Por Pedro Henrique Neschling – Twitter: @PedroNeschling
Estão deixando a gente sonhar. Mas calma. Tudo bem que 2019 começou do jeito que gostamos: muito difícil para quem torce contra o Flamengo. Toda a insegurança e incerteza que pairava no Maior do Mundo e redondezas no fim do ano passado por conta da eleição para Presidente e aquela inconveniente falta de títulos parece ser coisa de um passado longínquo.
Rodolfo Landim é o novo presidente, inaugurando uma nova era pós-Bandeira de Mello, o homem que foi fundamental para a história do Flamengo — provando ser possível administrar o clube de maior torcida do país de forma profissional e competente — mas, que se tudo der certo, jamais teremos saudade: para tal, basta a austeridade administrativa ser mantida e a incompetência na gestão de futebol corrigida.
Landim começou meio esquisito. Desde o papo torto de trazer Felipe Mello — que graças a São Flamengo logo morreu — até uma artes desastradas na sempre eficiente comunicação do clube — o que caralhos era aquela cabeça explodindo do Abel no Twitter?!
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Mas logo a coisa melhorou. Deram uma ideia no estagiário da arte e nosso VP de futebol Marco Braz chocou o Mundo da Bola™ ao tirar De Arrascaeta do Cruzeiro, segurar Gabigol no Brasil, comprar Rodrigo Caio do São Paulo, arrastar Bruno Henrique do Santos e garantir que continua com “gelo no sangue” para novas contratações.
“Viu, Pedro, como a galera que tava lá era incompetente?”. Não, não vi nada — não por isso. O que rola é que a administração anterior era tão competente que deixou a casa em ordem a ponto dos recém chegados terem dinheiro em caixa suficiente para fazer essa bagunça. Maktub, estava escrito: 2019 é um ano de ouro pras finanças do Flamengo. O começo de uma nova era.
É evidente que a gente gostou. É lógico que estamos empolgados. É bom demais ver o Flamengo comprar jogadores jovens, selecionáveis, com imenso potencial de retorno técnico além de financeiro em futuras revendas ao invés de refugos de times C da Europa ou “apostas” vindas de Ipatinga — nada contra a encantadora Capital do Aço, por sinal.
No entanto, com todo respeito ao Sr. Braz, ao Sr. Landim e seu comitê de futebol, fazer festa com dinheiro no banco é fácil. Mais que isso: gastar dinheiro é mole. Duro é saber se o investimento foi correto.
Confesso que sigo um pouco preocupado. Há mais de uma temporada que é cristalino que sem a contratação de novos laterais — sobretudo na direita — esse time simplesmente não vai funcionar. Não adianta ter Diego Alves saindo seguro com a bola no pé para Rodrigo Caio elegantemente passar para Diego abrir de trivela para Arrascaeta dar um drible desconcertante no marcador e lançar Pará na linha de fundo que inevitavelmente vai cruzar errado. Sendo direto: pode rejuvenescer o Zico que com Pará na lateral-direita a gente não ganha uma Libertadores.
Também acho estranho um time gastar 100 milhões e ter Arão como titular absoluto. Na minha cabeça, Ramires ou Renato Augusto elevariam nossa equipe a outro patamar, mais inclusive que os caras que chegaram. Tá, não sei se um dos dois que citei viria nem quanto custaria. Mas tenho certeza que existem no mercado opções que cumpririam essa função com muito mais competência que nosso carismático e irregular camisa 5.
Há ainda a deficiência de um zagueiro experiente que imponha respeito aos adversários. Não temos ninguém no elenco com esse perfil hoje. A boa notícia é que isso parece claro para a diretoria, que já investiu pesado sobre Dedé e Miranda. Espero que alguém desse naipe aporte logo.
Contudo, preciso confessar que começar o ano com um elenco encorpado e um técnico que ofereça confiança como Abel é uma novidade auspiciosa e está sim difícil segurar o otimismo.
Até “é campeão!” já gritamos e ainda não terminou nem janeiro. Ok, eu sei, foi na Florida Cup contra a equipe mista do Ajax. Mas foda-se. Não gostaria de ter que lembrar que a última vez que vencemos um torneio com times de outros países o ano era 1999. Peço desculpas, mas essa é a dura verdade.
Vamos para a terceira Libertadores seguida — a primeira vez que isso acontece desde a era Zico — e essa certamente é a que chegamos mais fortes. O atual elenco já tem rodagem e experiência, o comandante tem estrela. Como eu disse, estão deixando a gente sonhar. Mas calma.
Pedro Henrique Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1982, já com uma camisa do Flamengo pendurada na porta do quarto na maternidade. Desde que estreou profissionalmente em 2001, alterna-se nas funções de ator, diretor, roteirista e dramaturgo em peças, filmes, novelas e seriados. É autor dos romances “Gigantes” e “Supernormal”.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vidal / Flamengo
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