o que a população pobre fez do futebol: o esporte mais amado do mundo. Alie isso ao fato de estarmos falando sobre o clube mais popular no Brasil, o “país do futebol”, e talvez conseguimos nos aproximar do que os torcedores do Club Africain tentaram dizer lá em 2017.
O Flamengo, clube criado por membros da elite carioca em 1895 e que iniciou seu futebol através da base de jogadores que compunham outro clube de elite, o Fluminense, trabalhou para aumentar sua popularidade no decorrer da década de 1930, alcançando o posto de clube mais popular do Brasil.
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Hoje, diante do cenário global de elitização, vive uma nova série de disputas de sua diretoria contra sua torcida. Essa torcida durante muitos anos manifestou as principais características que criaram o Flamengo que conhecemos. E hoje se vê afastada e distante do Flamengo que querem construir no lugar.
Cabe a nós nos atentarmos e lutar e impedir que o Flamengo que foi criado pelos pobres seja roubado pelos ricos.
Marcos Paulo Neves é professor e historiador formado pela UNIRIO. Apaixonado por futebol e pelo Clube de Regatas do Flamengo, procura falar sobre futebol, política e história de maneira clara e não revisionista.
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