Após meses de pressão pública do Flamengo contra o negócio, a Lagardère anunciou oficialmente hoje a desistência da compra da concessão do Maracanã, alegando “insegurança jurídica” — o mesmo motivo citado pela GL Events, que tinha o apoio rubro-negro, para desistir do processo em março.
Com a desistência das duas únicas empresas interessadas e habilitadas para comprar a concessão, o governo não terá outro caminho a não ser realizar uma nova licitação para a administração do estádio, já que a Odebrecht já manifestou não ter interesse em cumprir o contrato até o fim — isso independentemente de todas as investigações que apontam que o repasse do estádio foi direcionado e fraudulento.
O governo encomendou no ano passado à FGV um estudo para um novo modelo econômico para a concessão, já que quando ela foi realizada em 2013 a previsão era de que o consórcio vencedor poderia demolir o estádio de atletismo Célio de Barros, o parque aquático Julio Delamare e a Escola Municipal Friedenreich para construir um centro comercial no local.
A expectativa é que desta vez os clubes possam participar da licitação. O plano do Flamengo é assumir sozinho a gestão do estádio e alugá-lo para outros clubes que queiram jogar lá, notadamente o Fluminense. O tricolor defendia a venda da concessão para a manutenção de um contrato que considerava vantajoso — embora um aditivo assinado no ano passado estivesse fazendo o clube ter prejuízo nas partidas.
Segundo o jornalista Rodrigo Mattos, do UOL, outra opção que voltou à mesa é a municipalização do estádio e posterior parceria com os clubes para administrá-lo. O prefeito Marcelo Crivella encomendou, no primeiro dia do seu governo, um estudo sobre a possibilidade, mas na ocasião o governo rejeitou e prometeu resolver logo a questão da transferência da concessão — o que não aconteceu até hoje. Segundo Mattos, Crivella e o governador Luiz Fernando Pezão teriam voltado a conversar sobre o assunto, e o tema também estaria sido discutido nas conversas entre a prefeitura e o Flamengo, que neste sábado realizam uma ação social conjunta com a arrecadação de alimentos para restaurantes populares do Rio com a renda da bilheteria do jogo contra o Atlético-MG, na estreia do Brasileiro.
O anúncio da desistência da compra da concessão não significa que a Lagardère — sob cuja administração o Flamengo já afirmou reiteradas vezes que não mandará jogos no Maracanã — tenha desistido totalmente de ter o estádio. A empresa estaria estudando recorrer à Justiça para obter a concessão na condição de segunda colocada no processo licitatório de 2013 — em parceria com a OAS, atualmente sob recuperação judicial. Ela também pode vir a participar da nova licitação caso ela seja confirmada.
Enquanto continua a indefinição, o Flamengo continua jogando no estádio mediante acordos pontuais com a Odebrecht, como aconteceu ontem contra o Atlético-GO e acontecerá no sábado contra o Atlético-MG — desta vez com intermediação da Prefeitura do Rio de Janeiro.