Cobrado por conselheiros pelo péssimo início de ano do futebol do Flamengo, o presidente Rodolfo Landim explicou as decisões de manter Marcos Braz, demitir Vitor Pereira e contratar Jorge Sampaoli. Na resposta, aproveitou para alfinetar Jorge Jesus, que mais uma vez se recusou a voltar ao Flamengo.
A fala de Landim veio após um momento de constrangimento no final da reunião do Conselho Deliberativo do clube nesta terça-feira. Um conselheiro cobrou a demissão de Braz e demais dirigentes do Futebol e foi aclamado pelo plenário. Landim não respondeu.
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Segundo informações obtidas pelo MRN com pessoas que estavam presentes, o conselheiro lembrou que desde 2019 o Flamengo já teve 9 técnicos e gastou R$ 37 milhões com rescisão de contratos. O conselheiro questionou se isso significa que todos os técnicos são incompetentes “ou incompetente é quem os contrata”.
Após a fala do conselheiro, boa parte do plenário aplaudiu a fala e gritou “Fora Braz”, enquanto Landim permanecia em silêncio. Os questionamentos foram feitos no fim da reunião na qual o balanço de 2022 foi aprovado por unanimidade e o projeto “Gávea Século XXI” foi apresentado aos conselheiros.
Após outros conselheiros insistirem na crítica – um deles lembrou fala de Landim ao jornalista Benjamin Back na campanha de 2018, ressaltando que se algo desse errado no Flamengo a culpa era do presidente Landim resolveu dar satisfações.
O MRN teve acesso à fala de cerca de 15 minutos de Landim aos conselheiros. Leia abaixo os principais trechos:
‘Ganhamos duas Libertadores com essa diretoria de futebol’
Eu estou aqui há quatro anos e eu sei que a maior paixão que envolve a gente é o futebol. Acho que não custa lembrar o resultado que a gente vem tendo nos Esportes Olímpicos do clube, o resultado que a gente vem dando no Fla Gávea, mas eu sinto que é isso mesmo, que o futebol é apaixonante. E no futebol a gente tem momentos bons e momentos ruins, isso acontece mesmo, é fruto desse esporte.
Quando eu faço o balanço da equipe que trabalha lá no futebol – e isso me foi cobrado, a avaliação do futebol-, eu vejo que até eu entrar no Flamengo, o maior título que a gente tem no futebol sul-americano é a Taça Libertadores da América. Eu acho que era o sonho de todos nós, torcida e tudo. Até pouco tempo atrás a gente cantava no Maracanã: ‘Libertadores, qualquer dia tô aí’. Era nosso sonho participar de uma Libertadores!
Quando eu assumi o clube, o Flamengo tinha 59 anos de História de Libertadores e tinha disputado uma final. Nos quatro anos que eu estive aqui, com essa diretoria de futebol do Flamengo, que está sendo tão criticada no presente, que já foi criticada em outros momentos de altos e baixos que sempre existem no futebol, nós disputamos três finais de Libertadores e ganhamos duas.
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Ou seja, em 59 anos nós tínhamos disputado uma final, em quatro anos nós disputamos três, do campeonato que é o campeonato mais importante. E pasmem: nós somos os campeões da Libertadores hoje. Nós somos o campeões sul-americanos.
Desde 1971, quando foi criado o Campeonato Brasileiro, até 2018, quase 50 anos, a gente tinha o orgulho muito grande de ter sido hexacampeão brasileiro. Com essa diretoria que está aí, o Flamengo disputou quatro Campeonatos Brasileiros, ganhou dois e chegou um em segundo lugar.
Fazendo uma análise estatística eu acho que a gente não foi tão mal assim. Se a gente pegar o Campeonato Carioca, esse a gente teve mais, mas tínhamos sei lá, uns 30 e poucos campeonatos em 110 anos de História do clube… Nós disputamos cinco, e ganhamos três, 60% deles.
‘Jorge Jesus deve agradecer mais ao Flamengo do que nós a ele’
Vem tendo por exemplo mais recentemente esse sentimento de trazer o Jorge Jesus de volta pro Flamengo. Eu acho que eu recebi uns 600 WhatsApps pra trazer o Jorge Jesus de volta. Pouca gente sabe que não foi possível porque ele não podia vir. Ele está disputando o campeonato dele, que termina dia 28 (de maio), eu conversei pessoalmente por telefone com ele, não tem a menor chance de poder vir antes do campeonato acabar.
E mais: ele está disputando uma semifinal de Copa da Turquia que ainda não tem data marcada e deve ser marcada pra depois de 28 de maio, e ele certamente vai passar porque vai jogar com o time que é 12º colocado do Campeonato da Turquia, que é o Sivaspor. Certamente vai passar, então não tem a menor hipótese de ele poder vir.
E eu até conversei com ele pra sondar sobre a possibilidade de ele poder vir, afinal de contas, quando ele quis sair do Flamengo ele saiu, não esperou terminar campeonato nenhum, ele saiu no dia seguinte, e ele poderia também querer sair de lá e vir pra cá se ele tivesse essa vontade toda, esse amor todo pelo Flamengo. Mas é óbvio que ele também tem lá que fazer as contas dele, fazer as histórias dele, e não era isso que ele queria.
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Eu tenho um respeito muito grande pelo Jorge Jesus, eu agradeço por ele ter trabalhado aqui, mas eu acho que ele deve agradecer ao Flamengo mais do que nós agradecemos a ele, por tudo que a gente proporcionou na carreira dele também. Acho que a gente continuou dando certo mesmo quando ele saiu e acho que ele não teve o mesmo sucesso depois que saiu daqui.
‘A responsabilidade principal dentro do clube é minha’
Nós fomos campeões brasileiros, da Supercopa, com o Ceni. Disputamos uma final da Libertadores e perdemos um jogo em que a gente estava jogando melhor, quando um jogador nosso acabou falhando numa jogada já na prorrogação, com o Renato Gaúcho.
Nós fomos de novo campeões da Libertadores com o Dorival. E com a mesma equipe de dirigentes do futebol que nós temos hoje lá. E dizem: ‘as mudanças precisam ser feitas, os jogadores precisam ser modificados quando eles não estão dando certo’. Nós ganhamos a Libertadores em 2019 e tivemos 15 jogadores em campo naquela final. E ganhamos a Libertadores em outubro do ano passado e tivemos 14 jogadores na final.
E só 4 jogadores que jogaram em 2022 participaram da final de 2019. Então como não teve mudança? Claro que teve mudança. Teve mudança de técnico, de jogador, e a gente ganhou de novo. É óbvio que quando a coisa não vai bem a gente tem que tomar decisão, você (conselheiro) falou que eu digo que a responsabilidade vem de cima. E é minha mesmo.
A responsabilidade principal dentro desse clube é minha e ela é indelegável. Só que na minha avaliação, que sou presidente do clube, que fui eleito pra ficar aqui três anos, eu vou dizer pra vocês: eu escuto todo mundo, ouço as opiniões de todo mundo, eu tenho coração aberto aqui porque sei que todos que estão participando são rubro-negros como eu e são apaixonados pelo clube e querem o melhor do Flamengo como eu, mas a decisão final é minha.
‘Eu não acho o Marcos Braz bom, acho ele ótimo’
Até que me provem o contrário, o Marcos Braz, de todas as pessoas que eu conheci e que conhecem futebol aqui no Flamengo, se não é o sujeito mais qualificado, é um dos mais qualificados. Ele é uma pessoa da minha confiança e eu acho ele um excelente diretor de futebol.
Se a gente tivesse que pagar por um profissional no mercado, a gente teria que pagar muito dinheiro para ter um profissional qualificado como ele. E ele é um sujeito que defende o Flamengo com um amor incrível, uma dedicação incrível. Quando eu olho pro Marquinho e quando eu olho pra vários dos vice-presidentes que estão aqui, que estão num estágio de vida que permite a eles se dedicarem ao clube, se entregarem ao clube, pra quê, levando absolutamente nada, nenhum centavo.
Até porque o Marcos tem a vida dele absolutamente resolvida. A vida dele tá bem resolvida, assim como a minha também está, e de vários outros também. Poder contar com a ajuda dele para mim é uma coisa muito boa. Ele é um cara que conhece muito o ambiente do futebol, do vestiário, aquela linguagem do boleiro.
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Eu aproveito até pra falar isso publicamente, porque toda hora vem essa turma falar: “Tira o Marcos Braz, tira o Marcos Braz”. Por que eu vou tirar o Marcos Braz, cara? Eu não acho ele bom não, acho ele ótimo. E credito em boa parte o sucesso que a gente teve – e com todos os insucessos, que vão acontecer, porque não existe clube que ganha todos os campeonatos.
Cobrança
A gente não pode esquecer que tem um monte de outros clubes disputando também. A gente às vezes acha que o Flamengo disputa sozinho, que tem que ganhar tudo. Não é não. Tem mais 20 outros clubes, no caso da Libertadores tem 40 outros clubes disputando com a gente o campeonato. E a gente acha que se a gente não ganhou é um insucesso.
E eu gosto disso, porque esse tipo de cobrança que os rubro-negros fazem em cima da administração do Flamengo é muito boa. Porque ela é a demonstração de, como diz nosso filósofo Bruno Henrique, nós estamos de fato em outro patamar. Porque aqui a gente comemorava fazer 45 pontos pra não cair, até pouco tempo atrás.
Eu acho ótimo que todo mundo esteja cobrando, querendo melhorias, porque é isso mesmo que a gente precisa fazer. Trabalhar sempre pra fazer melhor. Mas é do futebol a gente às vezes ganhar e às vezes perder. E quando a gente perde e a gente entende que a coisa não tá dando certo, a gente faz as mudanças, como nós já fizemos várias e fizemos mais uma agora.
‘A gente não ia deixar uma equipe no valor do Flamengo com o Mário Jorge’
Nunca foi o Mário Jorge, a gente respeita e gosta muito dele, é um técnico que trabalha na base. Mas ele era um técnico interino. Durante um período, e isso estava muito claro, que a gente ia trocar, a gente não ia deixar uma equipe no valor do Flamengo com o Mário Jorge.
‘No final do ano a gente vai estar comemorando mais alguns campeonatos’
Eu vi indignações semelhantes a essa no final de 2020, quando nós estávamos 8 pontos atrás no Campeonato Brasileiro no início de janeiro, e a gente foi lá e ganhou o Campeonato Brasileiro. Eu vi isso no meio do ano passado, quando nós fomos lá, fizemos as modificações que tínhamos que fazer, e ganhamos a Copa do Brasil, e ganhamos a Libertadores.
As coisas não deram certo no início do ano? Nós estamos fazendo as modificações que a gente julga que foram necessárias e acreditamos muito na qualidade do trabalho que vai ser realizado e que nós vamos reverter o quadro. Eu acredito muito no trabalho da equipe que está lá e não vejo razão para mudar.
Eu acompanho de perto o trabalho deles e volto a dizer, se existe um responsável principal por isso, não é o Marcos Braz, não é o Bruno (Spindel) sou eu. E a minha decisão é que eles vão continuar lá, vão continuar trabalhando do jeito que estão trabalhando e acredito muito que no final do ano a gente vai estar abraçado comemorando mais alguns campeonatos.