Uma tecla já batida até a exaustão, com risco real do piano quebrar, é a do quanto é difícil, no Brasil, ter tempo para treinar.
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O calendário é apertado, as partidas se empilham, os estaduais são longos demais, e com isso os times não tem tempo pra que? Para treinar. Técnicos merecem mais paciência, demissões recebem críticas, equipes não dão liga por que faltou tempo pra que? Para treinar.
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E são argumentos que fazem todo o sentido do mundo, claro. Afinal, futebol não é apenas talento, é também organização e preparo, e obviamente, como em qualquer atividade, quanto mais você treinar, melhor você vai ser. É fazendo que se aprende a fazer, é a prática que leva a perfeição, existem livros famosos afirmando que você precisa de no mínimo 10 mil horas realizando uma atividade pra ter domínio sobre ela.
Então é óbvio que treinar é bom, certo? Que quanto mais treinos um time realizar, quanto mais horas um atleta tiver para praticar, quanto mais repetições do mesmo movimento ou processo forem feitas, maiores as chances de sucesso. Parece razoável, parece lógico, parece evidente.
Mas é aí que entra o espírito iconoclasta, rebelde e quebrador de paradigmas do Clube de Regatas do Flamengo. Afinal, não basta ser um time postulante ao título que empata dentro de casa com o lanterna do campeonato. Não basta ter o elenco mais caro do continente e quase perder pra um time que tem ⅛ da nossa folha salarial.
O Flamengo precisa também fazer a sua parte a fim de desacreditar até mesmo um conceito tão evidente quanto o de que treinar é uma coisa positiva.
Sampaoli e os treinos do Flamengo
Isso porque desde a chegada de Sampaoli vem sendo exatamente após os períodos mais prolongados de treino que o Flamengo consegue passar suas maiores vergonhas. Dez dias durante as datas FIFA? Uma sabugada degradante para o Bragantino, em que o Flamengo foi atropelado sem dó pela equipe do interior paulista. Uma semana sem jogos para preparar o time?
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Um empate miserável, dentro do Maracanã lotado, contra o América Mineiro, o último colocado do Brasileirão 2023, uma equipe mais cansada, já que havia entrado em campo no meio da semana.
E que conclusões podemos tirar daí? Será o Flamengo o único time que piora se treinar, e os jogadores devem, então, se apresentar no estádio meia hora antes da partida, se possível sem ter tido contato nos dias anteriores?
Está Sampaoli realizando treinos tão complexos que a equipe só consegue processar as informações um ou dois meses depois? Será o Flamengo de 2023 um time tão caótico que treinar não faz mais diferença? Ou seja, basicamente um roleta russa em que não se pode prever se teremos um grande jogo ou uma atuação lamentável?
Onde está, então, o Flamengo campeão?
Porque a verdade é que um time que planeja ganhar alguma coisa não pode se comportar da maneira que o Flamengo se comportou nesse sábado (22), nem mesmo se algumas pessoas quiserem se apegar ao bizarro argumento de que “estamos focando nas copas”, antes mesmo do fim do primeiro turno.
A equipe de Sampaoli segue irregular, segue alternando bons jogos com partidas terríveis e não apenas se coloca cada vez mais distante da briga pelo Brasileiro como reduz até a confiança em sua capacidade para brigar na Libertadores e na Copa do Brasil.
Fica então uma única boa notícia: como jogamos quarta (26) contra o Grêmio pelo menos esse time não vai ter tempo para treinar demais. E ficar pior ainda.
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