Existem inúmeras maneiras de classificar os tipos de jogador de futebol, indo desde o craque, que exibe um qualidade técnica absolutamente acima da média, até o pereba, que tem aquela perceptível e decisiva ausência de qualidade, passando pelo xodó, como chamamos o jogador mediano que atrai afeto, e o guerreiro, que é aquele atleta abaixo da média que compensa suas deficiências na base da disposição.
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Mas um tipo extremamente específico de jogador, que aparece com bem menos frequência e ainda assim sempre deixa seu nome marcado na história, é o herói.
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E o que define o herói? Bem, menos do que qualidade, menos do que disposição, o herói é definido pela sua história.
O herói é o jogador que chega no profissional sem ter feito base. É o cidadão que supera as mais absurdas lesões. O atleta que aparece exatamente na hora mais decisiva, quando menos se espera e mais se precisa. Como o protagonista do terceiro ato de um drama, como o ator principal de uma história com final feliz.
Se dá aí o principal desafio de quem enfrenta um herói: você não joga apenas contra um homem, você não enfrenta apenas um ser humano. Você está em confronto com uma narrativa, tentando impedir uma profecia, discutindo com Joseph Campbell numa mesa de bar. Lutando para convencer o homem de que aquele livro dele não faz tanto sentido assim.
E no Flamengo de 2023, poucos jogadores tem mais o perfil do herói do que Bruno Henrique.
Biografia do herói Bruno Henrique
Surgido nas várzeas de Belo Horizonte, sem ser formado por clube algum, Bruno Henrique chegou ao Santos. E brilhou até um acidente que quase lhe tirou a visão. Mas não tirou. Ele veio então para o Flamengo, onde ganhou tudo, até uma nova lesão. Muitos juravam que ele, mesmo que se recuperasse, jamais iria voltar ao antigo nível físico e técnico. Mas ele voltou.
E foi com esse herói que o Athletico teve que lidar nessa quarta-feira (5).
Porque sim, a equipe do Paraná tinha um bom plano, jogar por uma bola, que apareceu em jogada suspeita ainda no começo do primeiro tempo. E mesmo quando Pedro empatou de pênalti, na segunda etapa, o resultado ainda era bem razoável para a equipe do sul, já que muito provavelmente não veio ao Rio esperando nada além de um empate.
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Mas quem enfrenta Bruno Henrique não enfrenta apenas um homem: enfrenta uma história, uma narrativa. Enfrenta uma improbabilidade matemática em pernas finas e passos largos, que não está driblando apenas adversários, mas também o destino, a desconfiança, a lógica, e tudo mais que se colocar em seu caminho.
Herói em ação
Então nada mais natural do que, diante de um adversário que parecia ser o vilão perfeito – as mesmas cores que nós, porém frio onde somos calor, defesa onde somos ataque, branco onde somos pretos – Bruno Henrique mais uma vez deixasse claro porque nasceu para ser diferente, porque nasceu para decidir.
E ainda que com certeza esse não seja o final da história – ainda teremos um jogo duro e disputado em Curitiba – é sempre bom lembrar que, mesmo nas horas mais difíceis, mesmo quando tudo parece muito complicado, temos do nosso lado não apenas a qualidade e a inteligência de Bruno Henrique, mas também a narrativa de um jogador que, além de craque, nasceu com vocação para herói.
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