Mauro Beting lamenta ano frustrante do Flamengo diante de tanto investimento sem títulos de expressão mas exalta ascensão dos garotos da base
Foi num 13 de dezembro que o maior time que vi jogar no Brasil ganhou do Liverpool no Japão como se fosse brincadeira de criança. E foi há 36 anos.
Foi num 13 de dezembro que o time com nominalmente os melhores jogadores juntos possíveis ganhou um campeonato “organizado” como se fosse brincadeira de adulto. E foi há 30 anos.
No mesmo Maracanã onde neste 13 de dezembro o Rey de Copas Independiente foi novamente coroado. Com Meza se virando muito bem em campo até ser derrubado infantilmente para o niño Barco empatar ainda no primeiro tempo. Logo depois do gol de Paquetá.
O menino maluquinho pelo Mengo que abriu o placar na noite de festa e loucura no bom sentido. Não o nonsense bárbaro da madrugada não dormida, dos gases espargidos pela polícia que tem tanta coisa a fazer que não consegue também porque estúpidos entopem as ruas com a bobagem entorpecida da intolerância torcedora.
A baixaria no hotel até a entrada da decisão não pode conspurcar o que se viu em campo. Um bom jogo. Quase sempre leal. Quase sempre com o Flamengo com mais bola como tinha de ser. Criando mais chances como era necessário acontecer. Mas sem conseguir nem mesmo a vantagem mínima para mais 30 minutos de bola correndo. Quem sabe mais pênaltis sem Muralha. Mas tudo isso com quase mais 30 jogos na temporada que o rival. Isso pesa.
Em 1981 era diferente tudo. O Flamengo jogava direto. E jogava mais que todos. Em 21 dias ganhou a Libertadores, RJ-81 e Mundial. Jogando mais do que correndo. Agora o mundo mais corre que joga. E nem sempre consegue na correria.
Para tanto investimento o 2017 acabou sendo mais frustrante que ruim. Libertadores veio pelo BR-17. Estadual tem caneco na galeria. Copa do Brasil perdida nos pênaltis. Sul-Americana (consolação pela eliminação prematura na Libertadores) ficou por pelo menos um gol.
E gol não dos tantos medalhões comprados a peso de Flamengo. Veio pela canhota afiada de Paquetá. Como os gols de Vizeu foram importantes. O pênalti de César em Barranquilla. O talento em desenvolvimento de Vinicius Júnior. Tudo da base. Boa base de tudo. Não tem Leandro, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Tita, Zico e Nunes feitos na Gávea como em 1981. Zé Carlos, Leandro, Leonardo, Andrade, Ailton, Zinho e Zico como em 1987 também Made in Flamengo.
Mas tem em casa quem não precisa ser comprado no mercado. Vai ter mais Flamengo em 2018. Frustra como foi decepcionante também em 2016. Mas o caminho é esse.
Mauro Beting, 51, não é Flamengo. Mas foi um pouco por Zico e em nome do melhor time que viu na vida (o Flamengo de 1981-82), que inspirou o melhor Brasil pelo qual torceu (o de 1982). Comenta futebol no UOL, Esporte Interativo e Jovem Pan. Diretor de documentários esportivos, escreveu 16 livros. Curador do Museu da Seleção e do Museu Pelé. Desde 2010 é comentarista do videogame PES. Desde 2017 corneta por aqui. Siga-o no Twitter: @Mauro_Beting.
Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo