Pep Guardiola assombrou o mundo em 2009, conquistando nada menos que seis títulos à frente da sua primeira equipe profissional. A missão futebolística mais importante do mundo nos cinco anos seguintes foi descobrir como parar aquele time do Barcelona. A seleção espanhola, com uma geração talentosa que já havia vencido a Euro em 2008, se adaptou ao estilo de Pep e também ganhou a Copa do Mundo em 2010 e a Euro em 2012.
É impossível lembrar daquele momento e não pensar em trocas constantes de passes curtos pelo meio, na manutenção da posse a todo custo, na pressão imediata após a perda da bola… O Barcelona jogava assim e, enquanto se procurava o antídoto, outras centenas de times tentavam imitar o jogo catalão. Guardiola revolucionou o futebol mundial com algumas ideias.
Não existe um jeito certo de se jogar futebol. Há tantas estratégias possíveis quanto treinadores no mundo. A evolução do jogo, inclusive, caminha de maneira cíclica: alguém descobre um novo jeito de jogar, outros copiam, aprende-se a contornar a nova ideia, todo mundo passa a jogar meio parecido, até que alguém descubra um jeito ainda mais novo de jogar, inclusive voltando a algum conceito que era usado antes.
Foi assim com a linha de três zagueiros: ela se tornou útil no fim dos anos 80, se esgotou no início dos anos 2000 porque todo mundo já sabia contrabalancear, morreu completamente e agora volta justamente porque ninguém mais jogava assim.
Uma geração inteira cresceu ouvindo que “os pontas morreram”, mas olha eles aí, mais importantes que nunca.
Essa dinâmica se repete através de alguns poucos inovadores, que partem na dianteira e testam novas ideias, enquanto um monte de outros times correm atrás.
Mas todo time memorável, independente de ser fruto de uma inovação ou de um antídoto bem feito, tem uma ideia forte por trás. Todo time que joga bonito e todo time que vence sabe muito bem o que está fazendo no campo. Todos têm um estilo, seja ele qual for.
O que é a tática, então? E como um plano de jogo, uma ideia, pode mudar os rumos do futebol?
Arrigo Sacchi, uma das grandes mentes futeboleiras, diz que o objetivo da tática é combinar o potencial de cada um dos jogadores de forma que o todo seja maior que a soma de cada indivíduo. É o que ele chama de fator multiplicador.
É fácil enxergar isso na prática. O Real Madrid de Zidane faz com que os jogadores de meio-campo joguem juntos de forma tão fluida que dão a impressão de serem somente um único super-jogador, combinando a precisão de Kroos, a dinâmica de Modric e a energia de Casemiro. Parece que jogam por telepatia, e cada um potencializa as qualidades dos outros. A combinação dos três “volantes” merengues é muito maior do que a simples soma das suas individualidades.
O meio-campo do Flamengo é exatamente o oposto: cada um por si e a torcida por todos.
Aliás, o Flamengo de maneira geral é assim. As jogadas são construídas exclusivamente em cima da habilidade individual de cada jogador. Os gols até podem sair, mas nunca por conta de um efeito multiplicador. São 90 minutos aguardando que um ou outro jogador se sobressaia uma ou outra vez: Rever subindo no quinto andar para testar no ângulo, Diego acertando dois bons chutes contra Chapecoense e Bahia, Everton Ribeiro acertando um drible aqui e ali, Guerrero conseguindo um bom pivô…
O elenco rubro-negro tem qualidades individuais, portanto é natural que aconteçam jogadas perigosas. Mas se a tática não ajuda a destacar essas qualidades, o time fica morno, quase estéril.
Tite disse que não convocou Diego pelos gols, que “são circunstanciais”. No Flamengo, quase toda jogada de ataque é meramente circunstancial.
Afinal, qual é a proposta de jogo desse time?
Rueda gosta de falar no imponderável do futebol, mas imponderável é o Flamengo com a bola. A verdade é que esse é um time sem proposta. O que nos falta é uma ideia. Sem ela, somos um time aleatório. E quem quer vencer, conquistar títulos e fazer história, não fica testando a sorte.
Téo Ferraz Benjamin escreve as análises táticas do MRN. Siga-o no Twitter: @teofb
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