Saudações, Rubro-Negros!
Na semana passada usei este espaço para falar da necessidade que o Flamengo tem de descobrir rivais em nível nacional, uma vez que, tradições à parte, não há como considerarmos nossos conterrâneos como rivais de fato. A distância entre nós é grande e nada indica que irá parar de crescer no curto ou mesmo no médio prazo. Peço, então, licença a vocês para revisitar o assunto nesta semana, desta vez, porém, a partir de uma nova perspectiva e influenciado por um evento específico ocorrido na semana passada.
Moro no bairro do Flamengo, no Rio. Meu prédio fica bem próximo à sede do Fluminense, em Laranjeiras; dependendo de onde estou vindo, costumo acessar a Rua Álvaro Chaves para pegar o viaduto que desemboca na rua em que moro. A Álvaro Chaves é a rua que abriga o portão principal da sede social do Flu, a qual, como todos devem saber, é uma construção que faz parte da História do bairro, do Rio de Janeiro e do Brasil, também. Foi no campo das Laranjeiras, por exemplo, que a seleção brasileira jogou a primeira partida de sua existência. Estamos, portanto, falando da memória não só de uma cidade, mas do país e do próprio futebol mundial, senhoras e senhores. Pois ali começou a trajetória que transformou o Brasil em dono da maior seleção de futebol de todos os tempos, além dos cinco títulos mundiais.
No blog: Saibamos saborear a divindade de laços que se reatam
Como disse, é comum eu sair do túnel Santa Bárbara, descer o viaduto após ele e dobrar na primeira rua à direita, a Álvaro Chaves, na volta para casa. Mas existe uma segunda alternativa, a qual consome praticamente o mesmo tempo que a primeira. Vindo para casa de táxi na semana passada, o motorista, bem familiarizado com a área, perguntou que caminho eu preferia que ele seguisse: “por baixo” ou “pelo Fluminense”. Respondi que pelo Fluminense. Então ele me perguntou se eu era tricolor. Disse que não e perguntei por que achava aquilo. Então ele me disse que eu havia sido muito firme na hora de responder que queria passar por ali. E foi aí que me dei conta — e disse isso ao motorista — de que a firmeza da resposta estava ligada à necessidade de admirar um pedaço da História enquanto ele ainda existe. Quero passar por aquele lugar um dia com meus netos, quando o clube terá sido demolido para a construção de um shopping ou um edifício garagem, e falar para eles que sou do tempo em que no lugar de monstros de concreto o que havia ali era uma instituição de tradição e com uma sede bonita.
Infelizmente o caminho que estão trilhando nossos coirmãos não nos permite imaginar cenário muito melhor do que esse. Fluminense e Vasco, mais até do que o Botafogo, acho eu, parecem estar com o pé pesando sobre o acelerador do retrocesso. É como aquelas cenas de filmes de ação em que o sujeito engata uma marcha à ré e foge em disparada pela contramão em meio a um tráfego intenso. A diferença é que nenhum deles tem as habilidades de piloto de fugas de um Vin de Almeida Diesel, ou de Nicolas de Almeida Cage em “60 minutos”, ou menos ainda do maior de todos eles, o lendário James Bond, nosso eterno 00 de Almeida 7. E por isso os resultados acabam sendo tão desastrosos quanto patéticos, como temos podido acompanhar mais recentemente.
Longe de mim pedir para que vocês, irmã e irmão rubro-negros, se compadeçam e tenham compaixão por quem certamente estaria em estado orgasmático permanente se fôssemos nós que estivéssemos na mesma situação. Mas é preciso olhar para além disso, porque de fato trata-se de algo maior do que a rivalidade que existe entre nós. Estamos falando da memória da nossa cidade, no caso dos cariocas, do nosso país e do futebol como um todo. E por mais que vocês possam detestá-los, aceditem-me, não é possível detestar mais do que ver um centro gastronômico gourmetizado onde hoje está a bonita e simbólica sede de Laranjeiras; assim como também não é tão insuportável quanto seria ver um Wal Mart erguido no lugar do maltratado, porém ainda belo e histórico São Januário. E tudo isso é sim uma possibilidade. Uma bem real, na verdade. Trata-se do fenômeno da gentrificação, uma praga, que, alavancada pela especulação imobiliária e o capitalismo predador, está assassinando memórias e tradições seculares ao redor do planeta e está mais próxima de tornar nossos rivais mais próximos em suas novas vítimas do que nós e eles, principalmente, somos capazes de crer.
SRN
Fabiano Torres, o Tatu, é nascido e criado em Paracambi, onde deu os primeiros passos rumo ao rubronegrismo que o acompanha desde então. É professor de idiomas há mais de 25 anos e já esteve à frente de vários projetos de futebol na Internet, TV e rádio, como a série de documentários Energia das Torcidas, de 2010, o Canal dos Fominhas e o programa Torcedor Esporte Clube, na Rádio UOL.
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